Presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko - abril 2018
Presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko

O presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, propôs nesta quinta-feira no parlamento do país a criação de uma Igreja Ortodoxa Ucraniana independente do Patriarcado de Moscou, uma decisão que considerou de importância “geopolítica”.

“Esta decisão vai muito além do âmbito eclesiástico. Trata-se da nossa independência definitiva de Moscou. Aqui não falamos só de religião, mas de geopolítica”, disse Poroshenko em seu discurso na Rada Suprema (parlamento).

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Poroshenko, um cristão confesso, assegurou que o que está em jogo é a “segurança nacional e a defesa frente a guerra híbrida” da Rússia, já que “o Kremlin vê a Igreja Ortodoxa Russa (IOR) como um dos seus principais instrumentos de influência na Ucrânia”.

“Não vamos permanecer indiferentes diante da ingerência de outro Estado em nossos assuntos eclesiásticos, diante de suas tentativas de utilizar em seu próprio interesse o sentimento de uma parte dos ortodoxos ucranianos”, disse Poroshenko.

Além disso, o presidente ressaltou que, para ele, a criação de uma igreja independente “tem o mesmo peso” que conseguir o Acordo de Associação com a União Europeia (UE), o regime sem exigência de vistos e a entrada na UE e na Otan.

A proposta de Poroshenko de enviar um pedido nesse sentido ao Patriarcado de Constantinopla recebeu o apoio de 268 deputados, 42 a mais que o necessário.

A Ucrânia espera que o patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I, emita tomos (decreto) que permitam que a Ucrânia crie sua própria Igreja, que segue vinculada ao Patriarcado de Moscou desde 1686.

Além disso, como reconheceu o próprio presidente ucraniano, essa iniciativa deve contar com o apoio das igrejas que integram a comunidade ortodoxa, que inclui países como Grécia, Sérvia, Romênia, Bulgária e Geórgia.

Poroshenko revelou que tratou desse assunto durante várias horas no último dia 9 com Bartolomeu I, uma reunião que o encorajou a dar esse passo.

Além disso, Poroshenko disse que a criação da nova igreja não violará os direitos fundamentais dos ucranianos, entre eles a liberdade de credo.

“A Igreja Ortodoxa Unida não será estatal. Todos os fiéis têm e terão o direito a escolher livremente, tanto o seu templo como a sua jurisdição eclesial. Quem quiser permanecer na Igreja que mantém unidade com a IOR, terá seu direito de escolha garantido”, explicou o presidente.

O líder ucraniano considerou “inaceitável” recorrer à força, às proibições e à violência nas relações inter-religiosas.

“Haverá autocefalia. O tempo colocará cada um em seu lugar. Não em um dia, nem em um mês, inclusive, nem em um ano, mas vai acontecer”, insistiu Poroshenko.

A IOR não demorou em responder à Ucrânia por meio do metropolita Hilarion, que lembrou que a Igreja Ortodoxa Russa “é uma só e nasceu nas fontes batismais de Kiev e do rio Dnieper”.

Além disso, Hilarion lembrou que ninguém, nem sequer o Patriarcado de Constantinopla, pode “unilateralmente” proclamar a autocefalia de uma Igreja.

Atualmente, na Ucrânia há três igrejas ortodoxas: uma dependente de Moscou e que é majoritária; outra do Patriarcado de Kiev e uma terceira, que se desvinculou da Rússia em 1920 e se autoproclamou Igreja Autocefálica Ortodoxa da Ucrânia.

Além disso, está a Igreja Greco-Católica Ucraniana, a que a IOR acusa de se apropriar de suas dioceses no oeste da Ucrânia e de promover a rebeldia contra Moscou, e que então contou com o apoio aberto do papa João Paulo II.

Fonte: EFE via UOL

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