Favorito para vencer as primárias do Partido Republicano e concorrer contra Obama em 2012, ele sofre rejeição nas urnas por ser mórmon
O ex-governador republicano de Massachusetts Mitt Romney fala e se comporta como o futuro presidente dos EUA, tanto em debates quanto no corpo a corpo com os eleitores. A pedra no caminho de Romney para concorrer com o presidente Barack Obama em 2012, porém, não diz respeito à arrecadação de fundos nem a seus planos de governo, mas à sua religião. Ele é mórmon.
Para as primárias de 2012, o Partido Republicano apresentará dois candidatos mórmons. Além de Romney, o ex-governador de Utah e ex-embaixador dos EUA em Pequim Jon Huntsman também segue a doutrina da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, fundada em 1830 por Joseph Smith, autodenominado “profeta”, que foi o primeiro mórmon a candidatar-se à presidência dos EUA, em 1844 – ele acabou sendo também um dos primeiros candidatos à Casa Branca a ser assassinado em campanha.
A religião tem mais de 3 milhões de seguidores nos EUA, ou 1,4% da população, segundo dados de 2008, e 15 dos 535 membros do Congresso. Para as ambições eleitorais de Romney e de Huntsman, a religião torna-se um problema porque o mormonismo não é visto como cristão por boa parte dos americanos – noção contestada veementemente por eles.
Pesquisa encomendada pela NBC/Wall Street Journal e divulgada na semana passada apontou a resistência de 21% dos eleitores em votar em Romney por causa de sua religião. O quadro parece estável em relação a consultas anteriores. Conforme pesquisa do instituto Gallup de junho, 22% de eleitores não dariam seu voto a um mórmon. O instituto Pew Research, em julho, havia registrado essa rejeição em 25% dos consultados.
Com o acirramento da disputa entre os oito pré-candidatos republicanos, a crença de Romney transformou-se em munição para o governador do Texas, Rick Perry, um líder evangélico amador cuja campanha custa a deslanchar. Perry está em terceiro lugar, atrás do novato Herman Cain, empresário negro de sucesso agora pressionado por causa de denúncias de ter cometido assédio sexual nos anos 90.
[b]Candidato evita responder aos ataques rivais[/b]
No início do mês, o pastor Robert Jeffrey, da Primeira Igreja Batista de Dallas, usou o adjetivo pejorativo “culto” para classificar a doutrina mórmon. “Mitt Romney não é um cristão”, afirmou. O governador do Texas, Rick Perry, aproveitou para intensificar as críticas contra Romney. “Você mede um líder pela maneira como ele anda, não como ele fala. Eu tenho um passado conservador e tenho orgulho disso”, afirmou Perry, em referência ao tom mais à direita adotado por Romney, antes um republicano moderado.
Romney acabou defendido na sexta-feira pelo vice-presidente dos EUA, Joe Biden, democrata e católico, para quem a resistência ao republicano por causa de sua religião é “ultrajante” e “preconceituosa”.
Segundo o analista político conservador Michael Barone, a escolha de um candidato republicano mórmon parece hoje mais preocupante do que em 1968, quando o pai de Romney, George, concorreu nas primárias republicanas à Casa Branca.
Se Romney for escolhido, observa Barone, a questão religiosa não deverá atrapalhar sua disputa com Obama. “O eleitor republicano estará mais identificado com o partido do que com outros temas na eleição geral.”
Romney, neste momento, evita discutir a questão publicamente. Prefere se concentrar nos desafios econômicos, reforçar suas recentes posições contrárias ao aborto e ao casamento entre homossexuais e mascarar as semelhanças entre a reforma dos planos de saúde que adotou em Massachusetts e a do presidente Barack Obama. Questionado sobre a declaração do pastor Robert Jeffrey, Romney esquivou-se.
[b]Doutrina[/b]
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, nos EUA, promete pouca ajuda a Romney e ao ex-embaixador dos EUA em Pequim Jon Huntsman, também mórmon e pré-candidato republicano.
A neutralidade política está expressa na página da igreja na internet. “Não endossamos nenhuma candidatura em nenhuma eleição”, afirmou Ahmad Corbitt, diretor de assuntos públicos e internacionais da igreja em Nova York. “Não discutimos questões políticas. Apenas as questões morais. Se a política trata de um tópico moral, podemos dar a nossa opinião, mas desde um ponto de vista estritamente moral.”
[b]Fonte: Estadão[/b]