O jornal italiano “Il Foglio” afirma em reportagem publicada nesta quarta-feira que o papa Bento 16 escreveu uma carta aos bispos católicos de todo o mundo explicando porque revogou a excomunhão de quatro bispos tradicionalistas, admitindo “erros” na gestão do caso e especificando que os “lefebvrianos” ainda não estão em comunhão com Roma.
Entre os bispos linha-dura readmitidos está Richard Williamson, que foi centro de grande polêmica ao negar o Holocausto.
Segundo o jornal, a carta será oficialmente divulgada em breve pelo Vaticano, provavelmente nesta quinta-feira (13). A publicação diz ainda que se trata de uma carta “humilde e ao mesmo tempo forte”, com a qual Bento 16 decidiu explicar pessoalmente ao episcopado católico sua decisão de readmitir os quatro bispos “lefebvrianos”, entre eles o inglês Williamson, que acabou expulso da Argentina.
Na carta, escrita a mão, segundo o jornal, o papa reconhece dois “equívocos” na gestão do caso. Segundo Bento 16, a Santa Sé errou ao “não se dar conta” de que, através da internet, poderia ter tomado conhecimento das declarações de Williamson negando o Holocausto, “que se sobrepuseram de maneira imprevisível à reabilitação”.
Já o segundo “equívoco” diz respeito ao fato de a revogação das excomunhões não ter sido “suficientemente esclarecida”.
Williamson havia dito, em entrevista recente: “Acredito que não existiram câmaras de gás e (…) entre 200 mil e 300 mil judeus sofreram nos campos de concentração”. Em outras ocasiões, disse que Deus não queria que mulheres estudassem e que o 11 de Setembro foi uma conspiração dos EUA.
Ele e outro três bispos da sociedade católica conservadora São Pio 10º foram ordenados em 1988 pelo polêmico arcebispo ultraconservador Marcel Lefebvre sem autorização do então papa João Paulo 2º, para quem sua sociedade contraria as reformas modernizantes do Concílio Vaticano 2º (1962-65). O papa os excomungou imediatamente.
Bento 16 revogou a excomunhão em janeiro, em uma medida que o aproximou da direta católica, mas o coloca em atrito com sua ala progressista e com a comunidade judaica.
Desculpas
O Vaticano rejeitou recentemente o pedido de desculpas feito pelo bispo Williamson. A Igreja afirmou que o bispo tem de voltar atrás em seus comentários de forma “inequívoca e pública”. Em carta publicada, Williamson disse que –se soubesse das consequências que suas afirmações teriam– não teria feito a declaração ao jornal, negando a morte de seis milhões de judeus.
O bispo afirmou que suas opiniões foram formadas “há 20 anos, com base nas informações disponíveis na época”.
O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, afirmou, no entanto, que o bispo “parece não respeitar as condições” impostas pela igreja após ele ter feito os comentários sobre o Holocausto.
Fonte: Folha Online
