A promessa do pastor Silas Malafaia (foto) de “arrebentar” com a candidatura de Fernando Haddad para prefeito de São Paulo, rendeu críticas severas a ele no meio evangélico e fora.

O reverendo Paulo Siqueira, líder do Movimento pela Ética Evangélica Brasileira (MEEB) e pioneiro do movimento ‘Voltemos ao evangelho puro e simples’, postou em sua página esta semana duras críticas ao pastor Silas Malafaia que tem aparecido em vídeos apoiando o candidato à prefeitura de São Paulo, José Serra (PSDB).

Em seu texto, que fala sobre o domínio de coronéis a grandes empresários, Paulo aponta o pastor Silas como herege, lamentando que o “dinheiro e o poder são os veículos que conduzem a política brasileira”.

“O sr. Silas e sua turma de hereges contemporâneos têm, há muito tempo, deturpado os valores do verdadeiro Evangelho com arrogância, ganância desenfreada, em busca dos valores deste mundo”.

O reverendo destaca que Silas Malafaia não está falando em nome de todos os evangélicos. Segundo ele, a inserção muito forte da religião nas eleições de São Paulo faz com que as pessoas possam ter a impressão de que ele esteja falando em nome de todos os evangélicos.

Paulo ainda sugere que Silas estaria em busca de poder já que dinheiro não lhe falta. “Agora, após conquistar mansões, carros importados, aviões, joias, roupas de grife, ou seja, todos os prazeres que este mundo oferece (porém não sacia e não traz a paz), o Sr. Silas, se apoiando de forma totalmente errônea a versículos isolados da Bíblia, investe na busca do poder político”.

E reafirma que Silas Malafaia não representa os “verdadeiros evangélicos deste país” e que o “povo chamado ‘protestante’ ainda existe, e está atuante, sem temer os poderes deste mundo”.

O pastor diz que está denunciando o erro e chamando a todos para viver um Evangelho puro e simples.

“Por isso que denunciamos e trazemos a verdade, para que o mundo saiba que os valores cristãos estão acima dos valores deste mundo, e que Silas Malafaia e sua turma estão aquém do verdadeiro Evangelho de Cristo. Assim, que todos estejam atentos”.

Recentemente o jornalista Marcelo Carneiro da Cunha, escritor e colunista do Terra Magazine, afirmou que o pastor Silas Malafaia surgiu “de algum lugar escuro e assustador” para opinar a respeito das decisões que o paulistano deve tomar pensando nas necessidades da cidade de São Paulo: “Silas Malafaia não é líder de nenhum partido, não é representante de nenhuma instituição republicana, não é um sujeito particularmente informado da vida paulistana, mas, por algum motivo que me escapa, se sente em condição de vir até aqui para definir a eleição para prefeito da maior cidade do Brasil. Mais: bom cristão, Malafaia cristãmente anuncia que vai arrebentar Haddad. Arrebentar”.

A crítica do jornalista se torna mais enfática contra o pastor da ADVEC: “Arrebentar, lá em casa, é algo que vilões fazem. Vilões arrebentam porque eles são isso mesmo, vilões. Silas Malafaia, ao menos quando o vejo nos programas de tevê, me parece simplesmente um dos sujeitos mais desinteligentes da televisão brasileira, e olhem que estamos falando da televisão brasileira. Aberta”, ironiza.

O descrédito da parte do jornalista em relação ao pastor e sua propriedade para falar sobre os assuntos ligados à eleição municipal em São Paulo parte de episódios anteriores em que o pastor se envolveu em outras confusões: “Eu vivo em São Paulo e nunca me senti precisando de sugestões de qualquer pastor especializado em gritarias para escolher o meu prefeito. São Paulo não me parece uma cidade que dê muita bola para o que um Silas Malafaia tenha a dizer. Tudo que eu o vi fazer até hoje foi babar, soprar, gritar, e casa alguma cair. Estou enganado?”, questiona o jornalista.

Recentemente, uma pesquisa feita pelo Datafolha apontou alto índice de rejeição a candidatos apoiados por lideranças religiosas. Na época, o caso que motivou a pesquisa e ilustrava uma situação atípica era o apoio informal da Igreja Universal do Reino de Deus ao candidato Celso Russomanno (PRB), que não conseguiu votos para estar no segundo turno da disputa, depois de liderar boa parte das pesquisas de intenção de votos durante a campanha.

Confira abaixo a íntegra do artigo “Malafaia, o arrebentador”, do jornalista Marcelo Carneiro da Cunha:

Eleição, na teoria, era para ser uma disputa entre ideias diferentes, representadas por partidos e candidatos diferentes, apresentadas aos eleitores para que eles escolham o que acha melhor para sua cidade, estado, país, edifício, clube de futebol, ou presidente da associação de boliche do bairro.

Numa eleição em dois turnos, existe a vantagem extra de a gente poder olhar para várias escolhas, tipo gôndola em hipermercado, testar, cheirar, sacudir, colocar e tirar do carrinho, antes de eliminar a todos menos dois. Esses, agora finalistas, recebem tempo extra na tevê e toda a atenção do mundo para que deixem claro a que vieram, o que propõem, que planos mirabolantes podem ter para salvar a cidade do abismo, enfim, governar.

E para governar essa muita coisa chamada São Paulo, temos os candidatos José Serra em um canto do ringue, e Fernando Haddad do outro. Fortes candidatos, com fortes biografias, fortes apoios, e nada que diga que um ou outro, qual Russomanno, vieram de Marte diretamente para assustar as criancinhas no horário eleitoral. Serra e Haddad são pra valer.

E o que deveríamos esperar, portanto, seria o confronto entre um e outro, a comparação entre duas biografias – a de um veterano prefeito, ministro e governador versus a de um jovem e promissor ministro -, a comparação dos respectivos projetos, das respectivas visões, deles e dos seus partidos e aliados; a comparação do que a cidade ganha e perde com um e outro, para então cada eleitor ir até lá e pimba, cravar o seu voto.

No entanto, quem surge querendo ser arma secreta nesse processo, vindo diretamente de algum lugar escuro e assustador onde ele vive e exercita a sua, digamos, profissão, é o nosso estimado Silas Malafaia.

Silas Malafaia não é líder de nenhum partido, não é representante de nenhuma instituição republicana, não é um sujeito particularmente informado da vida paulistana, mas, por algum motivo que me escapa, se sente em condição de vir até aqui para definir a eleição para prefeito da maior cidade do Brasil. Mais: bom cristão, Malafaia cristãmente anuncia que vai arrebentar Haddad. Arrebentar, caros leitores eleitores.

Arrebentar, lá em casa, é algo que vilões fazem. Vilões arrebentam porque eles são isso mesmo, vilões.

Silas Malafaia, ao menos quando o vejo nos programas de tevê, me parece simplesmente um dos sujeitos mais desinteligentes da televisão brasileira, e olhem que estamos falando da televisão brasileira. Aberta.

Ainda assim, ele se considera no direito e em condições de vir até São Paulo arrebentar um dos nossos candidatos a prefeito. E eu pergunto aqui aos meus estimados leitores eleitores: quem deixou? Quem mandou? Quem pediu?

Eu vivo em São Paulo e nunca me senti precisando de sugestões de qualquer pastor especializado em gritarias para escolher o meu prefeito. São Paulo não me parece uma cidade que dê muita bola para o que um Silas Malafaia tenha a dizer. Tudo que eu o vi fazer até hoje foi babar, soprar, gritar, e casa alguma cair. Estou enganado?

Então, como esse sujeito se acha no direito de vir até aqui arrebentar um dos nossos candidatos a prefeito? Eu não acredito que ele tenha o direito de arrebentar qualquer um dos nossos candidatos, e acredito que a única coisa que ele pode arrebentar é uma artéria, berrando daquele jeito, com aqueles olhos de quem viu a bomba.

Malafaia quer arrebentar Haddad porque no Ministério da Educação foi desenvolvido um material de combate ao bullying contra meninos e meninas gays nas escolas públicas. Malafaia quer arrebentar um ministro que combateu a discriminação e a intolerância nas escolas. Malafaia quer dizer à cidade mais tolerante e diversa do Brasil que um ministro que combate a intolerância não pode ser prefeito, justamente de São Paulo.

Pois vou fazer uma previsão aqui, diante dos meus milhares de estimados leitores: vamos ver um burro dando com os burros n´agua. Essa cidade recebe a todos, lida com o todo, aceita a todos, especialmente os que venham pra cá dispostos a gostar dela e nela trabalhar e viver, tornando-se assim, tão simplesmente, mais um paulistano, orgulhoso da sua cidade e da maior riqueza que ela possui, e que é a sua gente, mesmo que nem sempre admita isso em público.

Malafaia diz que vai arrebentar um dos candidatos a prefeito da minha cidade. Pois eu acho que ele vai dar de nariz já em um vidro do aeroporto em Congonhas e a experiência pode ser dolorosa.

Minha sugestão ao Grande Arrebentador é que não venha, não tente fazer isso na minha, na nossa cidade. A vítima, estimado Malafaia, pode ser você. E vai ser você.

Fica a dica.

[b]Fonte: The Christian Post e Gospel +[/b]

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