O pastor Terry Jones tornou a cidade de Gainesville famosa internacionalmente ao anunciar que pretendia queimar cópias do Alcorão amanhã, aniversário dos ataques terroristas de 2001.

O 11 de Setembro de 2010 seria marcado em Gainesville pela estreia da poderosa equipe de futebol americano da Universidade da Flórida, os Gators, na temporada deste ano. Toda a polícia metropolitana seria usada para reforçar o estádio, onde também estaria o prefeito, Craig Lowe, homossexual assumido que sempre defendeu a tolerância na cidade do interior da Flórida.

O problema é que o pastor Terry Jones, figura marginal deste centro estudantil, tornou Gainesville mais famosa internacionalmente do que os títulos dos Gators ao anunciar que pretendia queimar 200 cópias do Alcorão amanhã, aniversário dos ataques terroristas de 2001. Apesar da posterior desistência, sua atitude atraiu jornalistas do mundo todo para a cidade de cerca de 100 mil habitantes. O gramado da sua igreja, a cerca de 10 km do centro, estava ocupado por furgões das grandes redes de TV.

A entrada tem uma placa destruída com o nome da igreja de Jones, Dove World Outreach Center (em tradução livre, “centro para alcançar a paz no mundo”). Na frente de três cartazes com os dizeres em vermelhos “Islam”, “is of the” e “devil” (o Islã é do demônio) – diante do templo, que nada mais é do que um galpão mal-construído com uma cruz -, um grupo de motoqueiros estava reunido para defenderem o “direito à liberdade de expressão previsto na Constituição americana”, segundo explicou um deles.

Antes de o pastor anunciar o cancelamento da manifestação, John Clark, de cerca de 40 anos, veterano da Guerra do Golfo, afirmava não haver necessidade de discutir se era “certo ou errado o que ele quer fazer”.

Em seguida, falando com os amigos, acrescentou: “Não existem muçulmanos moderados. Há os que mentem ou os que não leram o Alcorão. Diferentemente da Bíblia, este livro prega a violência.” Ao lado dele, outro motoqueiro, com bandana na cabeça e barriga saliente completou: “O Islã é violento. Isso é um fato, assim como é um fato eu ser gordo. Muitas pessoas não leem, mas eu dei uma olhada em partes do Alcorão na internet.”

Já com 70 anos, um aposentado que preferiu ser identificado apenas como Warren, irritou-se com os motoqueiros. “Eles não entendem que este pastor apenas quer chamar a atenção”, disse. E conseguiu. Até o presidente Barack Obama e a secretária de Estado Hillary Clinton dirigiu-se a ele para pressioná-lo para que não levasse adiante sua iniciativa de queimar os exemplares do Alcorão.

[b]Pressão total[/b]

A pressão sobre Jones se intensificou. A polícia da cidade advertiu que enviaria a conta dos custos com a segurança do pastor e seus seguidores para Jones – alerta que pode ter sido fundamental na decisão de cancelar o protesto.

Além disso, o corpo de bombeiros da cidade evocou uma norma municipal que proíbe fogueiras que ocupem uma área maior de um metro quadrado, sob pena da imposição de multas pesadas.

A maioria dos habitantes da cidade esforçou-se nos últimos dias para mostrar Gainesville como um lugar tolerante. Líderes religiosos da região, incluindo muçulmanos, se reuniram à tarde num ato multi-religioso para defender o Islã. O prefeito Lowe também participou.

Ele, desde o início, tem liderado a campanha contra Jones. Quando disputou e venceu as eleições para a prefeitura, Lowe foi duramente atacado por Jones. O pastor, depois do resultado da eleição, promoveu um ato diante da prefeitura afirmando que não aceitaria um prefeito gay, sob o argumento de que “o homossexualismo é um crime”.

No câmpus da Universidade Flórida, o estudante Mattew Parrish, cristão metodista, acusava Jones de mudar as palavras da Bíblia. “Ele não deveria dizer que o Islã é do demônio”, disse. Uma outra estudante cristã mandou confeccionar centenas de pulseiras com os dizeres “o Islã é do coração” e distribuiu na universidade.

[b]Fonte: Estadão[/b]

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