O primeiro álbum da Banda Resgate na Sony Music intitulado “Ainda não é o último” traz muito mais boas notícias do que sugere o nome. Desde que a banda começou trabalhar com Dudu Borges vem sendo feito um trabalho de rejuvenescimento do som da banda, porém até este álbum eles não haviam sido convincentes, apesar dos requintes de produção.

O álbum traduz a nova fase da banda e seus integrantes, que deixaram a Igreja Renascer, e retomam nas letras os temas do começo de carreira, com uma visão menos corporativista do cristianismo e mais crítica, tanto da sociedade, quanto da religião. Fica implícito nas composições um certo desejo de recuperar tempo e espaço perdidos pela banda ao longo dos anos.

Músicas como “Genérica” e “Transformers” evidenciam a “grife de camisas” que o Resgate já havia vestido no começo de carreira e que havia sido deixado de lado nos últimos álbuns: uma mensagem que funciona como espelho para quem ouve. Há um flerte bem humorado com o inglês e o espanhol nas músicas “Jack, Joe and Nancy in the Mall (The book is on the table)” e “Una vuelta Más” e o mais importante: conteúdo. Havia um vazio notável em músicas como “A gente” do álbum “Até eu envelhecer”, quase uma propaganda institucional do antigo ministério em que eram Bispos Primazes.

Em “Vou me lembrar”, que encerra o álbum, há uma canção de louvor e gratidão belíssima, e funciona como uma síntese do que a banda fala nas músicas “Depois de Tudo”, ”Outra Vez”, “Tudo Certo” e ”A Terapia”. A sensação de ver o Resgate como uma banda que ainda tem sentimentos a expressar é ótima, uma verdadeira boa notícia!

“A hora do Brasil” e “Vesúvio” tem mais em comum do que se pode encontrar numa primeira audição. A primeira grita a indignação trazida pela hecatombe vivida na sociedade brasileira e protagonizada, dentre outras, pela classe política e o conceito de “homem moderno”, e resume o sentimento de esperança com a frase “um dia hei de ver o meu país aos Teus pés”. Em Vesúvio, o caminho percorrido pela humanidade em direção ao fim dos tempos é ilustrada com referências ao filme “Últimos dias de Pompéia (1935)”. Nesse ponto, nota-se que a banda vem usando a cultura pop como fonte de inspiração para suas metáforas nas composições. Em “O médico e o monstro” do álbum “Até eu envelhecer”, a ilustração havia sido feita em cima da ficção “The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde“.

É um bom álbum, embora não tenha nenhuma revolução musical. A identidade foi restaurada, e com a maturidade adquirida, é um som agradável e de qualidade. O grande feito é algo que fica no ar, sutil. Mas se for necessário definir um ponto, diria que é a nova postura da banda, coerente. Com o perdão do trocadilho, ainda bem que ainda não é o último.

[i]Por Thiago Chagas[/i]

[b]Fonte: Dot Gospel[/b]

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