O Vaticano contestou nesta terça-feira a decisão do governo americano de revogar a restrição ao financiamento de pesquisas com células-tronco de embriões humanos e reforçou sua posição de “defender a vida humana desde a sua concepção”.

Em entrevista publicada nesta terça-feira pelo diário italiano “Corriere della Sera”, o diretor do jornal oficial do Vaticano, Giovanni Maria Vian, confirmou a preocupação da Santa Sé com a decisão do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.

Vian disse que, ao manifestar o desejo de aliviar o sofrimento de doentes, o presidente americano não pode se considerar o único “bom samaritano”, em referência ao personagem de uma parábola do evangelho que se tornou símbolo de caridade e compaixão.

“Obama não tem o monopólio do bom samaritano”, afirmou o diretor do Osservatore Romano. “Dizer que quer trabalhar para aliviar o sofrimento humano é ideológico e instrumental. Quem se opõe à manipulação das células-tronco embrionárias deseja manter o sofrimento?”, questionou.

“Há grande preocupação e atenção porque os Estados Unidos representam um modelo no Ocidente, ainda que não o único”, acrescentou Vian. “Uma parte importante do mundo científico diz que as pesquisas com células- tronco adultas são muito mais promissoras.”

Vida embrionária

Sem fazer menção à decisão de Obama, o diretor do centro de bioética da Universidade Católica, Adriano Pessina, reafirmou a posição do Vaticano em artigo publicado nesta terça-feira pelo Osservatore Romano.

No texto, Pessina afirma que o fundamento de uma verdadeira democracia é o reconhecimento da dignidade humana em todas as fases de sua existência, inclusive a embrionária.

“Sobre este pensamento se funda uma real democracia, capaz de reconhecer a igualdade de todos os homens e impedir qualquer injusta discriminação, baseada no seu desenvolvimento ou em sua condição de saúde”, diz o artigo.

Segundo o especialista católico, a dificuldade de pensar no corpo humano desde sua fase inicial de organismo monocelular é origem de muitas questões bioéticas. “A vida embrionária está cada vez mais exposta às possibilidades de seleção, manipulação, experimentação e destruição”, escreveu.

Imoral e supérflua

A Igreja Católica expressou sua posição diversas vezes no passado sobre a possível remoção das limitações ao financiamento às pesquisas com células-tronco de embriões humanos.

No último sábado, o jornal do Vaticano havia definido como “profundamente imoral e supérflua” a pesquisa com células embrionárias, proibida desde 2001, por decisão do ex-presidente americano George W. Bush.

Segundo observadores italianos, as posições divergentes sobre as pesquisas envolvendo células embrionárias representam um sinal de dificuldade na relação entre a Santa Sé e o governo dos Estados Unidos.

Analistas avaliam que, com o governo de Bush, a igreja mantinha maior sintonia –apesar de ter opiniões diferentes sobre a Guerra no Iraque, o Vaticano e o ex-presidente americano tinha posições semelhantes sobre questões éticas e morais.

Fonte: Folha Online

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