Em entrevista exclusiva ao Guiame, Jean Carllos [tecladista] falou sobre este novo trabalho e abriu o coração para compartilhar sobre a superação de diversas dificuldades enfrentadas pelos integrantes da banda nos últimos anos.
“A maior virtude do cristão não é mascarar e sim, ser transparente”. A frase dita pelo tecladista e integrante do Oficina G3, Jean Carllos pode expressar bem o conceito que o grupo quis passar neste novo DVD da banda, ‘Histórias e Bicicletas – O Filme’ – gravado em Londres.
Em entrevista exclusiva ao Guiame, o músico representou o grupo, falando sobre este novo trabalho, algumas ‘supresas’ que foram surgindo pelo caminho e abriu o coração para compartilhar sobre a superação de diversas dificuldades enfrentadas pelos integrantes da banda nos últimos anos.
Confira a entrevista na íntegra:
[b]Portal Guiame: As músicas que aparecem neste novo DVD foram gravadas em sessões ao vivo e até mesmo em locais não muito ‘convencionais’ – o que ainda não é exatamente algo tão comum para o público nacional. Que tipo de esforço estas gravações exigiram do grupo e da equipe?
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Oficina G3: Na verdade são só dois locais, mesmo. O que a gente fez a “live session” foi no estúdio que a gente gravou, de fato. Mas quando a gente grava tem que ter outra concepção. Então a gente teve que arrumar o local onde o Mauro gravou… Como a gente gravou com todo mundo junto, teve uma preocupação de acústica; tinha um piano no meio da sala que foi colocado na melhor posição para reverberar bem; a batera, embora a sala seja grande, tem umas divisórias, então a gente teve que colocar as divisórias da batera, porque senão vazava dos microfones. Então, quando a gente gravou as “live sessions”, foi no mesmo estúdio, a gente só tirou as divisórias, a “coisa feia” – que o pessoal também consegue enxergar no DVD – e colocou todo uma roupagem legal. Então ficou bem bacana.
A outra locação foi no “On the roof” [terraço], que é onde todo mundo faz. Sobe em um telhado lá, em cima de um prédio e toca. Subimos lá em cima de um prédio e gravamos 4 ou 5 músicas sob o pôr do sol de Londres. Foi uma experiência única, Deus é bom e deu essa graça única para a gente. Conhecer e aprender e trazer essa sonoridade diferente para esse CD.
[b]Guiame: Como surgiu toda essa ideia de gravar na Europa? Vocês já vinham pensando nisso há um tempo ou foi algo, de certa forma, inesperado?
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Oficina G3: Quando a gente decidiu ir para lá [Londres] para gravar – o que foi uma coisa de última hora, também – a gente estava sem produtor, começou a produzir o CD por conta própria e já tinha praticamente terminado de produzir as 12 músicas. A gente pensou: ‘Meu, talvez a gente não precise de produtor nesse DVD. Vamos arriscar’. Aí começamos a conjecturar onde a gente gravaria. Nessa decidir onde a gente gravaria, nós temos amigos como o Leonardo Gonçalves, que é uma pessoa super ‘de casa’ e extremamente musical, super preocupado com essa questão da qualidade musical. Então ele sugeriu: ‘Por que vocês não gravam fora do país?’ e a gente pensou em vários pontos como orçamento, que poderia não caber.
Ele tem os pais que moram na Alemanha, por exemplo, e tem toda uma condição diferenciada de conhecer, ter contatos… Há muito tempo que ele já grava as cordas em Praga [República Tcheca]… Então ele é muito fissurado em qualidade e não mede esforços para fazer as coisas onde o orçamento permitir. Ele disse: “Cara, não é tão impossível”. Aí a gente pegou alguns orçamentos de alguns estúdios por lá e viu que era possível, sim. A diferença ficou mais entre a questão de hospedagem e passagem. Como a gente conseguiu um esquema bom, lá fomos nós.
[b]Guiame: Vocês já confessaram que inclusão das bicicletas no nome do CD (e depois, no DVD) não havia sido algo previamente planejado. Quando vocês filmavam todas aquelas cenas, andando de bicicleta pelas ruas de Londres, imaginavam que aquilo poderia fazer parte de um projeto, como um DVD?
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Oficina G3: A loucura toda desse lance das bicicletas foi que como a gente estava em Londres, já pensou: “Cara, a gente tem que gravar isso”. Se vai sair alguma coisa ou se não vai sair, não interessa. O que interessa é a experiência nossa, um registro de tudo. Foi uma galera com a gente, uns amigos do Hugo [diretor do DVD] e tudo que a gente fazia, eles gravavam. [img align=right width=300]http://api.ning.com/files/yTYaTocs7b*Et5E*Io5Yd4CZ-YmkPmdxkaI0TtEda54FxZIgxaVUNMBYvd8bmgj4DRhGZ8-ibReBCFLXHr8EY9uKy8ReT4rh/Oficina.bmp[/img]O lance das bicicletas aconteceu porque a gente chegou lá e tinha um carro só, nós éramos em cinco, ainda tinha equipamento, o carro era pequeno e, no primeiro dia que fomos conhecer o estúdio, ficamos igual sardinha na lata. Cinco caras dentro de um carro, mais um motora e mais dois caras da equipe atrás, enfim… foi muito apertado.
Perto do estúdio tinha uma parada que hoje já tem aqui no Brasil, mas quando a gente saiu, em 2012 não tinha, que são aquelas bicicletas para alugar. Quando a gente viu isso, pensou: “Ah! Bicicleta na cabeça!”. Já viu quanto tempo levava do hotel até o estúdio e não deu outra. Em Londres, geralmente, perto de todas as estações de metrô tem uma parada dessa. Perto de onde a gente estava hospedado tinha uma parada com essas bicicletas e o caminho até o estúdio era algo como 20 minutinhos de bike. O próprio técnico que trabalhou com a gente no estúdio, o Richard ia trabalhar de bike. Então foi uma coisa que aconteceu. Enquanto a gente ia pedalando, o carro – que a equipe continuou usando – ia acompanhando a gente e filmando tudo. É o que está lá.
[b]Guiame: O DVD tem alcançado uma repercussão boa, o que tudo indica que o público compreendeu o conceito, a ideia que vocês queriam passar com este novo formato. Quando o material ainda estava sendo produzido, houve talvez um certo medo de que isto não acontecesse, de que as vendas não dessem certo?
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Oficina G3: Sendo bem honesto, a gente não tem medo de nada. Acho que um dos grandes diferenciais do G3 é esse: a gente faz o que dá na cabeça. A gente não tem a obrigação de fazer um CD exatamente como foi o ‘Depois da Guerra’ e agora, exatamente como foi o ‘Histórias e Bicicletas’, a gente faz o que dá na cabeça. Quando a gente decidiu regristrar isso tudo e viu depois que ficou um trabalho como uma videoteca, com imagens nesse formato, já pensou: ‘Vamos fazer. Se os caras vão entender ou não vão entender, não sei… Mas a gente vai fazer’.
Eu acho que é legal a galera ver os bastidores, a saudade [que a gente sente da família], ver as dificuldades, é legal compartilhar com a galera, aquilo que a gente viveu. Este foi o nosso maior intuito: trazer a galera mais para perto. Não queremos criar uma condição na qual nós somos os ‘artistas’… Não! é como se a gente dissesse: ‘Senta aqui com a gente! Sente só o que a gente viveu! Sente o que é ficar 15 dias longe de casa, em outro país, depois ficar mais 15 dias enfiados em um estúdio, produzindo’. É uma forma da gente mostrar para as pessoas que, mesmo fazendo aquilo que se ama, ainda existe um preço a ser pago. A gente arriscou, cara! E vai continuar arriscando, porque para nós, o que vale é isso: esse ‘feeling’ de fazer muitas vezes o que já foi feito, mas de uma forma diferente e ver como a galera recebe isso.
[b]Guiame: Este DVD tem um caráter mais introspectivo, trazendo não apenas música, mas também cenas em que vocês compartilham depoimentos e falam sobre sentimentos de vocês. Como surgiu a ideia de incluir isto no trabalho? Seria um ‘desabafo’ ou uma possibilidade de que o público se identificasse com isso tudo?
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Oficina G3: Cara, mais uma vez, sendo muito honesto: a gente é fruto do que a gente vive. De uns quatro anos para cá, nós do G3 fomos… não vou dizer ‘massacrados’, mas fomos extremamente machucados pela vida – não por ninguém especificamente – com a permissão de Deus. Hoje eu vejo desta forma. Nada acontece, nenhum fio de cabelo cai da nossa cabeça sem que Deus permita. Para mim, foi permissão de Deus e se Deus permitiu, foi para que Ele tratasse, cuidasse de tudo. A gente teve muitas perdas. O Mauro [vocalista] perdeu a esposa – vítima de uma doença terrível, que é o câncer – o Duca [baixista] se separou, eu [Jean] me separei… São situações que marcam muito a vida da gente, machucam muito. A gente escreve e passa nas músicas, exatamente isso: o que a gente está sentindo.
Acho que o cristão não é nenhum ‘super herói’. O ‘super herói’ aqui é Jesus. A gente é muito falho, a gente vacila, pisa na bola, erra muito, mas também tem vontade de acertar, de estar perto do Pai e precisa disto. O resultado disso é o que pessoal viu neste trabalho. O D.D.G. saiu de um jeito e o ‘Histórias’ saiu de outro jeito e por que ele saiu dessa forma? Porque, de fato, foi o momento que a gente estava vivendo. Foi um momento de perda, de dificuldade, de dor, mas também um momento de esperança, descanso, espera e é isso, cara. Sabe? Não é um desabafo ou um ‘recado para alguém’.. de forma alguma. É só como nós estamos, de fato.
A maior virtude do cristão não é mascarar e sim, ser transparente. Se está doendo, mostra que está doendo. Se está feliz, também mostra isto. Se está derrotado, também assume que está assim, porque é em Deus que a gente se fortifica, é nEle que a gente se fortalece, Ele é a razão de tudo. Quando eu assumo e me disponho a entender que não preciso ser nada além que filho dEle – mesmo cheio de problemas, de falhas, tentando acertar – aí as coisas ficam naturais. É isso! Este CD / DVD é fruto de uma situação que a gente viveu e como vai ser o próximo? Não sei, mas sei que vai ser fruto do que a gente também está vivenciando neste tempo.
[b]Fonte: Guia-me[/b]