O juiz da Vara da Infância e Juventude de Vitória, Paulo Roberto Luppi, vai exigir do presidente da seita Tabernáculo Vitória, pastor Inereu Vieira Lopes (foto), que apresente documentos de paternidade e maternidade de 68 crianças e adolescentes, dos 152 menores de idade que moram no templo.
A partir do momento que for notificado pela Justiça, ele terá cinco dias úteis para apresentar os documentos exigidos pela Vara, assim como os responsáveis dessas crianças e adolescentes deverão comparecer ao juizado dentro do prazo estipulado pelo magistrado.
De acordo com o magistrado, somente os responsáveis por 84 crianças compareceram à Vara da Infância nesta segunda, dia determinado pelo juizado para todas as mães do Tabernáculo prestarem esclarecimentos sobre a rotina dos filhos.
Segundo Paulo Roberto Luppi, as assistentes sociais da Vara iniciaram nesta terça-feira um levantamento em todas as unidades escolares informadas pelas mães para saberem a freqüência e o rendimento escolar dos alunos.
Nesta segunda-feira, 52 mães compareceram à Vara da Infância e Juventude de Vitória. Na última sexta-feira (21) o Ministério Público Estadual e a Vara da Infância e Juventude de Vitória conseguiram, por meio de mandado judicial, entrar no prédio da Tabernáculo Vitória para verem a realidade na qual as crianças vivem.
Pastor responsável por Tabernáculo é multado em R$ 2 mil por falta de licença para obras
O pastor Inereu Vieira Lopes (foto), responsável pela seita Tabernáculo Vitória, foi multado em R$ 2 mil por funcionários da Prefeitura de Vitória nesta terça-feira. A Secretaria de Desenvolvimento da Cidade encontrou irregularidades nas obras de construção das quitinetes, anexas ao templo localizado no bairro Santa Tereza, na Grande Santo Antônio, em Vitória.
O secretário Kleber Frizzera explicou que, por se tratar de moradias, a prefeitura exigiu um alvará de localização da área, mas a determinação não foi cumprida pelo pastor. “Desde 2006 nós estamos fiscalizando aquela obra. Eles fizeram uma construção irregular que foi embargada em 2006. Como envolve moradia, exigimos um alvará de localização. A exigência não foi cumprida e eles foram multados”.
O responsável pela Tabernáculo Vitória encaminhou à prefeitura um pedido de regularização da obra, desde o embargo, em 2006. O recurso foi negado pela prefeitura. “Eles entraram em julho agora com novo pedido de regularização da obra. Mas, esse pedido ainda está sendo analisado pela prefeitura”.
O secretário de Desenvolvimento disse que é permitida a construção de prédios no local, desde que o projeto seja aprovado pela prefeitura. As obras das quitinetes foram embargadas justamente por falta dessa aprovação.
Chope e música ao vivo no cardápio do pastor da Tabernáculo Vitória
Entre chopes gelados e música ao vivo. Há dois anos, era assim que vivia o pastor Inereu Lopes, líder da Igreja Tabernáculo Vitória, segundo afirmam comerciantes que o viam com freqüência num estabelecimento comercial da Avenida Nossa Senhora da Penha, em Vitória. Pastor Lopes dirige a igreja desde 1980.
Lopes, como era conhecido, gostava das noites de quinta e de sexta-feira, por causa da música ao vivo. “Ele bebia direitinho, viu?”, diz um dos comerciantes, que se lembra bem do homem de bigodes escuros, “calado e observador”.
Um outro comerciante, diz ter se surpreendido, ao ver no jornal a foto do homem “que gostava de olhar fixamente para mulheres” que freqüentavam o centro comercial. “Ele abordava algumas delas, comportamento que nada tem a ver com o de um pastor”, comentou.
Esse mesmo homem afirma que Lopes era conhecido por alguns comerciantes por sempre ter dinheiro trocado. “Se a gente precisasse de troco, era certo que poderíamos conseguir com ele”, afirma.
Dono de Quiosque Rango’s, na Curva da Jurema, também em Vitória, Valdo Santos confirma a informação sobre o fato de Lopes dispor sempre de dinheiro trocado, mas garante que, na praia, só o via beber água de coco.
“Não o vejo há uns três anos. Ele era de pouca conversa, mas chegou a comentar, na época, que estava meio deprimido, longe da igreja, com problemas com um filho, e também com a mulher. Um dia, disse não viria mais à Curva da Jurema, porque havia se acertado com a esposa”, comentou Santos, que ontem telefonou para Lopes, ao ser abordado por A GAZETA. Segundo ele, o pastor lhe disse que não estava em condições de falar com a imprensa e que se sentia pressionado.
Em Minas Gerais, onde nasceu, Inereu Lopes ainda atua num cartório da cidade de São João de Manteninha, segundo uma pessoa, ligada à sua família. “Uma mulher assina os papéis para ele”, comentou.
Segundo essa pessoa, a mãe de Lopes, que é idosa, não sabe que ele estaria fazendo com que fiéis doem seus bens à Igreja Tabernáculo. “Ela é católica, não anda bem de saúde, mas os outros parentes não estão nada satisfeitos com essa situação.”
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Tabernáculo era uma grande barca na qual eram realizados os atos de adoração durante o tempo em que os israelitas andaram pelo deserto, depois da sua saída do Egito. As informações são da Bíblia de Estudo Almeida, uma das mais conceituadas do meio evangélico, publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB).
Norte: obras aceleradas
Outro condomínio. Enquanto técnicos do Instituto Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) não aparecem em Ecoporanga para vistoriar a construção do condomínio da Igreja Tabernáculo Vitória, as obras no local continuam em ritmo acelerado. Na tarde de ontem, dois tratores trabalhavam na terraplanagem da área, localizada dentro do sítio Córrego Paraíso, bem próxima a uma reserva florestal.
Família de fiéis vende três casas numa rua
A venda de bens desenfreada dos fiéis da igreja Tabernáculo Vitória tem sido bom um negócio para os compradores. É que, na pressa de receber o dinheiro, os seguidores vendem o que têm por um preço bem menor do que o de mercado.
Na Rua Rio Amazonas, no bairro Santa Catarina, Cariacica, uma família inteira resolveu vender seus imóveis. O secretário da Assembléia Legislativa Welito Ferreira da Silva, 33, comprou em abril uma das casas. O imóvel tem dois quartos, cozinha e quintal grandes. Ele pagou R$ 11 mil, à vista. “O ex-dono estava com pressa de vender e abaixou o valor da casa em R$ 2 mil. Disse que precisava ir para uma obra com urgência, que era uma vontade de Deus”, diz o secretário.
Segundo moradores da rua, a casa de dois andares em frente à de Welito – que pertencia a parentes do homem que negociou com o secretário – também foi vendida. “Sabíamos que eles faziam parte de uma igreja, mas só entendemos para onde eles foram quando vimos as notícias no jornal. Aqui na rua, ainda sobrou mais uma casa para vender. Todos os ex-moradores foram para a comunidade”, conta a dona de casa Valéria Schimidt, 34.
Inereu Lopes se defende em vídeo
Inereu Vieira Lopes, pastor-presidente do Tabernáculo Vitória, cujo sigilo bancário o Ministério Público quer ver quebrado, garante que o dinheiro proveniente da venda de bens dos fiéis da igreja não ficou nem com ele nem com a instituição que ele dirige. A afirmação foi feita num pronunciamento, em áudio e vídeo, veiculado no site www.tabernaculovitoria.org, no último fim de semana.
“O que nos chega às mãos é para pagar as despesas deles e se seus familiares”, disse o pastor, numa referência às dezenas de famílias que estão morando num condomínio anexo ao templo do Tabernáculo, no bairro Santa Teresa, em Vitória.
Inereu Lopes não dá entrevista à imprensa, sob alegação de que “as denúncias são infundadas e anônimas”. No vídeo, ele diz que em Ecoporanga, no Noroeste do Estado, está sendo construído pelos fiéis um condomínio com 214 moradias, de 50 m2 cada uma, além de cozinha comunitária, área de lazer e templo de adoração.
Nesse local, vão morar aqueles que contribuírem para a construção, numa conta em nome da igreja. “Se pessoas comuns, com credos e ideologias diferentes, podem se juntar num condomínio, por que não nós, que temos um mesmo credo, um só batismo, um só Senhor?”, pergunta ele.
Mais uma vez, o pastor citou versículos bíblicos para justificar a doação de bens pelos fiéis e a moradia comunitária. “Todo o que não renuncia a tudo o quanto tem não pode ser um discípulo”, argumentou.
O pastor disse que Relatório da ONU sobre aquecimento global é só mais uma prova sobre a proximidade do fim do mundo. “O tempo do arrebatamento da noiva chegou”, disse ele, numa referência aos escolhidos de Deus.
Juizado ouve mães de 152 menores
O Juizado da Infância e da Juventude de Vitória ouviu ontem as mães das 152 crianças e adolescentes que vivem atualmente no prédio do Tabernáculo Vitória construído em Santa Teresa, na Grande Santo Antônio, em Vitória. Elas foram convocadas a prestar esclarecimentos na última sexta-feira, quando o Ministério Público visitou o local.
De acordo com o titular do juizado, juiz Paulo Luppi, as mães deram informações sobre a convivência familiar dos menores, sobre o acesso ao sistema de saúde e sobre a garantia da freqüência delas na escola. “Já foram ouvidas todas as mães, e amanhã vamos confirmar as informações com as escolas”, afirmou o juiz.
Ele frisou que a situação dos familiares que alegam estar com dificuldades para ver os parentes que resolveram viver no condomínio também está sendo averiguada. “Grande parte das mães ouvidas disse que está tudo certo, escola, autorização dos pais para estar ali, mas tudo será checado.”
O juizado garantiu que, nos casos em que os direitos das crianças não estiverem sendo cumpridos, serão tomadas as medidas cabíveis. A assessoria de imprensa do Ministério Público informou que o órgão só vai se manifestar depois que o juizado concluir as averiguações sobre a situação em que as crianças e os adolescentes estão vivendo no condomínio.
Mandado
Na última sexta-feira, com um mandado do juizado, o Ministério Público visitou o condomínio erguido pelo pastor Inereu Vieira Lopes na área onde fica a sede da igreja Tabernáculo Vitória. Os promotores Maria Zumira Bowen e Jerson Ramos de Souza sugeriram ao pastor que autorizasse a quebra de seu sigilo bancário, e ele pediu um tempo para pensar. No local, há 53 quitinetes, onde vivem as pessoas que decidiram vender seus bens e doar o dinheiro para a igreja.
Mulheres da Tabernáculo pedem separação para forçar maridos a vender bens e doar dinheiro à seita, denuncia ex-membro
Quase uma vida dedicada à seita Tabernáculo. Após 15 anos freqüentando à igreja, um autônomo, que pediu para não ser identificado, vive hoje o momento mais infeliz da vida. Ele foi expulso da comunidade pelo pastor Inereu Vieira Lopes após questioná-lo sobre a pregação que faz a respeito da venda de bens. A esposa e os filhos do autônomo continuam morando na comunidade.
“O pastor está realizando o sonho dele que é colocar todo mundo junto e está realizando o pesadelo da minha vida que é me deixar sem minha família”, relata emocionado o autônomo.
O autônomo revela ainda que muitas esposas estão entrando com pedido de separação junto à Justiça para forçar os companheiros a se desfazerem dos bens e doar o dinheiro para a Tabernáculo Vitória.
O ex-membro da seita diz que o pastor também deveria se desfazer dos bens para cumprir o que exige dos fiéis. “Para ele ser radical no que fala, ele deveria vender todos os bens dele. Ele tem casa e carro zero quilômetro. Ele se separou da mulher e torrou todo dinheiro que deveria ser para a obra. Ele como pastor não dá um exemplo. Esse foi o motivo de eu ter saído. Quem é esse pastor para se comparar a Jesus Cristo?”, pergunta o autônomo.
O ex-membro da Tabernáculo Vitória confirmou que os fiéis da comunidade Daniel Fantini e João Hubener, citados pelo pastor em um culto realizado no dia 30/04/2007, foram os primeiros a entregarem dinheiro para a administração da Tabernáculo. Ele disse ainda, que Hubener veio de Belo Horizonte para morar na sede da Tabernáculo, no bairro Santa Tereza, em Vitória. Segundo ele, todo dinheiro que entrava era para a obra da igreja.
“Todo mundo que doava entregava para a igreja fazer moradia para os irmãos. A coisa foi desenrolando, até chegar ao ponto disso se tornar uma doutrina: vender tudo e ir morar lá. Só que descambou para todo lado. Não tínhamos a intenção de morar, fechar tudo e fazer o que está sendo feito. Quem está fora fica fora e quem está dentro fica dentro. Vai ser humilhante quando o dinheiro dessas pessoas começarem a acabar e o povo ter que sair nas ruas para trabalhar de pedreiro, sem contar a renca de irmãos que estão largando o emprego. Aí sim que vai se cumprir o que o pastor falou aos irmãos em um dos cultos, que vai ter gente passando fome se não doar”, relata o ex-membro da Tabernáculo Vitória.
Ele denunciou ainda que a idéia inicial do pastor era fazer um alojamento para encontro de pastores e jovens. No entanto, quando Inereu se separou da esposa por problemas com o filho, ele passou a ir morar na Igreja e começou a chamar outros irmãos a fazerem o mesmo. Ele desmente a afirmação de Inereu de que os fiéis vivem em alojamentos. Segundo ele, a maioria está morando dentro de um salão, junto a outras pessoas.
“A dificuldade agora é quanto ao alimento. A minha família jantava todas as noites quando morávamos em nossa casa. Infelizmente, hoje, eles comem sopa toda noite. O conforto não é o mesmo. Pode até comer bem no almoço, mas a janta é sempre sopa. O meu castelo desabou”, relata o autônomo.
Ele conta ainda que todas as pessoas que foram convidadas pelo pastor Inereu Vieira Lopes a largarem tudo e irem morar na Tabernáculo Vitória, não podiam consultar outros familiares para tomarem a decisão. A resposta deve ser imediata, caso contrário, o convite é desfeito.
“Lá é o seguinte. A pessoa quando é convidada a morar lá não pode pensar não. Se foi convidada a morar e se falar assim: Vou pensar, ela já está fora. Ela obedece ou desobedece, vai morar ou está fora. Não se tem meio termo. Não se tem escolha, não pode conversar com o marido ou esposa. Pensou, está fora”, afirma o autônomo.
O ex-membro da Tabernáculo Vitória afirmou que todos os fiéis que estão na sede, têm o pastor Inereu como o grande apóstolo e o idolatram como tal. Tudo o que ele fala é aceito e tudo o que ele determina é cumprido.
Especialista em filosofia da religião alerta para fanatismo de fiéis da Tabernáculo
‘O modo de vida dos membros da Tabernáculo Vitória pode se tornar futuramente um perigo para esses fiéis’, afirma o professor da Universidade Federal do Espírito Santo, Marcelo Martins Barreira, doutor em filosofia e especializado em filosofia da religião pela Unicamp.
Segundo Marcelo Barreira, o atual momento pede que a sociedade capixaba se lembre do ano de 1978, quando um pastor norte-americano chamado Jim Jones levou 914 seguidores da seita Templo do Povo ao suicídio coletivo, porque ele tinha a verdade e uma revelação especial de Deus.
Em entrevista à reportagem Gazeta Rádios / Internet, Martins avalia a veneração dos fiéis como um perigo muito grande. confira.
Que avaliação o senhor faz dos seguidores da seita Tabernáculo Vitória?
É uma situação relevante pois aponta nessa lógica de sigilo um perigo muito grande. Não só para aqueles que participam dessa comunidade, sobretudo as crianças. Eles apontam um certo exclusivismo, uma certa mentalidade que faz com que os membros dessa comunidade se coloquem a parte de toda sociedade. Isso não é interessante porque cai numa contradição, na medida em que uma sociedade como a nossa a gente precisa uns dos outros e não há como vivermos num aquário isolado de outras pessoas. Nós precisamos das outras pessoa para termos roupas, comida, remédio dentro outras coisas. É muito estranho quando no culto do dia 30/04/2007, o pastor líder da comunidade, Inereu Vieira Lopes, diz que não recorreria a um advogado incrédulo para uma possível defesa no tribunal. A capacidade técnica de um profissional independe da crença ou não crença de uma pessoa. Posturas de exclusivismo como essa, de separar aqueles que estão dentro dos que estão fora, não é interessante para uma sociedade democrática.
O que o senhor quer dizer quando cita que o posicionamento do líder e dos fiéis dessa comunidade acaba se tornando perigoso?
É perigoso pois tudo aquilo que é feito as escondidas isso gera uma dificuldade para que haja um controle social. Tudo aquilo que não é transparente. Todas as malas pretas, decisões feitas sob sigilo, coloca em risco a própria sociedade. A transparência é um elemento importante para a sociedade democrática. A rotatividade do exercício do poder parece não existir na Tabernáculo Vitória. Eles não podem viver numa ilha, têm que seguir as regras de coletividade. Junta-se o sigilo e silêncio, onde apenas uma pessoa é o portador da voz da comunidade, tornando-se perigoso, como coloquei. Quando as pessoas não podem usar a autonomia da reflexão própria, o risco delas perderem a liberdade de ação é muito grande. Fica difícil dizer que são pessoas amadurecidas que estão lá dentro. Muitas vezes acabam sendo infantilizadas. Isso não é um modelo de vida de sociedade.
Um ex-membro da Tabernáculo Vitória, que foi expulso da comunidade por questionar o pastor a respeito da venda de bens, declarou à reportagem da Gazeta Rádios e Internet que tudo o que o pastor Inereu fala é aceito e tudo o que ele determina é cumprido. Isso também se torna um perigo para as pessoas que estão lá dentro?
É muito importante que nesse momento a gente se lembre das lições da história. Em 1978, houve um pastor chamado Jim Jones, que na Guiana levou 914 seguidores ao suicídio coletivo, porque ele tinha a verdade, ele tinha uma revelação especial de Deus. Não é que necessariamente isso venha acontecer aqui, mas porque necessariamente não haveria de acontecer? Se só ele tem a verdade, se não há um controle coletivo daquilo que seria a vontade divina, uma revelação pode conduzir a uma aceleração da segunda vinda de Cristo, dentro da leitura dele que não tem reflexão teológica, pois até onde eu sei, esse pastor não tem formação teológica. Se ele não tem um lastro racional crítico, ele pode usar um texto como um pretexto de seus interesses, das própria loucuras. Eu não estou dizendo que ele seja louco. Mas isso pode acontecer. Quando esse ex-membro diz que diante do convite de egresso na comunidade a resposta tem que ser imediata, sem tempo para pensar, que é o básico da decisão madura, a probabilidade de se arrepender no futuro é enorme. A fé não é sinônimo de fanatismo e nem de loucura. A fé é sinônimo de alguém que responde, acatando uma revelação divina que não é algo absurdo. É algo que de alguma maneira responde a uma inquietação da pessoa.
Até que ponto a igreja pode exigir dos fiéis uma doação seja de bens ou de dinheiro. O senhor assistiu aos vídeos de um culto do pastor e ele deixa bem claro que recebeu doação de fiéis. Até que ponto o pastor tem o direito de ter os bens dessas pessoas?
Se agente entrar numa discussão teológica, evidentemente podemos dizer que alguém pode querer renunciar a tudo que tem e entregar para os pobres ou para a igreja. Só que numa sociedade democrática, essa pessoa pode não ter tido uma decisão madura. Ela pode estar num momento de fragilidade existêncial e emocional. O estado democrático de direito tem de sondar essa atitude. Tanto da parte de quem representaria a Deus, quanto do próprio fiel que diz entregar tudo a Deus. O único critério possível é perceber o grau de maturidade da pessoa. Uma decisão que é dada sob pressão, que não se dá numa liberdade esclarecida, ela não pode ser acatada pura e simplesmente. A Igreja Universal do Reino de Deus teve que devolver a doação de um ex-frequentador que o Tribunal de Justiça de São Paulo reconheceu como sendo uma doação sob pressões. Ele estava fragilizado e o pastor com uma grande influência sob ele dizia da necessidade dele fazer essa doação para a igreja, pois se não ele não seria abençoado. A gente tem que procurar ver por meio da própria sociedade a maneira pela qual estabelece um critério autêntico com relação a essas doações.
Existem hoje no Tabernáculo 152 crianças e adolescentes vivendo na comunidade. Essa doutrina fechada pode ser prejudicial para o desenvolvimento delas?
É importante a gente perceber que crianças que são educadas nessa perspectiva do exclusivismo religioso, em que só elas, na pureza da comunidade delas é que são certas, e as outras estão erradas, isso não contribui para o diálogo, para uma vida plural. Se essas crianças freqüentam escolas que seguem diretrizes do Ministério da Educação e que, portanto, acabam tendo que seguir diretrizes da sociedade como um todo, elas teriam que saber conviver com as diferenças. O grande problema que vejo é que a ausência de diálogo vai formar crianças que não vão ter oportunidade de conviver com outras crianças que pensam de maneira diferente. Elas não vão estar preparadas para conviverem em sociedade. Não vão saber o que acontece com o mundo. Esse medo diante do diferente, que se entende como ameaça, isso vai ter conseqüências sociológicas, psicológicas, históricas e religiosas.
Como o senhor avalia essa posição de ficarem todos juntos, em um mesmo local, aguardando a salvação divina?
Não precisa disso. As religiões devem ser uma oportunidade de nos humanizar mais e crescermos uns com os outros. A religião não deve ser uma forma de nos separar dos outros. Sem entrar no mérito do que é ou não salvação, eu diria que do ponto de vista de sociedade democrática, ninguém vai se salvar sozinho. Não há como ter um caminho individualista.
Fonte: Gazeta News