O Nobel da Literatura José Saramago (foto) propôs esta semana um “pacto de não agressão” entre o Islão e o Cristianismo, que vá mais além da Aliança das Civilizações, uma proposta da Europa que considerou insuficiente.

Acreditamos que não vamos a lado nenhum com a Aliança das Civilizações [iniciativa para combater preconceitos e incompreensões entre culturas]. É uma boa idéia, generosa, mas é imprescindível um pacto de não agressão entre o Islã e o Cristianismo”, evitando assim a escala de atentados terroristas “em nome de Deus”, disse.

O apelo de Saramago foi feito num encontro com jornalistas em San Sebastián, onde o Nobel da Literatura se encontra integrado no júri do Festival Internacional de Cinema.

Analisando alguns dos temas mais prementes da agenda mundial, o escritor português aludiu a preocupações globais como o terrorismo, o fanatismo e a imigração.

Para Saramago, quem mata «em nome de Deus, converte-o num assassino», sendo essencial “o respeito entre as crenças”.

Para o Nobel da Literatura, esta intolerância “manifesta-se agora mais no Islã, ainda que não na sua totalidade, da mesma maneira que no País Basco nem tudo é a ETA”.

”O fato é que temos má memória. O que eles fazem agora é o que nós fizemos no passado com a Inquisição, que não era senão uma organização criminosa que queimava as pessoas por questões religiosas ou de sexo”, afirmou.

”Não acredito em Deus, mas se existe só há um, independentemente da sua forma”, disse, relembrando a sua condição de ateu.

Entre as causas do despertar do fanatismo islâmico no ocidente, disse Saramago, estão o desprezo com que sempre se tratou “tudo o que tem a ver com os árabes e os asiáticos”.

”Víamo-los como uma paisagem onde só íamos sacar e, claro, cansaram-se disso”, afirmou.

Comentando a onda de imigração massiva e descontrolada, nomeadamente a procedente de África, José Saramago defendeu a análise «à escala planetária» de uma estratégia que “não adie o inevitável”, referindo estatísticas que apontam que 40 milhões de africanos gostariam de abandonar o continente.

”É como um copo de água onde uma só gota mais o verterá, algo que conheço pessoalmente porque vivo nas Canárias, onde diariamente chegam centenas de pessoas”, disse.

”Para eles a exploração laboral é a glória, porque vêm de um sítio onde morrem de fome. Mas isso não resolve o problema”, sublinhou.

Nesse sentido, defendeu mais apoio ao desenvolvimento dos países mais pobres que, durante anos, “têm sido explorados pelos países ocidentais” e que, quando saem, “os deixam sem infra-estruturas e sem nada”.

Saramago considerou ainda que, no momento atual, os escritores e cineastas “já não podem compor o mundo”.

”Numa época como a nossa, onde a informação nos chega em tempo real, não se pode esperar para ver o que diz uma obra literária, já que sempre o faria com atraso. Tudo o que pode é dar uma visão mais completa, profunda ou diferente”, afirmou.

Fonte: Diário Digital

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