Padres durante celebração de missa
Padres durante celebração de missa

Um grupo de 190 vítimas de pedofilia na Igreja recebeu uma compensação financeira, na França, até 1° de março deste ano. A informação foi revelada no primeiro relatório anual da Autoridade Nacional Independente de Reconhecimento e Reparação (Inirr, na sigla em francês), divulgado nesta quinta-feira (9).

O valor médio das indenizações é de € 37 mil, sendo a reparação máxima fixada pela Inirr em € 60 mil. Cerca de 80% das decisões são superiores a € 20 mil.

Ao todo, 1.186 vítimas entraram em contato com a instituição, principal órgão responsável pelas indenizações por atos de pedofilia na Igreja na França, criado em 24 de fevereiro de 2022. Até agora, 201 pessoas obtiveram uma decisão por parte da Inirr, após o tratamento e acompanhamento de cada caso. De acordo com o órgão, 68% dessas vítimas são homens, com mais de 60 anos, agredidos sexualmente quando tinham entre 6 e 15 anos.

O relatório da Comissão Independente sobre Abusos Sexuais na Igreja (Ciase, na sigla em francês), publicado em 5 de outubro de 2021, relatou 330 mil vítimas de violência sexual cometida por membros da Igreja na França entre 1950 e 2020.

Para a Inirr, o reconhecimento da condição de vítima é tão importante quanto a compensação financeira. “A reparação total é difícil ou mesmo impossível”, explica Marie Derain de Vaucresson, presidente da instituição.

Cerca de 500 solicitações foram apresentadas à Inirr apenas nos seus três primeiros meses de atividade, com o ritmo se desacelerando gradualmente.

Quanto à natureza da violência sexual, 60% das situações estudadas pelo colégio Inirr, formado por 12 voluntários, dizem respeito a um ou mais estupros. E 58% das situações submetidas à análise duraram muitos anos: 21% duraram mais de 5 anos. Já para 54% das vítimas, a violência sexual começou entre 11 e 15 anos de idade.

Além disso, 24% das violências sexuais “ocorreram em ambiente escolar (incluindo internatos)”, 17% em catequese e 16% em movimentos juvenis. “No relatório da Ciase, havia, em grande parte, crianças em período de pré-puberdade”, destaca Vaucresson.

A Inirr também oferece às vítimas uma “reparação simbólica: mediação restauradora, arteterapia, bibliocriatividade”, entre outras, acrescenta a presidente da instituição.

A hipnoterapeuta Laure de Balincourt presta serviço de apoio e acompanhamento às vítimas desde a criação da Inirr. “O sofrimento é único, você tem que se adaptar, essa é a base! Uma pessoa traumatizada nunca para de se adaptar ao mundo, o processo de reparação, portanto, passa pela inversão desse processo […] vamos pensar a história com a pessoa e pôr ordem no seu caos”.

Hugues de Villepin não quer contar em detalhes a violência sexual que sofreu: “Eu tinha 10 anos, tentei falar sobre isso, não acreditaram em mim”.

Desde maio ele é acompanhado por um profissional de apoio da Inirr, que o ajuda a verbalizar e escrever sobre a agressão que sofreu.

Devido ao pequeno número voluntários e o longo período de processo, as vítimas que procuram a Inirr chegam a esperar um ano antes de serem atendidas pelos profissionais de apoio.

Fonte: G1

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