O correspondente do jornal francês no Rio de Janeiro, Nicolas Bourcier, assina uma longa reportagem sobre o declínio do catolicismo e o sucesso das igrejas evangélicas no Brasil.

Com o título “O Brasil, terra de reconquista da Igreja”, Le Monde publica um especial de três páginas sobre a visita do papa Francisco ao país para a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro. “No país mais católico do mundo, a Igreja Romana sofre com a concorrência das igrejas evangélicas, em plena expansão. O papa Francisco (…) conseguirá reconquistar os fieis?”, interroga o jornal francês em sua edição desta quarta-feira.

O correspondente do jornal no Rio de Janeiro, Nicolas Bourcier, assina uma longa reportagem sobre o declínio do catolicismo e o sucesso das igrejas evangélicas no Brasil. Ele lembra a primeira visita de um papa ao país, a viagem triunfal de João Paulo 2° em 1980, quando 89% dos brasileiros se diziam católicos.

Já o papa Francisco chega ao país em um contexto bem menos favorável ao Vaticano: 64% dos habitantes se declaram católicos, segundo dados do IBGE, e o Brasil se tornou em poucos anos a segunda maior nação pentecostal do mundo, perdendo somente para os Estados Unidos.

“De um lado, ela [a Igreja] não conseguiu evitar sua erosão numérica diante das igrejas evangélicas, cuja inventividade, proximidade e dinâmica de crescimento não cessam de preocupar os bispos. De outro lado, ela teve sua imagem prejudicada pelos escândalos de pedofilia e corrupção em série”, aponta o texto.

“Enquanto eram apenas 6,6% da população em 1980, os evangélicos, em seu conjunto, passaram para quase 25% da população, ou seja mais de 16 milhões de novos fieis”, afirma Le Monde, apontando que esse crescimento se deu principalmente nos centros urbanos e periféricos e entre a população mais pobre. O jornal afirma que essa tendência mostra como a Igreja católica foi incapaz de se adaptar às transformações da sociedade brasileira.

O texto diz que os recentes protestos no Brasil levaram o papa Francisco a centrar sua mensagem na luta contra a pobreza e a corrupção e pela redução das desigualdades. “Temas que não conseguirão impedir como por magia a erosão da fé católica, mas que permitirão à Igreja Romana formular novos objetivos mais sintonizados com a realidade brasileira”, analisa o jornalista Nicolas Bourcier.

Ele aponta ainda o desafio para o papa Francisco de acabar com a divisão entre os padres do Norte e Nordeste, mais preocupados com a defesa dos direitos humanos, o desmatamento ilegal e o reconhecimento das terras indígenas, e o clero do Sul e do Sudeste, mais conservadores.

[b]Obstáculos[/b]

Le Monde enumera outras dificuldades no caminho do pontífice para reconquistar os fieis brasileiros: o país tem um déficit de mais de vinte mil padres, e os evangélicos ocupam mais terreno na mídia e no próprio Congresso, em uma estratégia ilustrada pela ascensão do pastor Marcos Feliciano, presidente da comissão de Direitos Humanos.

“Em termos de estratégia, o papa Francisco escolheu visitar duas localidades do Rio de Janeiro – Guaratiba no Oeste e a favela de Varginha na zona Norte – onde os evangélicos proliferam. Dois lugares onde, como em tantos outros, a Igreja Romana parece distante, quando não ausente. Lugares que permitirão medir o tamanho da tarefa a ser executada pelo novo papa nesse que ainda é, apesar de tudo, o maior país católico do planeta”, conclui o texto.

O jornal traz ainda entrevistas com moradores católicos e evangélicos de Piraquê, em Guaratiba, onde será realizada a missa de encerramento da Jornada Mundial da Juventude, um evento que deve reunir dois milhões de pessoas.

O especial do jornal Le Monde inclui ainda uma análise sobre o pensamento jesuíta, “uma tradição sul-americana”. “A eleição do papa Francisco, primeiro representante da ordem a subir ao trono pontifical, traduz a importância da presença na região desses religiosos, que formam muitos integrantes da elite, de Fidel Castro ao subcomandante Marcos”, escreve o jornalista Paulo Paranaguá.

O jornal publicou também um mapa que detalha a diplomacia planetária do Vaticano e mostra que a Santa Sé tem dificuldades para manter sua influência em quase todo o mundo, com exceção da Ásia.

[b]Fonte: RFI – França[/b]

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