Estudo elaborado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) constatou que, no Brasil, a maioria das iniciativas de prevenção ao consumo de drogas está na periferia.

Com essa conclusão, o representante da Unesco no país, Vincent Defourny, avaliou que, no Brasil, a desigualdade e a exclusão social são agravantes para o consumo de drogas.

“No Brasil, toda a dimensão de desigualdade e exclusão são agravantes para o contexto do uso da droga no país. São causa e consequência [desigualdade e exclusão social] ao mesmo tempo. Não podemos resolver a questão do uso de drogas sem discutir a desigualdade, a exclusão e a discriminação social”, disse.

Intitutlado “A educação como processo de redução das vulnerabilidades relacionadas ao uso de drogas: levantamento de experiências no Brasil”, o estudo foi financiado pela Comissão Européia e mostra como as instituições que realizam ações de atenção ao uso de drogas no país atuam relacionando as temáticas educação e redução de danos.

A oficial de Educação da Unesco, Maria Rebeca Otero, explicou que, no estudo, feito em 80 instituições brasileiras, foi observado que há um grande trabalho no Brasil, mas que ainda muito restrito ao campo da educação informal, focado na assistência, com ações pontuais e sem sustentabilidade.

“Precisamos ter um melhor envolvimento de todo o setor de educação formal e informal, unindo sociedade civil e governos”, disse Rebeca.

De acordo com o coordenador nacional de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Pedro Delgado, o mundo passa por uma profunda revisão da política de drogas e o Brasil tem participado desta mudança de paradigma com base em duas matrizes: a dos direitos humanos associado à política de combate às drogas e à política de redução de danos.

A redução de danos é uma estratégia de saúde que busca controlar e reduzir todos os tipos de danos causados pela droga aos usuários, sejam sociais, econômicos ou à saúde. O usuário não é obrigado a abandonar, imediatamente, o uso da droga para ter acesso ao atendimento público.

Delgado afirma que há ações desenvolvidas com o ministério da educação, mas que a simples informação, ou seja, a inclusão do tema na carga horária da aula, não tem sido suficiente.

“A vinculação da saúde pública com a educação é um caminho que necessita ser aprofundado, precisamos construir metodologias que sejam mais atrativas aos jovens, talvez com ações culturais e debates. A droga muitas vezes desperta o fascínio por ser um objeto proibido”, destacou.

O integrante do Programa Jovem de Expressão da organização não-governamental, Grupo Cultural Azulim, Carlos Lyra, de 20 anos, relatou que sua atuação no grupo foi muito importante para ele abandonar as drogas e que, na escola, não desenvolveu trabalho algum sobre o tema.

“O grupo me trouxe para um mundo onde pude ver coisas diferentes e este é o mundo que o jovem busca. A droga você encontra em todas as esquinas. Sem apoio e com a exclusão, fica difícil mudar”, concluiu Carlos.

Fonte: Folha Online

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