Em clima de boa vontade e muita expectativa, o papa Bento XVI desembarca na tarde desta quarta-feira em São Paulo para uma visita de cinco dias. Em dois anos de pontificado, é a primeira vez que ele pisa o solo da América Latina.

Investido das funções de bispo de Roma, sucessor de Pedro e vigário de Cristo, segundo crença católica, ele vem para animar, encorajar e ajudar a consolidar a Igreja no Brasil e no continente – onde está concentrada metade da população católica do mundo.

O pontífice, que completou 80 anos em abril, terá uma agenda cheia, que inclui desde um encontro reservado com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, a momentos dedicados às grandes multidões. Na sexta-feira, no Campo de Marte, na zona norte de São Paulo, celebrará uma missa para a qual são aguardados cerca de 1 milhão de fiéis. No domingo, na missa em frente ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida, às margens da Via Dutra, são esperadas outras 500 mil pessoas.

Para garantir a segurança, foi montado um esquema mais complexo até mesmo que o estruturado para receber o presidente americano George W. Bush em sua visita à capital, em março. Cerca de 13,5 mil homens, militares e civis, estão de prontidão na chamada Operação Arcanjo.

Seis helicópteros irão acompanhar todos os deslocamentos do pontífice pelas ruas de São Paulo e no interior do Estado. Ao redor do Mosteiro de São Bento, residência do papa até sexta-feira, ficarão postados 600 homens da Polícia do Exército e atiradores de elite. A sacada do quarto de onde Bento XVI fará uma saudação tem vidro blindado.

firmação de princípios

Em seus discursos, o papa deverá reafirmar os princípios doutrinários da Igreja. Espera-se que, diante da recente derrota sofrida pela Igreja no México, com a descriminação do aborto, ele volte a bater com força na tecla da defesa do “direito à vida”.

Também são esperadas palavras de ânimo para o clero e os fiéis. A viagem foi precedida de vários sinais de boa vontade da Cúria Romana para com o Brasil. Um deles foi a decisão de confiar ao cardeal Cláudio Hummes, ex-arcebispo de São Paulo, a chefia da Congregação para o Clero, uma das mais importantes subdivisões – ou dicastérios – da Cúria.

Outro sinal de boa vontade foram as diligências para a conclusão do processo de canonização de Frei Galvão – o primeiro santo nascido em terras brasileiras reconhecido pela Igreja após cinco séculos de evangelização. Ele será canonizado oficialmente na missa campal de sexta-feira.

Também pode ser incluída na lista de gestos de boa vontade a decisão de escolher Aparecida para sediar a 5ª Conferência-Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe – que será aberta no domingo e é, sem dúvida, o compromisso mais importante dessa visita em relação ao clero.

Temas espinhosos

É no interior da conferência que a Cúria Romana pretende debater os temas mais espinhosos da Igreja no continente, como a perda de fiéis para os evangélicos e a influência, ainda forte, da Teologia da Libertação. Ao falar nesta terça-feira à TV italiana sobre o avanço dos evangélicos, o cardeal Hummes observou que a Igreja já identificou o problema, mas ainda não encontrou “a metodologia e o impulso” para lidar com isso.

Bento XVI é o segundo papa a visitar o Brasil. O primeiro foi João Paulo II, que esteve três vezes entre os brasileiros. Na primeira, em 1980, passou por 12 cidades – maratona que o polonês Karol Wojtyla cobriu com desenvoltura e ânimo. Com 60 anos, era um homem jovial, atlético e carismático – capaz de gestos que encantavam a mídia, como o ato de beijar o solo de cada país que visitava. Ele também encantou o Brasil, de Porto Alegre a Manaus.

O alemão Joseph Ratzinger não tem a desenvoltura de seu antecessor, o que aumenta a expectativa e a curiosidade em torno da visita. Mais acostumado aos bastidores da Igreja, ele tem se esforçado para parecer mais simpático e caloroso nas visitas que faz pelo mundo, para abençoar e animar o rebanho de 1,98 bilhão de almas.

Fonte: Estadão

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