A ONU exigiu nesta quarta-feira (5) que o Vaticano “remova imediatamente” todos os clérigos suspeitos ou que de fato praticaram abuso sexual contra crianças e que os entregue a autoridades civis.

Uma comissão de direitos humanos da ONU denunciou o Vaticano por adotar políticas que permitiram padres estuprar e molestar dezenas de milhares de crianças ao longo dos anos.

O Vaticano afirmou, em resposta, que irá submeter a “minuciosos estudos e análises aprofundadas” as acusações recebidas da ONU.

Em um relatório publicado nesta quarta-feira, a agência da ONU para os direitos das crianças disse que a Santa Sé também deve entregar seus arquivos sobre o abuso sexual de dezenas de milhares de crianças, para que culpados, bem como “os que ocultam seus crimes”, possam ser responsabilizados.

“O Comitê está seriamente preocupado que a Santa Sé ainda não reconheceu a extensão dos crimes cometidos, não tomou as medidas necessárias para lidar com casos de abuso sexual de crianças e para proteger as crianças, e adotou políticas e práticas que levaram à continuação do abuso e à impunidade dos agressores “, disse o relatório.

“A comissão criada pelo papa Francisco em dezembro deve investigar todos os casos de abuso sexual de crianças, “bem como a conduta da hierarquia católica em lidar com eles”, afirmou o relatório.

Padres pedófilos foram transferidos de paróquia ou para outros outros países “em uma tentativa de encobrir esses crimes”, acrescentou o documento.

“Devido a um código de silêncio imposto a todos os membros do clero, sob pena de excomunhão, os casos de abuso sexual de crianças quase nunca foram denunciados às autoridades policiais dos países onde tais crimes ocorreram”, disse o órgão da ONU.

Em uma sessão pública, no mês passado, o comitê indagou delegados do Vaticano para que revelassem o alcance do abuso sexual de menores durante décadas por padres católicos, em um caso que o papa Francisco chamou de “a vergonha da Igreja”.

A delegação da Santa Sé, respondendo a perguntas de um painel de direitos internacionais pela primeira vez desde que as primeiras denúncias surgiram há mais de duas décadas, negou as acusações de encobrimento do Vaticano e disse que tinha estabelecido regras claras para proteger as crianças dos padres pedófilos.

O comitê da ONU também criticou severamente a Santa Sé por suas atitudes em relação à homossexualidade, à recusa a aceitar métodos contraceptivos e o aborto e pediu ao Vaticano que reveja suas políticas para garantir os direitos das crianças e o acesso à saúde.

O órgão da ONU disse que a Igreja Católica ainda não tomou medidas para evitar a repetição de casos como o escândalo das lavanderias na Irlanda, onde meninas foram arbitrariamente colocadas em condições de trabalho forçado.

O comitê pediu uma investigação interna das lavanderias e instituições similares, de modo que aqueles que foram responsáveis possam ser julgados e que “a compensação integral do abuso seja paga às vítimas e suas famílias”.

[b]Vaticano diz que relatório da ONU quer interferir em doutrinas da Igreja[/b]

O Vaticano afirmou nesta quarta-feira que estudará minuciosamente as críticas publicadas no relatório das Nações Unidas do Comitê da ONU sobre os Direitos da criança, mas denunciou que “em alguns pontos” há uma “tentativa de interferir nas doutrinas da Igreja”.

O Comitê da ONU sobre os Direitos da Criança criticou hoje o Vaticano por nunca ter reconhecido “a amplitude dos crimes” de abuso sexual contra crianças por parte de sacerdotes, e acusou o Estado católico de adotar “políticas e práticas que levaram à continuação de abusos e à impunidade dos responsáveis”.

Em seu relatório sobre o cumprimento da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança por parte da Santa Sé, o Comitê também afirma que o Vaticano não tomou “as medidas necessárias” para atender estes casos e proteger aos menores.

Um comunicado do escritório de imprensa da Santa Sé diz que “tomou nota” do relatório e que será “submetido a um minucioso estudo e análise no plenário a respeito da Convenção nos diferentes âmbitos apresentados pelo Comitê, segundo o direito e a prática internacional, e levando em conta o debate público que se manteve em 16 de janeiro (na sede da ONU em Genebra)”.

O texto acrescenta que a Santa Sé “lamenta ver em alguns pontos” do relatório “uma tentativa de interferir nas doutrinas da Igreja Católica sobre a dignidade das pessoas e no exercício da liberdade religiosa”.

No breve comunicado, o Vaticano reitera “seu compromisso para a defesa e proteção dos Direitos da Criança, de acordo com os princípios promovidos pela Convenção e segundo os valores morales e religiosos oferecidos pela doutrina católica”.

Por sua vez, o porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, que está em Madri, disse após a publicação do relatório que o Vaticano enfrenta os casos de pedofilia na Igreja com uma “exigência de transparência” e “prova” disso é que nos próximos “dias ou semanas” explicará o funcionamento da comissão criada para prevení-los.

[b]Fonte: UOL e EFE[/b]

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