O Vaticano divulgou, nesta terça-feira (10), a investigação sobre o ex-arcebispo de Washington, Theodore McCarrick. Hoje com 90 anos de idade, o religioso foi expulso do sacerdócio e do colégio de cardeais em fevereiro de 2019 por abuso infantil.
A expulsão foi ordenada pelo Papa Francisco, que encomendou a investigação em um gesto sem precedentes, liberando o acesso a todos os documentos da Santa Sé e da Secretaria do Estado.
O resultado foi um relatório de 450 páginas e 30 horas de gravações de entrevistas que apontam que o atual líder da Igreja Católica sabia apenas de rumores de comportamentos imorais de McCarrick com adultos.
Por outro lado, os antigos pontífices João Paulo II e Bento XVI deixaram passar as acusações de abuso de menores por estarem mal informados ou não terem provas do caso.
O objetivo do Vaticano é trazer transparência para um dos casos mais espinhosos desde que o Papa Francisco assumiu o cargo. O escândalo veio à tona em agosto de 2018, quando o ex-núncio dos Estados Unidos, Carlo Maria Viganò, pediu a renúncia do argentino assegurando que ele sabia das acusações contra o McCarrick desde 2013.
O relatório esclarece que, na verdade, Francisco nunca recebeu nenhum documento ou falou com Bento XVI sobre o assunto. O Santo Padre só tinha ouvido rumores envolvendo um comportamento inadequado do cardeal com adultos no passado, que para ele já deveriam ter sido examinados e rejeitados por João Paulo II.
João Paulo II, por sua vez, estava ciente das acusações de que McCarrick mantinha atividades sexuais com outro sacerdote, havia “compartilhado uma cama” com jovens adultos e tinha abusado de menores.
As denúncias foram reunidas em uma carta do cardeal John O’Connor, arcebispo de Nova York, em 1999. O pontífice pediu então que fosse feita uma investigação, que conclui que o acusado tinha de fato se deitado com seminaristas, mas não indicava a existência de uma má conduta sexual.
McCarrick escreveu garantindo que “nos 70 anos de sua vida nunca teve relações sexuais com nenhuma pessoa, homem, mulher, jovem ou velho, religioso ou leigo, não abusou de uma pessoa nem a tratou sem respeito”. João Paulo II acreditou e o nomeou arcebispo de Washington.
As acusações contra McCarrick acabaram reaparecendo em 2005, mas o então Papa Bento XV dispensou a realização de um processo canônico e nada foi feito pelo Vaticano. Assim, o arcebispo continuou viajando pelo mundo e participando de eventos sem grandes impedimentos.
O jornal norte-americano The Washington Post afirma que ao longo de duas décadas transferiu doações no valor de US$ 600 mil para a Igreja Católica, sendo que João Paulo II teria recebido diretamente US$ 90 mil e Bento XVI, US$ 291 mil. Porém, o relatório do Vaticano conclui que as transferências “não influenciaram as decisões” tomadas sobre a carreira de McCarrik.
Fonte: Jovem Pan com informações de EFE