A Igreja Católica às vezes se nega a admitir os abusos de crianças por clérigos, mas precisa encarar o escândalo, disse na sexta-feira a principal autoridade eclesiástica para essa questão.

Em entrevista à TV Reuters, o monsenhor Charles Scicluna disse esperar que um importante simpósio sobre a pedofilia a ser realizado na semana que vem em Roma vai encorajar os líderes da Igreja no mundo todo a escutarem mais as vítimas.

“A negação é uma forma muito primitiva de lidar com coisas tristes”, disse Scicluna, cujo título formal é o de promotor de Justiça do Vaticano.

“Não acho que a negativa jamais seja uma boa resposta. Não vou negar que estejamos em estado de negação. Acho que as pessoas sabem disso. Mas as pessoas precisam saber que temos de ir adiante em relação a esse mecanismo tão primitivo de lidar com as coisas. Ele não funciona.”

O simpósio da semana que vem vai durar quatro dias, na Pontifícia Universidade Gregoriana Jesuíta, sob o título de “Rumo à Cura e à Renovação”. O evento reunirá cerca de 200 pessoas, incluindo bispos, líderes de outras denominações, vítimas de abusos e psicólogos.

Os participantes vão discutir como a Igreja pode em nível mundial se tornar mais consciente do problema, assumindo um compromisso de ouvir as vítimas e evitar futuros casos de abuso. Scicluna disse que o simpósio vai salientar que isso “não só é pecado como é crime”.

“Acho que partilhar da mesma dor, sofrimento, raiva e às vezes frustração é também um passo muito importante ao assumir uma determinada perspectiva e uma determinada posição, o que também pode ser um exemplo bom e benéfico para outros.”

O Vaticano há anos tenta controlar o dano causado pelos casos de pedofilia em diversos países, principalmente Estados Unidos e Europa.

Grupos que representam as vítimas dizem que a Igreja precisaria se empenhar em admitir o passado, quando padres pedófilos eram transferidos de paróquia em paróquia em vez de serem entregues às autoridades. Eles cobram também mais providências para evitar que casos como esses se repitam.

No simpósio, a Igreja irá divulgar seus planos para criar na Internet um centro de aprendizado digital que ajude a proteger as crianças e as vítimas de assédio sexual.

O site terá colaboração de instituições médicas e universidades, com o objetivo de elaborar uma resposta permanente aos problemas de abuso sexual.

Será nos idiomas alemão, inglês, francês, espanhol e italiano, e se destina a ajudar bispos e outros funcionários eclesiásticos a implementarem as diretrizes do Vaticano para a proteção às crianças.

[b]Fonte: Estadão[/b]

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