Desde 2011 a Rússia não entrava para a Lista Mundial da Perseguição, que elenca os 50 países onde os cristãos são mais perseguidos.
Este ano o país atingiu 60 pontos, nove a mais que em 2018, o que o levou a ocupar a 41ª posição.
Três tipos de perseguição predominam no país e explicam por que ele entrou na Lista: opressão islâmica, paranoia ditatorial e protecionismo denominacional.
A opressão islâmica é presente na região do Cáucaso, onde militantes islâmicos lutam contra o exército russo para estabelecer um emirado muçulmano.
Muitos russos já deixaram a região devido à violência e o número de fiéis nas igrejas diminuiu. Cristãos ex-muçulmanos têm que manter a fé em segredo para não serem executados.
Em Cazã, capital da república do Tartaristão, no rio Volga, a influência do islamismo também está crescendo.
Em 2018, houve ao menos dois ataques de militantes islâmicos a igrejas ortodoxas russas.
A legislação do país também é constantemente adaptada, tornando-se mais restritiva. Na região de Nizhny Novgorod, por exemplo, agências de reforço da lei pressionam os protestantes.
Eles usam tanto emendas “antimissionários” e leis de imigração para punir igrejas e seus membros por atividades como convidar estudantes para festas e postar vídeos de adoração nas mídias sociais.
A Igreja Ortodoxa Russa (IOR), que é favorecida pelo governo, é a única igreja considerada tipicamente russa.
O catolicismo e, principalmente, o protestantismo são vistos como ocidentais e estrangeiros.
Atividades evangelísticas por igrejas que não sejam a IOR não são bem-vindas e elas são acusadas de roubar o rebanho da IOR e de falsos ensinamentos.
Perseguição aos cristãos
A maior parte da perseguição aos cristãos na Rússia vem do ambiente muçulmano. Família e amigos de cristãos ex-muçulmanos, assim como a comunidade local e professores islâmicos se opõem à evangelização de muçulmanos nas regiões de maioria muçulmana.
Outra fonte de pressão sobre cristãos vem de oficiais do governo em vários níveis, principalmente ao impor leis restritivas.
Muitos russos em Daguestão, Chechênia, Ingushetia, Kabardino-Balkaria e Karachay-Cherkesia deixaram o país devido a combates e as igrejas viram o número de membros cair.
A Igreja Ortodoxa Russa é a que enfrenta menos problemas da parte do governo. Igrejas não registradas e ativas em evangelismo podem enfrentar obstrução em forma de vigilância e interrogatórios.
São os cristãos ex-muçulmanos nativos em regiões de maioria islâmica que suportam o peso da perseguição tanto por parte da família e amigos, como da comunidade local. Em algumas áreas, eles têm que manter a fé em segredo por medo de serem executados.
Em dezembro de 2016, o pastor de uma igreja não registrada do Conselho de Igrejas Batistas na região de Zabaikalsk se tornou o primeiro líder religioso condenado por não notificar as autoridades sobre as atividades do grupo.
Em 6 de dezembro de 2016, o gabinete regional do procurador afirmou que após uma inspeção de “conformidade com a legislação sobre atividade extremista, liberdade de consciência, de religião e crença, e associações religiosas”, os procuradores do distrito de Chernyshevsk estavam condenando o pastor sob o artigo 19.7 do Código Administrativo (“falta ou atraso em provisionar informação a um órgão do Estado”). Isso acarreta uma multa de 100 a 300 rublos para indivíduos e 300 a 500 rublos para pessoas com cargo oficial.
No começo de 2017, o pastor protestante indiano Victor-Immanuel Mani foi o primeiro caso conhecido de um estrangeiro sendo deportado sob a Parte 5 do Artigo 5.26 do Código Administrativo (“estrangeiros realizando atividade missionária”).
Ele pretende apelar e seu advogado atesta que a ordem de deportação está em contradição com uma lei de 2013 da Suprema Corte, segundo a qual “expulsão do país que é o lar dos membros da família do réu viola o direito de respeito à vida familiar”.
Entre março e julho de 2017, houve onze acusações (nove de organizações e duas de líderes de comunidades) sob a Parte 3 (“implementação de atividades por organizações religiosas sem indicar o nome oficial completo, inclusive a expedição ou distribuição, dentro da categoria de atividade missionária, de literatura e material impresso, de áudio ou vídeo sem uma etiqueta com o nome, ou com uma etiqueta incompleta ou deliberadamente falsa”).
Houve 35 acusações (três de organizações e 32 de indivíduos) sob a Parte 4 (“russos realizando atividade missionária”) e sete acusações de indivíduos sob a Parte 5 (“estrangeiros realizando atividade missionária”). Fonte: Forum 18
Em fevereiro de 2018, um radical islâmico atacou uma igreja ortodoxa russa em Kislyar, no Daguestão. Cinco mulheres cristãs foram mortas e outras cinco ficaram feridas.
O Estado Islâmico assumiu a responsabilidade pelo ataque em uma declaração publicada pela agência de informação do grupo, Amaq. A declaração não deu nenhuma evidência para comprovar a alegação.
Em maio de 2018, extremistas islâmicos atacaram uma igreja ortodoxa russa em Grozny, na Chechênia, matando um cristão. O líder da igreja disse que os fiéis ouviram gritos de “allahu akbar” (Deus é grande, em árabe) do lado de fora.
Na região de Nizhny Novgorod, agências de reforço da lei pressionam os protestantes. Eles usam tanto emendas “antimissionários” e leis de imigração para punir igrejas e seus membros por atividades como convidar estudantes para festas e postar vídeos de adoração nas mídias sociais.
Juízes multaram e ordenaram a deportação de dois cristãos africanos da Academia Médica de Nizhny Novgorod por, aparentemente, postar vídeos nas redes sociais.
Os dois estudantes deportados tiveram permissão de ficar no país para completar seus exames finais, mas tiveram que deixar o país até 30 de junho de 2018.
Outro incidente que contribuiu para o aumento na pontuação da Rússia foi a dificuldade enfrentada especialmente por igrejas não ortodoxas na Crimeia, relativa à obrigatoriedade de fazer um novo registro de suas igrejas depois que a Rússia anexou essa península, em 2014, que antes pertencia à Ucrânia.
Fonte: Missão Portas Abertas