A violência contra a criança é comum e tolerada em várias partes do mundo, segundo um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU). Um estudo que durou quatro anos e que foi apresentado nesta quarta-feira em Nova York afirma que milhares de crianças enfrentam abuso físico que é escondido ou aprovado pela sociedade.

A ONU afirma que quase 6 milhões de crianças foram forçadas a trabalhar e muitas outras estão na prostituição.

Os autores do relatório descobriram que mais de um bilhão de crianças no mundo todo ainda estão sujeitas à castigos físicos dos seus professores – que contam com a proteção da lei.

Outras estatísticas destacam a violência sexual, violência doméstica e o tratamento dado a crianças sendo mantidas em detenção.

O estudo inédito e global da ONU faz uma análise sobre os ambientes em que a violência física, psicológica ou sexual é cometida contra crianças e adolescentes.

E conclui que o lar, escolas, sistemas assistenciais e de justiça, locais de trabalho e a comunidade são os principais ambientes em que a violência contra a infância acontece.

O estudo foi coordenado pelo especialista brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, diretor do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP).

Recomendações

O documento foi produzido com o apoio do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), da Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Alto Comissariado para os Direitos Humanos, entre outras agências da ONU.

O relatório traz recomendações gerais aos países para que implementem políticas e ações de combate à violência contra a criança.

Paulo Sérgio Pinheiro disse à BBC que “este é o momento de reconhecer as crianças como protegidas pelos direitos, cidadãos completos, e não como mini-humanos ou a propriedade de suas famílias”.

Pinheiro comparou a questão da criança com a emancipação das mulheres no século 20 e dos trabalhadores no século 19.

Brasil

Segundo a ONU, apenas em 2004, 19.552 casos de violência doméstica foram registrados em todo o Brasil pelo Laboratório de Estudos da Criança (Lacri) da USP.

No Brasil foram identificadas 241 rotas de tráfico de pessoas para exploração sexual.

Segundo a Ouvidoria da Polícia dos Estado de São Paulo 18,27% das vítimas de homicídio policial em 2000 tinham menos de 18 anos de idade.

 
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Na Bahia, onde 82% da população é negra, são assassinados 21,8 jovens negros do sexo masculino entre 15 e 18 anos para cada homem branco da mesma faixa etária, segundo estatísticas de 2000.

Os autores do relatório da ONU afirmaram que foram encorajados pela participação de governos do mundo todo na pesquisa.

A ONU agora recomendou que cada país tenha uma estratégia nacional para evitar a violência contra crianças.

Em um outro relatório, da ONG britânica Save the Children, foi divulgado que mais de 1 milhão de crianças no mundo inteiro estão sob detenção.

A organização afirma que sua pesquisa global mostrou que 90% das que estão presas são culpadas de crimes de menor gravidade.

Um terceiro relatório, publicado pela Anistia Internacional, critica duramente a República Democrática do Congo por não ter conseguido acabar com o envolvimento de crianças nos grupos armados do país.

Fonte: BBC Brasil

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