A cena, terrível e grandiosa, completa cinco anos hoje mas seus momentos de horror continuam vivos na memória de todos. Os dois imensos aviões mergulhando com 157 pessoas nas duas torres de concreto, os corpos se atirando lá do alto, olhares desesperados, a fumaça negra pairando sobre a ilha e por fim o desabamento espetacular da gigantesca massa de cimento, vidro e aço.

Em pouco mais de duas horas daquela manhã ensolarada de setembro, 19 militantes da Al-Qaeda, com seus quatro aviões seqüestrados, deram fim a 3.201 pessoas e viraram do avesso a vida americana.

Desde então, garantem os estudiosos – e concordamos todos -, o mundo não é mais o mesmo. Nos 1.826 dias que se seguiram, ocorreram mais de 18 mil ataques dos grupos radicais, que resultaram em cerca de 30 mil mortos – 8.359 deles só em 2005.

A média diária desses cinco anos sobe a 9,8 atentados e 16,7 mortos (em 2000 eram 3,1 atentados e 2,1 mortos). Não foi só a quantidade, mas a natureza da nova guerra que assustou. O terror assumiu ares de guerra religiosa, trocou as embaixadas pelos metrôs, aviões por restaurantes, pistoleiros exímios por mártires da causa e plantou o medo em cada esquina.

Muito mais nos Estados Unidos, é verdade, mas o sossego também acabou um pouco por toda parte. Uma pesquisa CBS/New York Times, divulgada na sexta-feira, revela que 16% dos americanos acreditam que haverá outro ataque forte ao país (43% acham essa possibilidade “razoável”). À pergunta “Você pensa com freqüência nos ataques do 11 de Setembro?”, 17% disseram “todo dia” e 27% “toda semana”. Isso apesar da montanha de dinheiro, que já ultrapassa os US$ 600 bilhões, aplicada anualmente em segurança pelos seis ou sete governos mais ricos do planeta.

Além do medo, a divisão. Este quinto aniversário do ataque revela um mundo em que inimigos e até aliados culpam o governo americano, por aproveitar o episódio e implementar uma política imperial. Convicta, a Casa Branca leva adiante sua perseguição incansável a Osama bin Laden e à Al-Qaeda. “Nós o capturaremos, é uma questão de tempo”, prometeu de novo o presidente George W. Bush num discurso há três dias.

“Os americanos não precisam comportar-se como se esta fosse a maior ameaça ao país, porque não é”, pondera em contrapartida o analista James Fallows, da revista Atlantic Monthly. Fallows participou de um debate promovido pela revista Foreign Affairs na qual Jessica Stern, da Universidade Harvard, advertiu: o grupo de Bin Laden não quer, simplesmente, matar americanos, mas “arrastar a América para um conflito em larga escala com o mundo muçulmano”.

Em parte, essa operação parece estar indo bem: o antiamericanismo ganhou corpo nas relações internacionais e é hoje outra das marcas do mundo pós-11 de Setembro. “O problema é que os EUA travam uma guerra militar e os radicais islâmicos uma guerra de idéias”, avisa Jessica Stern.

Enquanto eles discutem, o cidadão comum oscila entre uma certa segurança que lhe dá o anonimato e a percepção de que não está a salvo. Em sua casa ele tem uma internet com acesso a mais de 4 mil sites ensinando receitas de bombas. Alertas para possíveis explosões já são rotina diária nos aviões – nos últimos dez dias, só como exemplo, pelo menos quatro deles regressaram à pista em Londres, Amsterdã, Mumbai e Miami. As filas nos aeroportos só inspiram tensão.

Na internet, mais de 4 mil sites com receitas para fazer bombas

Na outra ponta da obsessão por segurança há um grande estrago na democracia: a guerra ao terrorismo abriu caminho para um controle jamais visto. A vigilância espalha-se pelas vidas privadas, multiplica os suspeitos, abre sigilos bancários, grampeia telefones. Denúncias sobre maus-tratos de presos no Iraque, ou em prisões secretas da CIA, colaram-se à imagem do governo Bush.

Mas não faltam, também, especialistas para os quais o terror está mais fraco, e não mais forte. O 11 de Setembro, dizem eles, pode ter sido um colossal erro de cálculo da Al-Qaeda. Para o estudioso Fawaz Gerges, do Centro de Estudos do Oriente Médio, no Sarah Lawrence College, em Washington, ele fez o Ocidente acordar a tempo. Com as duas torres, segundo Gerges, caiu também a chance de novas surpresas de Bin Laden e seus seguidores.

Europa se diz preocupada com “limitação” da liberdade após 11/9

O comissário de Direitos Humanos do Conselho da Europa, Thomas Hammarberg, expressou hoje sua “grande preocupação” com a “limitação” das liberdades civis no mundo após os atentados de 11 de setembro de 2001 nos EUA.

Em comunicado por ocasião do quinto aniversário dos atentados, Hammarberg expressou sua “grande preocupação em relação à limitação das liberdades civis pelos governos na luta contra o terrorismo” que começou após os ataques.

“Os suspeitos estão sendo interrogados sob tortura, sendo eximidos de sua liberdade sem nenhum tipo de processo judicial”, afirmou.

Estes métodos “não são só abomináveis mas também enfraquecem os fundamentos éticos de uma sociedade livre e democrática”, advertiu Hammarberg.

“Há atualmente uma necessidade urgente de aprender com estes erros. É preciso reafirmar a proibição total da tortura e acabar com a política de detenções secretas e entregas extraordinárias” de suspeitos de terrorismo, como as praticadas pela CIA, ressaltou.

Por isso, Hammarberg considerou que os serviços de segurança nacionais devem se basear em uma legislação “correta e clara”, que proporcione “uma proteção adequada contra todo tipo de abuso”.

“Os governos deveriam assegurar uma supervisão parlamentar destes serviços [de segurança], e também deveriam garantir um controle judicial efetivo onde os direitos humanos não estão sendo respeitados”, afirmou.

O comissário expressou também sua “mais sincera simpatia” às famílias das vítimas do 11 de setembro, assim como a “todos os que sofreram de forma direta os ataques do terrorismo”.

Hammarberg enfatizou que as vítimas do terrorismo necessitam de “uma assistência a longo prazo, incluindo apoio psicológico; um acesso franco, sem barreiras, de forma efetiva, à Justiça, à informação e à proteção da vida familiar e a sua privacidade”.

Fonte; Estadão

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