Padre Zezinho, pioneiro em fazer música católica, deu uma entrevista à revista Veja da última semana. O sacerdote, autor de mais de 1700 canções e 90 livros, já teve suas músicas gravadas pelos padres Marcelo Rossi, Fábio de Melo e Reginaldo Manzotti, além de Luan Santana, Zeca Baleiro e Roberto Carlos. Confira o que ele falou sobre padres cantores, música cristã e público jovem.
O senhor foi um dos primeiros padres católicos a fazer muito sucesso com música no Brasil. Qual é o limite entre ser sacerdote e ser celebridade?
Esse é um assunto que todos nós, padres cantores, precisamos resolver. O Papa Francisco já deixou muito claro que não quer padres artistas. O padre tem que ter “cheiro” de ovelha, tem que andar misturado ao povo. Tanto que, nos meus shows, eu sempre descia junto à multidão e pedia que não me agarrassem. O povo sempre me respeitava. Agora, se o padre sobe no palco e depois some num carro cheio de guarda-costas e não fala com o povo, é um artista.
A música católica está deixando a desejar com relação à evangélica?
Não. Há autores excelentes entre os evangélicos, mas a música católica continua muito boa. Eu, por exemplo, continuo compondo com o mesmo cuidado. Escrevo canções cheias de conceitos da psicologia e sociologia, que celebram símbolos conhecidos por toda a humanidade. Falo muito de pão, água, vinho, velas, luzes, ventre, colo. São letras que trazem reflexões profundas a um povo pobre, de maneira acessível. O que acontece é que os evangélicos são muito bons de marketing.
Aliás, por que a Igreja está perdendo tantos fieis para os evangélicos?
Novamente, porque o marketing deles é muito agressivo. Basta ligar a televisão e ver as garantias que eles dão, os milagres que prometem. Nós, católicos, também presenciamos milagres, só que não fazemos propaganda disso e a multidão que vai a Aparecida está aí para provar. Só que eu não saio gritando por todos os cantos, nem expulso demônios em público, muito menos uso o palco para me exibir. Inclusive, mesmo na Igreja Católica, quando vejo alguém que se gaba desse poder, sugiro que o use nas UTIs de hospitais. Os católicos têm o mérito de saber refletir. Para mim, a reflexão já é um grande milagre. Aliás, a ideia de o Brasil passar a ser um país evangélico não me assusta. Quem quiser ir embora, pode ir. Eu continuo tentando ser um bom padre católico.
A Igreja Católica deve mudar sua doutrina para atrair o público jovem?
Não. Os preceitos da Igreja existem há séculos e não serão jogados fora. A doutrina católica é boa, basta que a gente descubra a melhor forma de ensinar. Para isso, é preciso considerar as necessidades dos jovens de todo o mundo – sejam católicos, evangélicos ou ateus. A ordem do Papa é que deixemos eles falarem.
Mesmo os preceitos vistos como mais ultrapassados – como o sexo antes do casamento ou as relações homossexuais?
Sim. Nada mudou. Existem formas de tratar essas questões sem ofender nem impor nada a ninguém. Certa vez, um casal de namorados veio conversar comigo, aflitos por não viver o mandamento da Igreja. Em vez de lhes punir ou sugerir que parassem de ter relações sexuais, perguntei porque não consideravam a ideia de se casar, já que se gostavam tanto. Da mesma forma, se um rapaz é apaixonado por outro, eu falo como o Papa: quem sou eu para julgar? Mas sempre pergunto: você aceita refletir comigo? Diante dessa abordagem, não encontrei nenhum que não aceite conversar.
Fonte: Revista Veja online via Pleno News