Após cinco anos, uma derrota legal e uma contestação a caminho, Montgomery County, Maryland, está na fronteira da educação sexual nos Estados Unidos. Neste ano, fora uma ação legal de último minuto, o condado oferecerá aulas de homossexualidade nos cursos de saúde da 8ª série e do equivalente ao 2º colegial.

Para as autoridades de ensino, as aulas são uma expansão natural do ensino sexual e do ensino de tolerância e diversidade. Elas consistem de duas aulas de 45 minutos, altamente roteirizadas, para cada série e um vídeo demonstrando como usar uma camisinha. A mensagem central das aulas é o respeito e aceitação das muitas variações da identidade sexual, tanto nos outros quanto em si mesmo.

As autoridades de ensino disseram que não estão buscando promover uma agenda política exceto a tolerância e uma espécie de aprendizado cultural. “Nossa responsabilidade é educar os estudantes”, disse Betsy Brown, que supervisiona o desenvolvimento do currículo com ajuda da Academia Americana de Pediatria. “Isto faz parte da educação”.

Mas os críticos, que impetraram ações buscando impedir as aulas, argumentam que as escolas de Montgomery County, ao norte de Washington, foram longe demais. John Garza, presidente da Cidadãos por um Currículo Responsável, um grupo que lidera a oposição, disse que os pais podem bloquear programas de televisão que consideram moralmente questionáveis, “mas então temos o professor da escola ratificando um comportamento prejudicial”.

Montgomery é um enclave politicamente liberal e de alta escolaridade. Mas os oponentes do novo currículo, retratados como sendo uma minoria barulhenta pelas autoridades de ensino, podem estar mais em sintonia com o sentimento dos pais por todo o país.

Segundo uma pesquisa nacional de 2004 feita pela Kaiser Family Foundation, pela Escola Kennedy de Governo da Universidade de Harvard e pela Rádio Pública Nacional, aproximadamente três entre quatro pais dizem ser impróprio o ensino da homossexualidade no ensino básico, enquanto quase metade considera apropriado no ensino médio.

Quando perguntados sobre o assunto em maior detalhe, mais de 50% dos pais de alunos do ensino básico e de alunos do ensino médio apoiaram o ensino do que é a homossexualidade “sem a discussão sobre se é errado ou aceitável”. Apenas 8% dos pais de alunos do ensino básico e 4% dos pais de alunos do ensino médio disseram que as escolas devem ensinar “que a homossexualidade é aceitável”. A pesquisa apresentava uma margem de erro de 6 pontos percentuais.

Montgomery County pode estar à frente do país em educação sexual, mas também pode estar sozinha na trilha, por conta própria.

A controvérsia ilustra quão carregada pode ser a estrada para os educadores que se aventuram além do ensino acadêmico para ensinar assuntos sociais sensíveis aos alunos, correndo o risco não apenas de processos, mas também de perder o apoio de pais e eleitores. Em Nova York, a controvérsia há 14 anos em torno do “currículo arco-íris”, que incluía o livro “Heather Has Two Mommies” (Heather Tem Duas Mamães) como texto didático da primeira série, custou o emprego do secretário Joseph A. Fernandez.

“É um mito o de que nossas escolas não ensinam valores sobre muitas coisas”, disse a reverenda madre Debra W. Haffner, diretora do Instituto Religioso da Moralidade Sexual, Justiça e Cura, que promove discussões sobre a sexualidade. “Nós não expomos comunismo, socialismo e capitalismo em condições iguais em nossas aulas sobre governo”.

Mas por muitos motivos, muitos não citados, o ensino sobre a sexualidade é diferente, disse Susan K. Freeman, uma historiadora da Universidade Estadual de Minnesota, em Mankato.

Para muitos pais, um encontro entre menino e menina pode não significar que seu filho ou filha é sexualmente ativo, ela disse. Mas ao se apresentarem como gays, “eles estão anunciando sua sexualidade”. Os pais fazem uma suposição tácita de atividade sexual e “isto representa um problema para muitas pessoas”, ela disse.

As aulas de Montgomery County começam definindo termos como “preconceito”, “homossexual” e “transexual” e alertam os estudantes a não presumirem que devido a ainda não se sentirem atraídos pelo sexo oposto isto significa que devem ser gays. O currículo da 8ª série diz aos estudantes gays que “preocupações sobre como a família e amigos aceitarão a situação são normais e que os temores com provocações e mesmo agressões não são infundados”.

As aulas do 2º colegial, que presumem que a identidade sexual é inata, discutem novamente a tensão de assumir, mas acrescentam: “Muitas pessoas que são gays, lésbicas, bissexuais ou transexuais celebram sua autodescoberta”.

Kevin Jennings, o diretor executivo da Rede de Educação de Gays, Lésbicas e Heterossexuais, com sede em Nova York, disse que o currículo pode reduzir as agressões em torno da identidade sexual.

“Eu não sei como negar informação aos jovens sobre sexualidade ou orientação sexual ajuda a promover sua saúde e bem-estar”, ele disse.

Garza é contra as escolas ensinarem que a homossexualidade é irreversível e não citarem os índices mais altos de incidência de algumas doenças venéreas entre os homens gays. “Quando você entra nestas áreas altamente contestadas pelo julgamento moral, a escola não deve se envolver ou no mínimo ensinar todos os lados”, ele disse.

Fonte: The New York Times

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