A Igreja Católica em São Paulo deflagrou ontem uma ofensiva contra a Igreja Universal e a candidatura de Celso Russomanno (PRB) a prefeito da capital. Ele é líder isolado das pesquisas de intenção de voto.

A Arquidiocese determinou a padres de suas 300 igrejas que lessem durante as missas de ontem artigo do cardeal arcebispo dom Odilo Scherer -maior autoridade católica da cidade- com críticas à campanha de Russomanno e à “manipulação política da religião”.

O candidato é apoiado pela Universal, que é ligada ao PRB e tem divergências doutrinárias com os católicos.

A nota da Igreja Católica é uma nova investida específica contra um texto escrito por Marcos Pereira, bispo licenciado da Universal, presidente do PRB e chefe da campanha de Russomanno.

O texto de Pereira foi publicado em 2011, mas recentemente voltou a circular nas redes sociais.

Nesse texto, Pereira liga a Igreja Católica à proposta de distribuição do chamado “kit gay”. O material, que foi idealizado na gestão de Fernando Haddad (PT) -hoje também candidato- no Ministério da Educação, visava combater a homofobia nas escolas, mas foi suspenso pela Presidência após críticas da comunidade evangélica.

O texto de Pereira já havia motivado uma nota assinada pela assessoria da Arquidiocese durante a semana. Ontem, a igreja reforçou a mensagem ao determinar que o novo texto, assinado pelo próprio d. Odilo, fosse lido em todas as cerimônias.

A Arquidiocese estima que 600 mil católicos participem das missas aos domingos.

Na celebração na Catedral da Sé, comandada por d. Odilo, ele falou da necessidade de esclarecimentos sobre “um ataque contra a Igreja Católica”.

Seu artigo então foi lido. Intitulado “Política com ofensas à Igreja, não!”, ele classifica o texto de Pereira de “ataque inaceitável” contra os católicos de todo o Brasil. “As coisas ali ditas são difamatórias e beiram ao absurdo.”

“Muito nos entristeceu, no contexto da propaganda eleitoral partidária, ver a igreja atacada e injuriada, de maneira injustificada e gratuita, justamente num artigo do chefe da campanha de um candidato à prefeitura.”

O texto começa lembrando orientação da igreja para que “espaços e momentos de celebrações não sejam utilizados para a propaganda eleitoral partidária nem para pedir votos para candidatos”.

Na última semana, a Folha mostrou que uma das sedes da Universal era usada como comitê informal de Russomanno. Pastores da Assembleia de Deus também pediram votos para o candidato em uma celebração.

“Entendemos que o voto dos cidadãos é livre e não deve ser imposto aos fiéis como cabresto eleitoral nem devem nossos templos ser transformados em currais eleitorais.” Ao final, o texto foi aplaudido pelos fiéis na missa na Sé.

Na Paróquia de Santa Cecília, também no centro, o texto foi lido nas seis missas. “Ele [Scherer] mandou o texto para que as pessoas fiquem sabendo o que está acontecendo”, disse o padre Alfredo Nascimento Lima.

Contatado, Pereira disse que não comentaria a carta, para tentar “encerrar o assunto”. Durante a semana ele havia dito que lamentava uso eleitoral de seu texto.

[b]Russomanno diz que não fará ‘guerra santa’ em SP[/b]

Em resposta à nota assinado pelo cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, o candidato do PRB à prefeitura, Celso Russomanno, disse que não iria polemizar com o cardeal. “Não vamos fazer uma guerra santa em São Paulo.”

Durante carreata pelos bairros de Brasilândia e Parada de Taipas, na zona norte, Russomanno afirmou que os ataques à sua candidatura são demonstração de “desespero” de seus adversários.

Perguntado sobre a influência da Igreja Universal em sua campanha, o candidato se recusou a comentar o assunto. “Não adianta mais a gente ficar discutindo o sexo dos anjos”, disse. Marcos Pereira, coordenador de campanha de Russomanno e presidente nacional do PRB, é bispo licenciado da instituição.

“Quer dizer que agora porque determinada pessoa é de uma religião não pode participar de um determinado partido?”, perguntou o candidato. E, então, repetiu uma frase que havia dito no dia anterior: “Religião é religião, política é política”.

Na semana passada, em resposta ao primeiro ataque da Igreja Católica à sua candidatura, Russomanno disse em seu programa televisivo que está sendo vítima de um “jogo sujo” pelo poder desde que se tornou líder nas pesquisas de intenção de voto.

Segundo a última pesquisa Datafolha, o candidato do PRB lidera com 32% das intenções de voto e é seguido por José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT), tecnicamente empatados em segundo, com 20% e 17%.

[b]MARTA E LULA
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No sábado, a recém-empossada ministra da Cultura Marta Suplicy definiu Russomanno como “lobo em pele de cordeiro”. A afirmação aconteceu durante comício em apoio à candidatura petista de Fernando Haddad.

O ex-presidente Lula, por sua vez, disse que o candidato do PRB não possui um programa de governo.

“Não vou baixar o nível da campanha”, respondeu Russomanno. “Se tenho batido na mesma tecla, e eles estão fazendo ataques à minha pessoa, quem não tem programa não sou eu.”

Prevista para terminar em frente à estação Perus da CPTM, a carreata de Russomanno foi interrompida. Segundo assessores, o candidato se atrasou para outro compromisso e decidiu encerrar o evento.

[b]Fonte: Folha de São Paulo[/b]

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