Líderes judeus disseram-se insatisfeitos com a nova versão do Vaticano para a oração da Sexta-Feira Santa e afirmaram que a manobra da Igreja Católica poderia traduzir-se em um revés para os contatos inter-religiosos das últimas décadas.

Nas mudanças feitas na oração em latim e anunciadas na terça-feira, o Vaticano retirou uma referência à “cegueira” judaica em relação a Cristo e apagou uma frase na qual se pedia a Deus que “levantasse o véu do coração deles”.

Mas a nova versão continua afirmando que os judeus deveriam reconhecer Jesus Cristo como o salvador de todos os homens e fazendo um apelo subliminar pela conversão deles, trechos esses que a comunidade judaica também desejava ver alterados.

“Apesar de reconhecermos que parte dos trechos depreciativos foi retirada, ficamos profundamente preocupados e desapontados com o fato de que se manteviram intactas a estrutura e a intenção de pedir a Deus que faça com que os judeus aceitem Jesus como sendo o Senhor”, disse Abraham Foxman, diretor nos EUA da Liga Antidifamação.

Foxman descreveu as alterações como “revisões superficiais” ao passo que o principal rabino presente em Roma, Riccardo Segni, considerou-as um “grave passo atrás”.

No ano passado, grupos judaicos protestaram quando o papa Bento 16 baixou um decreto permitindo a utilização da Missa em Latim e de um missal, um livro de orações, que deixou de ser usado após as reformas do Concílio Vaticano Segundo, realizado de 1962 a 1965.

Os grupos judaicos criticaram a retomada de uma antiga oração feita em nome dos judeus e pediram ao pontífice que a alterasse.

Segundo uma tradução não oficial, a nova oração diz o seguinte: “Oremos pelos judeus. Que Deus nosso Senhor ilumine-lhes o coração a fim de que reconheçam Jesus Cristo, o salvador de todos os homens.”

E continua: “Deus todo poderoso e eterno, você que quer ver todos os homens salvos e reconhecendo a verdade, permita com benevolência que, ao lado de todos os povos ingressantes em sua Igreja, Israel todo seja salvo.”

Segundo Foxman, as mudanças significavam um “grande afastamento” da postura defendida pelo papa João Paulo 2o, morto em 2005. Esse líder católico aproximou-se dos judeus, a quem chamou de “nossos amados irmãos mais velhos”, e tornou-se o primeiro papa a visitar uma sinagoga e um campo de concentração nazista.

Segni viu na nova versão do texto um “grave revés que representa um obstáculo fundamental” às relações católico-judaicas, colocando “em dúvida décadas de avanços”.

David Rosen, um rabino que mora em Israel e que mantém há décadas contatos com o Vaticano, manifestou seus “profundos lamento e decepção” com a medida.

Rosen, presidente do Comitê Judaico Internacional sobre Consultas Inter-Religiosas, do qual fazem parte 12 organizações judaicas importantes, considerou a nova versão um “retrocesso.”

A oração em latim será usada pela minoria tradicionalista dos católicos a partir de 21 de março. Na Sexta-Feira Santa os cristãos lembram a morte de Cristo.

Apenas algumas centenas de milhares de tradicionalistas seguem o antigo ritual em latim e devem usar a nova oração. A maioria dos 1,1 bilhão de católicos do mundo frequentam missas celebradas em seus idiomas nacionais.

E usam um missal do pós-Concílio Vaticano Segundo que inclui uma oração da Sexta-Feira Santa para os judeus na qual se pede que “eles obtenham sua redenção total.”

Fonte: EFE

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