Falecida em 1992, Irmã Dulce, conhecida por suas obras sociais na Bahia, pode se transformar na personalidade brasileira cujo processo de canonização avançou mais rapidamente no Vaticano. A expectativa é que a beatificação seja concedida num prazo de até dois anos.

No último dia 3 de abril, o Papa Bento XVI aprovou decreto que reconheceu Irmã Dulce como “venerável”, último passo antes de beatificação. Na prática, significa dizer que a Igreja Católica reconheceu que as virtudes da vida da religiosa e não há nada que nela, dentro dos princípios da fé católica, que possa desaboná-la.

– Temos mais de três mil relatos de graças pedidas à irmã Dulce e alcançadas – diz o bispo auxiliar de Salvador, Josafá Menezes da Silva.

Até o fim deste ano, deve ser relatado ao Vaticano o primeiro milagre atribuído à religiosa. Trata-se de uma mulher que teve hemorragia no parto, foi desenganada pelos médicos e, após orações à Irmã Dulce, melhorou sem explicações científicas. Ao ser chamado em horário de descanso, o médico que a atendeu chegou a pensar que deveria ir até a paciente para assinar o atestado de óbito. O milagre teria ocorrido em 2000 e até hoje, mãe e filho passam bem. Seus nomes são mantidos em sigilo, como exige o Vaticano, sob pena de colocar por terra o mais novo passo para a beatificação de Irmã Dulce.

– Viver uma vida de virtudes heróicas é o mais importante para um santo – diz Roberto Vaz, bispo auxiliar de Niterói, no Rio, especialista em canonização.

Se depender dos fiéis, Irmã Dulce não precisa esperar pelo Vaticano para ser aclamada como santa. Centenas de pessoas visitam diariamente o mausoléu da religiosa na Capela de Santo Antonio. Os restos mortais de Irmã Dulce, no entanto, em breve terão novo endereço, a cripta de sua própria Igreja, que vem sendo erguida desde 2001 em espaço próximo às suas obras sociais, no lugar de um antigo cinema do Círculo Operário. A cripta ocupará o local das antigas bilheterias, bem na entrada do tempo. A igreja tem capacidade para mil pessoas.

Para o bispo Vaz, contribui para o andamento do processo a maior rapidez nas comunicações e também as causas mais modernas. O próprio cardeal José Saraiva Martins, prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, em visita à Bahia, se impressionou com as obras sociais da irmã e teria dito que só elas já “representam um milagre”. Hoje, pelo menos 4 mil pessoas são atendidas obras sociais da irmã, incluindo o Hospital Santo Antonio, por ela fundado.

Maria Rita Pontes, sobrinha da religiosa e presidente das Obras Assistenciais Irmã Dulce, afirma que todas as atividades são mantidas por doações e, no caso do hospital, também com verbas repassadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Nascida Maria Rita Brito Lopes Pontes, em maio de 1914, Irmã Dulce se tornou freira pela Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição, em Sergipe, mas deixou o convento – mantendo os votos – para se dedicar à caridade na Bahia.

Irmã Dulce chega a ser reconhecida como a Madre Teresa do Brasil, numa referência à Madre Teresa de Calcutá.

O fato de ter seu trabalho reconhecido em todo o país ajuda.

– A mídia não faz o santo, mas ajuda para que a Igreja se interesse pela causa – resume Vaz.

Fonte: O Globo online

Comentários