A antiga arquidiocese do papa Bento 16 na Alemanha emitiu nesta sexta-feira um comunicado afirmando que ele não se envolveu na decisão de permitir que um padre da região, suspeito de pedofilia, continuasse a realizar trabalho pastoral, em 1980.

A arquidiocese de Munique (sul do país) disse que o papa, na época arcebispo da cidade, estava envolvido na decisão de enviar o padre para sessões de terapia, depois que outra diocese, a de Essen (no oeste alemão), requisitou sua transferência devido ao surgimento das alegações.

De acordo com o comunicado da arquidiocese de Munique, outro padre, Gerhard Gruber, que ocupava um lugar menor na hierarquia, assumiu responsabilidade por permitir que o padre voltasse a exercer trabalho pastoral imediatamente.

Gruber disse a um jornal alemão que a decisão havia sido um erro e pediu perdão.

A Igreja afirma que em 1986 o padre envolvido no escândalo recebeu uma sentença de prisão a ser cumprida em liberdade por abuso infantil. Desde então ele ainda realiza trabalho pastoral no Estado da Baviera (sul do país), embora não tenha sido mais permitido seu contato com crianças e jovens.

Perdão

Também na sexta-feira, o presidente da Conferência Episcopal alemã, monsenhor Robert Zollitsch, pediu perdão em nome de todos os bispos da Alemanha pelos abusos contra menores ocorridos em escolas católicas.

“(Os bispos) estão arrasados pelo que houve, pelos atos de violência contra menores, e pedem perdão às vitimas de crimes de pedofilia”, disse o clérigo, falando aos jornalistas logo depois de um encontro de 45 minutos com o papa Bento 16 no Vaticano nesta sexta-feira.

Segundo o monsenhor Zollitsch, na reunião com o papa o assunto principal foram as medidas que a Conferência Episcopal alemã está tomando para enfrentar o problema dos abusos contra menores.

Cerca de 200 casos de abusos sexuais e violência envolvendo institutos católicos, em quase todas as dioceses da Alemanha, foram denunciados nos últimos meses.

O presidente da Conferência Episcopal alemã, que também teve um encontro com o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, William Levada, disse que a Igreja Católica está revendo as próprias normas a respeito de casos de pedofilia.

“A congregação para a doutrina da fé está recolhendo as experiências nos vários países para fazer uma avaliação e eventualmente atualizar as próprias normas, especialmente no que se refere à denuncia à magistratura civil”, informou o prelado.

Monsenhor Zollitsch garantiu toda a colaboração do episcopado alemão com a Justiça, para esclarecer toda a verdade sobre o escândalo dos abusos sexuais.

“O papa confirmou explicitamente este ponto”, disse.

Celibato

Bento 16 também encontrou em Roma, nesta sexta-feira, os participantes do Congresso Teológico internacional, no qual o papa reafirmou o “valor sagrado do celibato”.

“O celibato é uma autêntica profecia do Reino e expressão da doação de si a Deus e aos outros”, disse o papa ao encontrar os participantes do Congresso Teológico.

“Nossos limites e fraquezas nos devem induzir a viver e preservar com profunda fé este dom precioso”, afirmou.

Segundo a imprensa italiana, no entanto, a Igreja Católica estaria pensando em rever a imposição do celibato.

“O tsunami da pedofilia é um dos fatores que provavelmente levarão a Igreja Latina a rever a lei do celibato, por meio de uma passagem gradual, por uma disciplina mista, com um clero celibatário e um casado, como ocorre nas igrejas orientais”, comentou o vaticanista Luigi Accatoli do jornal Corriere della Sera.

O jornal La Repubblica, também afirma que a Igreja Católica está pensando em eliminar o celibato.

“Abolir o celibato em 50 anos, o projeto secreto do Vaticano”, diz o artigo publicado nesta sexta-feira.

Segundo o jornal, a Santa Sé estaria refletindo sobre a regra com um estudo “secretíssimo” que estaria sendo preparado pela Congregação do Clero.

O cardeal brasileiro Cláudio Hummes, ao abrir o Congresso Teológico, voltou a defender o celibato, que definiu como “um dom de Deus que pede para ser compreendido e vivido com plenitude de sentido e alegria”.

Ao chegar a Roma em 2006, para assumir o cargo de prefeito da Congregação do Clero, um dos mais influentes da Cúria romana, Hummes havia afirmado que a prática “não é um dogma”.

A declaração provocou duras reações no Vaticano. Desde então, Dom Cláudio tem ressaltado a importância do celibato.

Fonte: BBC Brasil

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