O ex-ministro do Exterior britânico Jack Straw defendeu nesta sexta-feira (6) suas declarações sobre o uso do véu por mulheres muçulmanas, dizendo que a vestimenta torna as relações nas comunidades mais difíceis e é uma “demonstração visível de divisão” na sociedade.

Em uma coluna publicada na quinta em seu jornal local, o Lancashire Evening Telegraph, o líder da Câmara dos Comuns havia dito que pedia a todas as mulheres muçulmanas com quem tinha reuniões que tirassem o véu, como uma forma de melhorar a comunicação.

Segundo ele, até agora todas elas aceitaram o pedido.

As declarações de Straw provocaram reações variadas na comunidade islâmica. Enquanto alguns líderes religiosos chamaram o político de “desinformado” e “preconceituoso”, outros disseram entender suas preocupações e lembraram que as mulheres tinham a opção de retirar o véu.

A polêmica sobre integração de diferentes culturas na sociedade britânica ficou mais evidente depois dos ataques a bomba de 7 de julho de 2005, realizados por radicais islâmicos nascidos e criados na Grã-Bretanha.

Encontros com estranhos

Jack Straw foi eleito para o Parlamento como o representante de Blackburn, onde 30% dos residentes são muçulmanos. Em entrevista à “BBC”, ele explicou que os véus têm um impacto importante numa sociedade que valoriza as expressões faciais no contato entre as pessoas.

“As comunidades se unem, em parte, através de encontros casuais entre estranhos, quando as pessoas se cumprimentam na rua ou perguntam a hora a alguém. Isso é dificultado se as pessoas estão usando véus. É um fato da vida”, afirma ele.

Quando questionado sobre o direito de cada um de vestir o que quiser, o ex-ministro do Exterior disse que a escolha era das mulheres muçulmanas e que, quando ele perguntava se elas poderiam tirar o véu durante uma reunião, ele deixava claro que isso era apenas um pedido.

“O que me chamou a atenção quando conversava com essas mulheres foi que elas não estavam, eu acho, completamente cientes do impacto [do uso do véu] nas relações em comunidade”, disse Straw.

“Elas só haviam pensado nisso como uma forma de expressão. Em alguns casos, elas se definem como muito religiosas – e eu respeito isso – mas queria que esse assunto fosse discutido.”

Straw também disse que, pessoalmente, preferiria que nenhuma mulher usasse o véu, mas frisou que não queria soar como se estivesse dando ordens a ninguém.

Ele também manifestou preocupação com a cultura de “guetos” na Grã-Bretanha, onde em alguns lugares há bairros “brancos” e “asiáticos”.

Repercussão

Depois da publicação do artigo de Jack Straw em seu jornal local, a Comissão Islâmica pelos Direitos Humanos classificou as declarações do político de “surpreendentes” e “preconceituosas”.

A Organização de Proteção ao Véu (Hijab) disse que os comentários eram “terríveis” e demonstravam “uma falta de conhecimento profunda” sobre o assunto.

O diretor de política do Partido Conservador Oliver Letwin disse que era “perigoso” dizer às pessoas como se vestir, já que isso poderia levar a uma situação em que não se permitem diferenças porque elas criariam divisões na sociedade.

Mas Daud Abdullah, do Conselho Muçulmano da Grã-Bretanha, disse que entendia o desconforto manifestado por Jack Straw, lembrando que as muçulmanas podiam escolher não cobrir o rosto.

Fonte: Folha Online

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