O debate em torno do véu islâmico ampliou-se na Grã-Bretanha após a suspensão de uma professora que se recusou a descobrir o rosto e se estendeu, também, a símbolos de outras religiões.

Aishah Azmi, 24 anos, que leciona numa escola primária de Dewsbury (norte da Inglaterra), foi suspensa por ter se recusado a descobrir o rosto. Ela precisou neste sábado, ante várias redes de televisão que havia simplesmente insistido para usar o véu na presença de colegas masculinos, mas que concordava em retirá-lo diante dos alunos.

“Não tenho problema com as crianças”, afirmou na BBC Radio.

A polêmica aumentou neste sábado com o caso de Nadia Eweida, uma britânica de 55 anos, que trabalha há sete na companhia aérea British Airways. Ela denunciou “ter sido demitida” por não querer tirar ou esconder um cordão com uma cruz.

“Não quero esconder minha fé em Jesus. A British Airways permite às muçulmanas o uso do véu e aos sikhs de usar seus turbantes e outros símbolos religiosos”, afirmou, acrescentando que só os cristãos são impedidos de exprimir sua fé.

O debate sobre o uso do véu islâmico havia se intensificado desde domingo passado na Grã-Bretanha, revelando divisões entre os ministros e ganhando um tom polêmico com os comentários de parte da comunidade muçulmana.

Quatro pesos-pesados do governo de centro-esquerda criticaram seu colega Jack Straw, que fez ressalvas ao uso de um tipo de véu islâmico que cobre todo o rosto menos os olhos.

Straw, um dos homens políticos mais conhecidos do país, mostrou-se preocupado porque as mulheres estão usando cada vez mais o “niqab” em sua circunscrição popular do norte da Inglaterra, em Blackburn, que tem 30% de muçulmanos.

Pressionado pela imprensa, Straw reforçou sua visão no dia seguinte, admitindo preferir que as mulheres não usem definitivamente o véu. Segundo Downing Street, Jack Straw apenas manifestou sua opinião pessoal. No entanto, quatro ministros importantes contestaram sua postura, argumentando que o debate em pauta deteriorar as relações entre muçulmanos e não-muçulmanos.

As mulheres podem se vestir como querem e suas escolhas devem ser respeitadas, declararam o vice-primeiro-ministro, John Prescott, o ministro da Irlanda do Norte Peter Hain, a ministra da Saúde Patricia Hewitt e a ministra das Comunidades e das Mulheres Ruth Kelly.

Em contrapartida, Straw recebeu o apoio de dois colegas, o ministro das Relações Intercomunitárias Phil Woolas e a ministra dos Assuntos constitucionais Harriet Harman. Para Woolas, o uso do véu pode “gerar medo e ressentimento entre os não-muçulmanos e levar à discriminação”.

O Conselho muçulmano da Grã-Bretanha (MCB), organização majoritária, disse num primeiro tempo compreender Jack Straw. Mas informou domingo ter sido recebido uma avalanche de emails racistas.

“O problema não está no niqab”, comentou Inayat Bunglawala, responsável da MCB. “Algumas mulheres escolhem usar o véu e outras não, é uma escolha individual. Falar com alguém vendo apenas seus olhos, pode chocar algumas pessoas. Mas esta não é uma boa maneira de resolver o problema”, continuou.

Outros grupos representativos dos muçulmanos acusaram o ministro de colocar lenha na fogueira das tensões raciais e religiosas, que vêm aumentando desde o 11 de Setembro, e mais ainda depois dos atentados de 7 de Julho 2005 em Londres.

A Comissão islâmica dos direitos do Homem (IHRC) foi mais longe acusando Jack Straw “de desencadear ondas de xenofobia racista”.

Um único dirigente comunitário de primeiro plano, o chefe do Parlamento muçulmano da Grã-Bretanha Ghayasuddin Siddiqui, deu razão a Jack Straw.

“Nem os próprios muçulmanos conseguiram criar uma instância para debater estas questões”, disse.

Fonte: Portas Abertas

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