Aprovada nessa quinta-feira (18) na Câmara de Vitória, capital do Espírito Santo, a lei que torna as igrejas atividade essencial continua gerando polêmica entre lideranças religiosas e políticas.
Em vídeo gravado depois da sessão do legislativo municipal, o pastor Kenner Terra, coordenador do Fórum Evangelho e Justiça, afirma: “Tornar a igreja, numa suposta sensibilidade aos mais pobres, um serviço essencial, é colocar as pessoas em risco”.
Para Terra, a “igreja, enquanto corpo de Cristo, não entrou na discussão aqui, mas sim os templos, se os cultos no templo deveriam se tornar serviços essenciais”, destacando que o “decreto aqui no nosso Estado não impede que as igrejas funcionem. Há uma nota técnica do Ministério Público, inclusive, que determina, aponta as orientações de que como esse culto deve acontecer”.
No Espírito Santo as mortes estão aumentando, os contaminados também, comenta o pastor: “Ainda não chegou a hora de voltarmos protegidos por um projeto como esse”.
A proposta foi aprovada em regime de urgência, por oito votos favoráveis e cinco contra. De autoria dos vereadores Leonil (Cidadania), Davi Esmael (PSD) e Wanderson marinho (PSC), recebeu uma emenda que estabelece regras a fim de atender às recomendações de enfrentamento à pandemia do coronavírus.
O pastor Kenner Terra afirma que, ao tornar o culto e as igrejas um serviço essencial, é gerado um problema: “Tornado um serviço essencial, caso haja a necessidade de um lockdown, diante de muitas mortes, da falta de espaço nos leitos, a igreja está blindada e poderá funcionar. Isso não é defender a igreja, é colocar o povo em risco”, reforçou.
Ele ressalta que todos sabem da importância da igreja, da importância do serviço que a igreja presta. “Ah, mas as igrejas carentes dos bairros pobres não têm acesso das igrejas mais ricas e do Centro, Ok, então vamos proporcionar algo que de alguma maneira resolva isso, mas tornar a igreja, numa suposta sensibilidade aos mais pobres, um serviço essencial, é colocar as pessoas em risco”, repete e faz um apelo.
“Eu gostaria de pedir aos pastores para evitar os cultos presenciais, mesmo com essa lei aprovada, que agora vai para o prefeito [Luciano Rezende, Cidadania], para sancionar ou não. Imaginemos que o prefeito sancione; você, pastor, não leve o povo para dentro do templo. Busque ajuda de outras formas, assista pastoralmente, sirva, faça o trabalho que já estamos fazendo, mas também protegendo o seu povo de ser contaminando”.
O projeto aprovado estabelece as igrejas e os templos de qualquer culto como atividade essencial, obedecendo regras de saúde pública, em períodos de calamidade de saúde pública em Vitória, sendo vedada a determinação de fechamento total de tais locais.
Pressão
A questão do funcionamento das igrejas durante a pandemia do coronavírus foi abordada na sessão da última terça-feira (16), na Assembleia Legislativa. Os deputados rejeitaram o regime de urgência para votação do Projeto de Lei (PL) 333/2020, que considera essencial o funcionamento de igrejas e templos de qualquer culto no Estado durante período de calamidade pública. Com a decisão, ficam mantidas as recomendações de isolamento social, que proíbem aglomerações.
O projeto de lei, de autoria dos deputados Delegado Danilo Bahiense (PSL) e Pastor Marcos Mansur (PSDB), que são evangélicos, permitiria a abertura das sedes das denominações religiosas, contrariando as recomendações das autoridades médico-sanitárias. A proposta vem no contexto de pressões de lideranças religiosas.
Fonte: Século Diário