Depois de fazer várias greves de fome nos anos anteriores, como protesto ao projeto governamental de transposição do rio São Francisco, dom Luiz Cappio agora quer usar a visibilidade do prêmio Kant – que vai receber em Friburgo (Alemanha) – para conseguir apoio internacional e, com ele, poder pressionar o Supremo Tribunal Federal para barrarem a intenção de construir um grande canal a partir do rio que atravessa o Nordeste.

“Vamos internacionalizar esse assunto e mostrar como ele, além de não beneficiar os povos tradicionais da região, como os índios e os quilombolas, só beneficia os grandes empreendimentos para a exportação”, disse em entrevista ao UOL Notícias em São Paulo, antes de embarcar para a Alemanha, onde recebe o prêmio de “Cidadão do Mundo” por seu trabalho humanitário no sertão baiano.

Prestes a receber seu segundo prêmio internacional, o bispo, juntamente com lideranças indígenas, pretende pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) a julgar ações pendentes contra o projeto de transposição, principalmente a que trata das terras dos índios. Devem ser apresentados relatórios, feitas várias mobilizações e uma petição popular.

Dom Cappio lançou nesta quarta-feira a campanha “Povos Indígenas em Favor do Rio São Francisco e Contra a Transposição”, em cerimônia que aconteceu no Convento São Francisco, centro da cidade.

Também faz parte das reivindicações a realização de audiências públicas democráticas, para garantir o direito de participação popular na formulação e implementação das políticas do governo federal na Bacia do São Francisco.

“A solução do governo é centralizadora, enquanto a população de 14 milhões de pessoas no interior nordestino é difusa. Elas carecem de projetos de pequeno porte para ter acesso à água”, afirmou o bispo.

Segundo a campanha, nove nações indígenas serão afetadas pelas obras. “Esse prêmio que vou receber é pela luta desse povo brasileiro. Isso vai ajudar a tornar o governo mais temerário diante de nosso movimento, que vai ganhar um novo ânimo”, disse dom Cappio.

Outro presente no ato foi Ruben Siqueira, do diretório baiano da Comissão Pastoral da Terra. “É mentira que a transposição resolve o problema da seca. Agora mesmo o Nordeste está inundado, e essa água vai embora. Essa transposição é uma obra interminável, afinal, ela vai parar com nossa pressão, mas o governo vai tentar recomeçá-la. E vai ser assim para sempre”, disse Siqueira.

Fonte: UOL

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