Setenta e sete milhões de crianças no mundo continuam fora da escola, um número muito inferior ao de cinco anos atrás, mas ainda “inaceitável”, segundo o último relatório sobre a educação apresentado pelo Unicef e a Unesco, organismos da ONU para a infância e a educação.
Três quartos desse total de crianças sem escolarização vivem na África subsaariana e na Ásia meridional e ocidental. Entretanto, nessa última região o número caiu pela metade entre 1999 e 2004, especialmente devido aos progressos obtidos pela Índia.
“Quatro de cada 10 crianças que nascem no mundo em desenvolvimento crescem mergulhadas na pobreza, na desnutrição e sem poder ir à escola”, afirmou em Nova York o diretor-geral da Unesco, Koichiro Matsuura, na apresentação do estudo, que avalia o programa Educação Para Todos (EPT).
O relatório mostra um grande progresso na escolarização infantil, considerando que, entre 1999 e 2004, o número de crianças que não freqüentavam a escola caiu em 21 milhões, o que representa um avanço na direção dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da ONU.
A região em desenvolvimento com maior nível de crianças na pré-escola é a América Latina e o Caribe, com 62%, muito acima do Leste Asiático e do Pacífico, com 35%; do Sudoeste Asiático, com 32%; dos Estados árabes, com 16%, e da África subsaariana, com 12%.
As crianças que correm o maior risco de jamais freqüentar uma escola, ou de abandoná-la prematuramente, são as meninas e, especialmente, as que vivem em zonas rurais ou muito pobres.
Em média, uma criança nascida de uma mãe analfabeta tem duas vezes mais chances de não ser escolarizada do que aquelas cujas mães receberam alguma educação.
Na apresentação do relatório foi lida uma carta da primeira-dama americana, Laura Bush, que destacou as dificuldades que as famílias cujos membros não sabem ler têm para sobreviver.
“Se não têm capacidade de ler, os adultos não conseguem tomar decisões sábias e sensatas. Não conseguem ler as instruções de um remédio ou de uma lata de comida”, afirmou, acrescentando que um em cada cinco adultos do mundo não sabe ler, escrever ou realizar cálculos aritméticos elementares.
Se não forem realizados esforços para intensificar os programas de alfabetização de adultos, em 2015 a população mundial de analfabetos só terá diminuído em 100 milhões de pessoas, diz o relatório.
O texto defende que os Governos estabeleçam como prioridade agir na educação mais básica, especialmente nos grupos de crianças que normalmente teriam menos acesso à educação, como as portadoras de necessidades especiais e as soropositivas.
Um dos principais problemas é a falta de professores qualificados e motivados, aponta o estudo.
Só na África subsaariana, é necessário contratar entre 2,4 e 4 milhões de professores.
Tanto nessa região como na Ásia, o número de professores é muito pequeno para promover a escolarização das meninas e fazer com que estas permaneçam na escola.
Embora o relatório não aborde esta questão em profundidade, aponta o grave problema representado pelo trabalho infantil, uma das principais causas de afastamento das crianças em relação à escola.
O relatório constata que, apesar de o número de crianças e adolescentes que trabalham ter caído no mundo nos últimos anos, este ainda é de aproximadamente 218 milhões. Deste total, 75% são menores de 14 anos.
Muitas crianças e adolescentes ainda sofrem as piores formas de exploração, como o tráfico de pessoas, a servidão provocada por dívidas, a escravidão e a prostituição.
Fonte: EFE