O celibato, obrigatório na Igreja Católica, ganhou ares de polêmica em Goiânia. De um lado o padre Osiel Luiz dos Santos, que mantém uma rotina de celebração mesmo sendo casado há 20 anos.

Do outro lado, o Tribunal Eclesiático da Igreja, que determinou a ilegalidade das pregações. A arquidiocese também divulgou uma nota para todas as igrejas determinando a obrigatoriedade de o comunicado ser afixado no painel de cada paróquia por três meses e lido em todas as missas durante três domingos consecutivos.

“Eu entendo que celibato é uma exigência muito mais econômica do que religiosa. A mulher não contamina o homem. Muito pelo contrário. Ela deixa o homem muito mais santo, muito mais forte”, avalia o padre na sala simples de uma casa localizada no Parque Amazônia, um bairro de classe média baixa de Goiânia.

A notícia de exposição de sua condição perante a igreja não assusta o padre, que além de ministrar casamentos e batizados, mantém algumas tradições típicas entre os líderes católicos. Ao receber a reportagem do UOL, ele estava com uma camisa de mangas longas simples, mas com o clégico (aquele tipo de gola especial dos padres). “Não temo. Por que não creio que esteja fazendo nada de errado. O que faço é honesto. Não engano ninguém”, ressalta o padre, de 62 anos.

Até o fim da década de 80, ele tinha o comando de uma paróquia na capital. Mas acabou se apaixonando por Cledma Maria de Castro, na época com 19 anos. “Não menti, não enganei. Fui ao arcebispo, contei a situação, entreguei a igreja. Ele me disse que me daria força e pediu que eu enviasse uma carta ao papa renunciando. Me recusei a fazer isso por acreditar que o casamento não inviabiliza o sacerdócio”, ressalta. Do casamento surgiram cinco filhas.

Apesar da situação em comum, ele defende o celibato, mas de uma maneira mais democrática. “Luto há mais de 20 anos pelo celibato opcional. Seria a solução para muitos dos escândalos que existem hoje na igreja. Por conta dessa imposição, muitos padres mantêm relacionamento às escondidas, às vezes com filhos. Quando a Igreja sabe, faz é piorar as coisas. O transfere de cidade, o isola em outro local”, avalia.

Apesar das idéias renovadoras com relação ao celibato, Osiel mantém tradições conservadoras quando o assunto é homossexualismo. “Não me sinto preparado, hoje, para celebrar uma união homossexual, por exemplo. Talvez um dia amadureça a esse ponto, mas na minha concepção ainda é de que essa prática vai contra a lei natural de Deus”.

Sobre a existência de padres homossexuais, ele até admite que seja proporcionada a ordenação, mas ressalta que, nesses casos, o celibato seria uma alternativa. “Sou contra a relação de homem com homem ou de mulher com mulher. Acho que pode ter padre gay, mas nesse caso precisa ser celibatário”, diz, e volta a criticar padres que usam a força e poder da igreja em casos extremos, como pedofilia. “Para mim, isso é uma doença. Precisa é de tratamento”.

Calmo e medindo cada palavra ele confessa ter sofrido muito ao longo das últimas décadas, mas garante que o que ele considera como pressão da igreja não mudará sua forma de trabalho. Inclusive, tem casamentos marcados para esse mês.

“Não fico surpreso. Não pude celebrar a minha última missa, porque queriam apedrejar a minha mulher. Mas o que alguns não entendem é que o sacramento não é da igreja, é de Jesus Cristo”. Ele fez questão de afirmar que não foi a igreja que o demitiu. “É vergonhoso o que estão dizendo. Eu me demiti da igreja. Mas me desliguei da igreja, não de Nosso Senhor”.

A reportagem do UOL entrou em contato com a Arquidiocese de Goiânia, mas a assessoria de imprensa informou que o pronunciamento seria feito apenas através de notas. Tanto para a imprensa como para a comunidade em geral. A seguir, a íntegra da nota.

Arquidiocese comunica demissão de ordens de Osiel Luiz dos Santos

A Arquidiocese de Goiânia comunica demissão de ordens de Osiel Luiz dos Santos. Ele foi suspenso do ministério sacerdotal desde que se casou, em 27 de setembro de 1988. Ainda assim, de forma canonicamente ilegal, insiste em exercer funções como celebrar a missa, administrar sacramentos, o que ocorre de forma ilícita e até inválida.

Foi instaurado, pela Arquidiocese de Goiânia, um processo e o tribunal Eclesiástico que analisou, investigou, julgou e pronunciou a sentença imputando-lhe penda de demissão judicial das ordens. O comunicado oficial sobre essa demissão será lido em todas as capelas, comunidades e paróquias da Arquidiocese durante as missas nos próximos três domingos, bem como será afixado no painel de avisos de um desses lugares.

Segue o a integra do comunicado:

Aos Párocos, Administradores paroquiais, Vigários paroquiais e Fiéis todos da Arquidiocese de Goiânia

Queridos irmãos,

em 6 de maio de 2008, Osiel Luiz dos Santos, padre suspenso do ministério sacerdotal que continua a exercitar, foi demitido das Ordens. Ele é absolutamente impedido de celebrar a Missa e administrar qualquer sacramento.

A justiça da Igreja, diante do arbitrário, ilegítimo e ilícito comportamento de Osiel Luiz dos Santos de persistente escândalo e de gravíssima ofensa a Deus, quer exercer responsavelmente sua função pastoral: formação das consciências, ação paciente e firme em tutela da santidade dos sacramentos, em defesa da moralidade cristã e pela reta formação dos fiéis.

Portanto, confirmando que é gravemente ilegítimo e injusto que Osiel Luiz dos Santos engane tanto quem recebe o sacramento como a comunidade a respeito do mesmo sacramento,

Publicamos em todas as Paróquias da Arquidiocese de Goiânia esta carta, que torna notório e conhecido quanto foi disposto com a sentença.

Seja afixada no painel dos avisos de toda Paróquia, Comunidade ou Capela da Arquidiocese de Goiânia por três meses e lida em cada missa por três domingos consecutivos.

Dada em Goiânia, na sede da Cúria Metropolitana, em 30 de outubro de 2008.

Dom Washington Cruz, CP
Arcebispo Metropolitano de Goiânia

Fonte: UOL

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