Depois de silenciar frente à repercussão da excomunhão dos católicos envolvidos num aborto autorizado por lei, o arcebispo dom José Cardoso Sobrinho voltou nesta “sexta-feira santa” a falar sobre o assunto. Durante a cerimônia da Paixão, à tarde, na Igreja de Santo Antônio, no Centro do Recife, ele disse que por aí afora há pagãos defendendo comportamentos que são contrários à lei de Deus.

“Quem defende o aborto é contra a lei de Deus. Até o presidente da República é contra a lei de Deus. Ele num tava por aí jogando camisinha para o povo durante o Carnaval?”, explicou em seguida, para os jornalistas.

Dom José reafirmou que a pena é automática, de acordo com o direito canônico. “Não fui eu que excomunguei”, repetiu. A excomunhão atingiu os médicos envolvidos no procedimento e a mãe da menina de nove anos estuprada pelo padrasto e que teve o aborto induzido após constatada a gravidez gemelar. “Matar um inocente e indefeso que está no seio materno é uma coisa boa? Para a lei humana pode ser, mas não para a lei de Deus, que é superior”, afirmou.

O arcebispo de Olinda e Recife informou que não só o direito canônico estabelece as leis divinas. “Tudo o que está nos Dez Mandamentos está no direito canônico, detalhado. O sexto mandamento diz: não matarás”, justificou. Dom José, que completou 75 anos e por isso encaminhou ao Vaticano seu pedido de renúncia, citou ainda o divórcio como contrário à lei de Deus. Jesus disse no Evangelho (Mateus 19): o que Deus uniu o homem não separa.

Sobre o perdão, na Semana Santa, à equipe médica e à mãe da menina, dom José disse que é concedido mediante a confissão. “Não estou falando só dos médicos. Qualquer pessoa que vive numa situação irregular é convidada a voltar para a comunhão com Deus, no dia que ele se arrepender e pedir perdão. A excomunhão não é uma condenação ao inferno. É um remédio para a pessoa mudar de comportamento. Não existe pecado sem perdão, mas só para aqueles que se arrependem e mudam de comportamento.”

Após duas horas de liturgia da Paixão, em que se rememora a morte de Jesus Cristo na cruz, os fiéis que compareceram à Igreja de Santo Antônio para ouvir as palavras de dom José e do pároco Roberto Nogueira seguiram em cortejo pelas ruas do Centro. A professora aposentada Maria Leonor Jordão foi uma das que seguiu as imagens de Jesus Crucificado, com 1,9 metro e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e de Nossa Senhora da Soledade. “Faço isso há muitos anos. Sou devota de Nossa Senhora e obtive uma graça com a Oração das Chagas, que se refere ao ferimento do ombro em que o Salvador carregou a cruz.”

Fonte: JC online

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