Publicação de humor ‘Charlie Hebdo’ foi alvo de ataque terrorista. Semanário era ameaçado desde 2006 por divulgar charges de Maomé.

Figuras da política e da religião eram os protagonistas da maioria das capas do semanário de humor “Charlie Hebdo”, criada em 1970. Não apenas Maomé, mas também Jesus Cristo, os papas Francisco e Bento XVI, cardeais do Vaticano, ativistas do Fêmen e o presidente francês François Hollande foram retratados de forma cômica na primeira página.

Nesta quarta-feira (7), terroristas fizeram um atentado contra a redação que matou 12 pessoas, entre elas quatro cartunistas da publicação famosos na França e também fora do país. Segundo relatos, eles teriam gritado “vingamos o profeta”, o que pode significar que o ato foi motivado pelas sátiras do semanário com a figura do profeta islâmico Maomé.

[b]Última edição antes do atentado[/b]

A capa da edição desta semana do “Charlie Hebdo” (foto acima) traz uma caricatura do escritor francês Michel Houellebecq. Seu último livro, “Submissão”, tem como cenário uma França governada por um presidente muçulmano. “Em 2015, eu perco meus dentes. Em 2022, eu faço o Ramadã”, diz o escritor no desenho, em referência ao ato religioso realizado pelos seguidores do Islamismo.

[b]Última charge[/b]

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[b]A figura de Maomé[/b]

O semanário foi ameaçado várias vezes por fundamentalistas islâmicos por reproduzir e publicar caricaturas de Maomé. Um dos últimos ataques contra a “Charlie Hebdo” aconteceu em 2013, quando hackers invadiram o site da revista, provavelmente devido à publicação de um suplemento especial com uma “biografia” em quadrinhos sobre Maomé. Desde de 2006, quando publicou as primeiras charges com a figura de Maomé, a redação do semanário vivia sob alerta devido às ameaças de radicais.

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Capas de um especial da Charlie Hebdo com a ‘biografia’ de Maomé. A primeira parte de ‘A vida de Maomé’ tem o nome de ‘o início de um profeta’ e a segunda, de ‘o profeta do Islã’. (Foto: Reprodução/Facebook Charlie Hebdo)

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Edição de outubro tem charge com o título ‘se Maomé voltasse’. No desenho, o personagem representado como Maomé diz ‘eu sou o profeta, idiota!’, e o outro responde ‘feche a boca, infiel’. (Foto: Reprodução/Facebook Charlie Hebdo)

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Com o título de ‘intocáveis 2’, um personagem representando um judeu leva Maomé em uma cadeira de rodas, e os dois dizem: ‘não se deve zombar’ (Foto: AFP)

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Edição de 2013 trouxe sátira sobre o Corão, livro sagrado muçulmano. Fazendo referência a ‘massacre no Egito’, o desenho diz que ‘o Corão é uma merda’, pois ‘não para as balas’ (Foto: Reprodução/Facebook Charlie Hebdo)

[b]Primeiro atentado[/b]

Em 2011, após a divulgação de uma edição que fazia piada com a sharia, ou lei islâmica, um atentado com coquetéis molotov incendiou parte da sede da revista no distrito 11 do leste de Paris.

Em 2012, o diretor do semanário, Stephane Charbonnier, disse que o Islã não era visto como um inimigo pela publicação. “Há provocação, como fazemos todas as semanas, mas não mais contra o Islã que com outros temas”. Ele morreu no atentado desta quarta.

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Capa da ‘Charlie Hebdo’ em 2011 com a sátira sobre o profeta Maomé e a lei islâmica. No desenho, o personagem diz: ‘100 chicotadas se vocês não estão mortos de rir’ (Foto: AFP)

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“O amor é mais forte que o ódio”, diz capa da Charlie Hebdo publicada após primeiro atentado contra redação em 2011 (Foto: Reprodução/Facebook Charlie Hebdo)

Papas e cardeais também foram retratados de maneira cômica e debochada por várias vezes na capa do “Charlie Hebdo”. O conclave, por exemplo, foi alvo de piada em uma capa com Jesus Cristo. Também foram retratados cardeais em um “lobby gay” no conclave.

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‘Vaticano: outra eleição fraudada, estampa a capa de março de 2013 com a figura de Jesus Cristo. No desenho, o personagem diz: ‘soltem-me, eu quero votar’ (Foto: Reprodução/Facebook Charlie Hebdo)

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“Um papa moderno”, diz a capa de 2013 com Francisco. A cena faz referência a uma cena de um reality show da França que ficou famosa no país, em que uma participante questiona uma mulher que não tem shampoo. ‘Você é uma mulher e não tem shampoo. Alô. Alô’, disse a integrante do programa. A frase passou a ser repetida pelo país, e deu origem à charge na qual o papa pergunta: ‘você é Deus e não tem shampoo? Alô’. (Foto: Reprodução/Facebook Charlie Hebdo)

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“Enfim, livre!”, diz Bento XVI em charge na capa da edição da ‘Charlie Hebdo’ que faz piada com sua renúncia (Foto: Reprodução/Facebook Charlie Hebdo)

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Capa da Charlie Hebdo de 2013 satiriza cardeais. ‘O lobby gay em conclave. E então, a fumaça, ela vem?’ (Foto: Reprodução/Facebook Charlie Hebdo)

[b]‘Charlie Hebdo’, uma revista humorística e polêmica[/b]

A revista humorística francesa Charlie Hebdo, vítima de um ataque à sua sede editorial em Paris na quarta-feira, que deixou 12 mortos, é conhecida por ter protagonizado várias polêmicas em torno da liberdade de expressão na imprensa. Em 2006, a publicação de esquerda colocou nas bancas (da mesma forma que o El Jueves na Espanha) um número cuja capa reunia as caricaturas de Maomé, publicadas primeiramente no jornal dinamarquês Jyllands-Posten. A reprodução dessas imagens provocou a ira de várias autoridades islâmicas francesas, que processaram o então diretor da revista, Philippe Val, por “injúrias públicas contra um grupo de pessoas em razão de sua religião”. Em 2007, um juiz não deu ganho de causa aos acusadores, assegurando que as caricaturas denunciavam os extremistas religiosos muçulmanos e que sua publicação era legal.

A revista, fundada em 1992, sofreu outro ataque terrorista em novembro de 2011, quando vários agressores incendiaram a sede da redação, no centro de Paris, com um coquetel molotov, que destruiu boa parte das instalações. O ataque pareceu, na época, claramente relacionado com o número publicado no dia anterior, rebatizado excepcionalmente como Sharia Hebdo, e dedicado ao avanço islâmico em Túnis e na Líbia. Na capa, estava um desenho do profeta Maomé, nomeado “redator-chefe” do número.

Charlie Hebdo também mostrou-se crítica, em várias ocasiões, contra os extremistas católicos e a ultradireita francesa, publicando uma caricatura da líder da Frente Nacional Marine Le Pen como um monte de fezes fumegantes, meses antes da realização das eleições presidenciais de 2012. Stéphane Charbonnier, o diretor da revista assassinado no ataque de quarta, defendia uma linha política republicana acima de tudo, vinculada à defesa das liberdades individuais e coletivas, que pratica a liberdade de expressão até mesmo dentro da própria redação: por exemplo, o cartunista Siné demitiu-se em 2008 após um profundo desentendimento com a direção sobre a linha editorial.

O atentado de 2011 debilitou economicamente a revista, afetada como muitas publicações na França pela crise que a imprensa escrita atravessa. Em 2006, a revista vendia até 160.000 exemplares (até 400.000 no número das caricaturas).

Em 2014, as vendas foram caindo, alcançando a cifra de 50.000 exemplares. De fato, Charbonnier lançou, no final do ano passado, um pedido aos seus leitores e simpatizantes para salvar a publicação, que não conta com publicidade e acionistas, mediante doações de solidariedade.

[b]Fonte: G1 e El País[/b]

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