O pastor José Wellington Bezerra da Costa, um dos líderes mais influentes da Assembleia de Deus no Brasil, declarou que intervém em repasses de emendas parlamentares. A revelação gerou desconforto entre a liderança evangélica e provocou críticas.
O líder religioso explicou detalhadamente como funciona a influência da igreja sobre seus deputados e como eles são orientados em relação à destinação de emendas para prefeitos ligados à Assembleia de Deus. “A emenda só vai para o prefeito por intermédio do pedido do pastor da Assembleia de Deus”, ressaltou, durante reunião de obreiros, na segunda-feira (07), em São Paulo.
“O eleitorado que ali está, irmãos, não é do prefeito, mas são dos irmãos em Cristo que estão nos apoiando para que os nossos candidatos continuem trabalhando”, disse ele.
Durante o culto, o pastor afirmou que os filhos são livres para escolher os beneficiados pelas emendas, mas revelou que eles abordam os prefeitos da seguinte forma.
“Quer dinheiro? Quer. Mas chame, então, o pastor da Assembleia de Deus. Porque você só receberá a verba por intermédio de um pedido pastor.”
Em 2021, os filhos de José Wellington – o deputado federal Paulo Freire Costa (PL-SP), a deputada estadual Marta Costa (PSD) e a vereadora Rute Costa (PSDB) – tiveram acesso a R$ 25 milhões em recursos públicos.
Na visão do reverendo Valdinei Ferreira, líder da Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, o episódio expõe uma distorção na relação entre igrejas e políticos. “É mais um sinal de apodrecimento das relações entre religião e política. As igrejas devem cobrar políticas públicas e podem ser parceiras do poder público na execução de determinadas ações, mas não entrar na lógica de um despachante”, enfatizou Ferreira.
Segundo o líder presbiteriano, a intermediação de emendas abre margem para corrupção e enriquecimento de líderes religiosos. “Certamente, a igreja ganha o poder, mas perde a credibilidade.”
O pastor Carlito Paes, da Igreja da Cidade, de São José dos Campos (SP), também deferiu crítica ao comportamento do líder evangélico. “Pastores e igrejas, acordem, ainda temos tempo de ajustar o foco para o real Evangelho e para igreja, temos tantas oportunidades!”, escreveu Paes, nas redes sociais.
Já o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), líder da bancada evangélica no Congresso, defendeu a prerrogativa de religiosos atenderem suas bases. “Meu pastor nunca me indicou um único município ou instituição para que fosse enviado um real de emenda. Mas isso é uma decisão do parlamentar, de seus líderes e suas bases”, afirmou o parlamentar, que é ligado à Assembleia de Deus Vitória em Cristo, denominação liderada por Silas Malafaia.
De acordo com procuradores ouvidos pelo Estado de S. Paulo, a participação de um pastor na escolha do destino das emendas parlamentares não é vista como crime. No entanto, no caso de José Wellington, pode ter graves consequências se for constatado desvio de recursos públicos a partir de uma investigação.
Com informações de Fuxico Gospel, Comunhão e O Estado de S. Paulo