A “situação social e política” da Venezuela depois da morte de Hugo Chávez foi abordada na audiência, que durou 20 minutos.
As relações entre o chavismo e a Igreja Católica sempre foram conturbadas. Em vários momentos ao longo dos 14 anos em que ocupou o poder na Venezuela, Hugo Chávez condenou a Igreja e sua hierarquia, insultou cardeais, bispos e o Vaticano. Quando já lutava contra o câncer, o coronel passou a mostrar uma faceta mais religiosa e se rendeu às orações.
Chávez morreu no dia 5 de março e deixou para seu herdeiro político, Nicolás Maduro, uma grande lista de problemas, muitos dos quais ligados à economia. A escassez de produtos tem sido uma grande dor de cabeça para os venezuelanos, que encontram prateleiras vazias nos supermercados, e até para a Igreja no país, que recentemente reclamou da falta de vinho para a Eucaristia.
A eleição de Francisco, um papa genuinamente popular, avesso a demagogias, não foi motivo de comemoração para os governos paternalistas latino-americanos. Mas os chefes desses países sabem que é importante se aproximar do “papa dos pobres”. No caso de Maduro, que conseguiu uma audiência com o pontífice, o encontro também serviu como uma tentativa de legitimar seu governo – contestado pela oposição.
Na audiência, foi discutida “a situação social e política na Venezuela”, após a morte de Chávez, indicou um comunicado distribuído pela imprensa da Santa Sé. Também foram discutidas “algumas questões atuais, como a pobreza, a luta contra o crime e o tráfico de drogas”. Em suma, a herança maldita deixada pelo caudilho. Como presente ao pontífice, Maduro levou um exemplar da Constituição – aquela aprovada em 1999, que acabou com o Senado e ampliou o mandato de Chávez para seis anos – uma imagem do herói libertador Simón Bolívar e outra de Hugo Chávez.
A oposição venezuelana também tentou capitalizar a visita de Maduro ao papa, ignorando o fato de que Francisco não vai interferir na política da América Latina. A Mesa da União Democrática publicou um anúncio publicitário no jornal italiano La Repubblica, com um agradecimento a Francisco “por seu interesse pela Venezuela”. O anúncio reproduzia o trecho de uma fala do pontífice do dia 21 de abril, no qual Francisco convidava ao povo e aos políticos do país a “rechaçar qualquer forma de violência e estabelecer um diálogo com base na verdade, no reconhecimento recíproco e na busca de um bem comum”. A eleição presidencial no país foi realizada no dia 14 de abril e a apertada vitória de Maduro, com apenas 1,5 ponto percentual de vantagem sobre o opositor Henrique Capriles ainda é questionada. O próprio Capriles também enviou uma carta a Francisco, denunciando violações aos direitos humanos no país.
[b]Incoerência[/b]
A visita de Maduro à Itália também serviu para outro objetivo de flagrante incoerência diante da crise de desabastecimento na Venezuela. A FAO, organismo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, premiou 38 países pelos esforços para redução da fome. A Venezuela estava na lista e o presidente, claro, citou as políticas de Chávez ao falar sobre a premiação.
Também sobrou tempo para Maduro participar de um encontro com movimentos sociais e criticar seus inimigos internos e externos. “Na Venezuela não há uma oposição democrática, mas um grupo que se ajoelha diante do dólar do fascismo”, disse.
[b]Fonte: Veja.com[/b]