Segundo inquérito da Polícia Federal, o senador e bispo Marcelo Crivella teria, inclusive, convidado o desembargador Ernesto Dória a se candidatar “vereador ou deputado” pela Igreja Universal do Reino de Deus. Por telefone, Crivella negou ter convidado Dória para entrar na política

Inquérito da Polícia Federal (PF) que deu origem à Operação Hurricane (furacão, em inglês) mostra que o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) tinha uma relação de intimidade com o juiz Ernesto da Luz Pinto Dória, desembargador do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), a ponto de sugerir que “Ernestinho” se candidatasse a “vereador ou deputado pela nossa igreja”. Crivella é bispo da Igreja Universal.

Em um dos grampos telefônicos que integram o inquérito, Dória, preso na Operação Furacão, conversa com o Edson Oliveira, da PF, sobre o relacionamento com Crivella. No diálogo que ocorreu no dia 25 de outubro passado, às vésperas do segundo turno da eleição, Dória comenta com Edson que se Luiz Inácio Lula da Silva vencesse a disputa no Rio de Janeiro, Crivella sairia fortalecido.

“Se o Lula ganhar no Rio, o Crivella vai ficar com um … muito forte.” E Dória prossegue: “O Crivella tá colocando 4 milhões e meio de gente, quase 5, pra votar no Lula. Tá uma máfia humana.” Em seguida, o desembargador Dória, um dos principais suspeitos da PF de participar de um esquema de venda de sentenças, comenta com Edson que o bispo sugeriu que ele ingressasse no meio político. “Ele (Crivella) disse `Ernestinho, você tem que se afirmar, se não passar o negócio (dos 70 anos) você tem que sair vereador ou deputado pela nossa igreja que vai te eleger com uma votação estupenda.” Edson responde: “Se elege mesmo.” Na seqüência, Dória diz estar pensando “nisso (candidatura), e que se essa m. dos 70 anos não passar…. que tirou tempo de serviço e que tem 46 anos de serviço.”

Por telefone, Crivella negou ter convidado Dória para entrar na política. Confirmou ter conversado, inclusive pessoalmente, com o desembargador, mas que nunca Dória lhe pediu qualquer ação em prol dos bingos. “Conheci o Dr. Dória há quatro anos quando me elegi senador. Ele me foi apresentado com uma das melhores referências. Estou hoje decepcionado em ver o nome dele envolvido nisso”, disse Crivella ao Estado. “O único convite que lhe fiz foi para ir a um culto da minha igreja.”

Crivella assegurou não ter tido nenhum envolvimento com a máfia dos bingos. “Você acha que quem doa R$ 10 milhões em direitos autorais para crianças pobres do sertão da Bahia está interessado em propina de jogo de bicho?”, reagiu ao ser questionado sobre eventual ligação com Dória.

Dória é apontado no inquérito da Operação Furacão como intermediário da máfia dos jogos com um ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), não identificado, e advogados. Além de remunerações eventuais, Dória recebia, segundo a investigação da PF, uma mesada do esquema como recompensa pelos serviços prestados em benefício dos bingos. Dória chamava as mesadas de “meu oxigênio”.

O inquérito mostra ainda o desembargador Dória se passando por delegado para tentar intimidar um homem chamado Salomão Freedman em relação a uma dívida contraída por Armando Pitiglane. Na conversa, Dória diz se identifica como “delegado Barreto da Fazendária”.

Outros parlamentares

No inquérito da Operação Furacão, a PF sustenta que há “indícios e provas” da existência de “pagamento rotineiro” de propinas a parlamentares para que eles fizessem lobby para liberar a exploração do jogo. Até agora, apenas os nomes dos deputados federais Marina Maggessi (PPS-RJ) e Simão Sessim (PP-RJ) aparecem no inquérito. A PF suspeita que Maggessi recebeu no ano passado doação de campanha por meio de caixa 2 do grupo do bicheiro Aílton Guimarães, o Capitão Guimarães. Maggessi nega.

De acordo com a PF, Sessim foi procurado pelo bicheiro Aniz Abrahão David, que é seu primo, com o objetivo de o parlamentar trabalhar na aprovação de um projeto em favor dos bingos. O Estado tentou localizar Sessim na quarta-feira. Segundo uma funcionária de seu gabinete, o deputado estaria no Rio de Janeiro. Ele não atendeu a reportagem.

Fonte: Estadão

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