Naiara Galarraga Gortázar – São Paulo
A Igreja Católica do Brasil, que com seus 123 milhões de fiéis é a maior do mundo, chega à cúpula convocada pelo Papa recém-condenada pelo maior escândalo de abuso sexual conhecido em seu seio.
A arquidiocese da Paraíba foi condenada em janeiro pela Justiça do Trabalho a pagar uma indenização de 12 milhões de reais pela exploração sexual de crianças, pois um grupo de sacerdotes pagava habitualmente por sexo, com dinheiro ou comida, a seminaristas, coroinhas e flanelinhas.
O caso já havia tido consequências para a hierarquia. Em 2016, o Vaticano obrigou o então arcebispo Aldo Pagotto a renunciar por encobrir esses crimes. A sentença, revelada pelo programa Fantástico, da Rede Globo, foi objeto de recurso por parte da Igreja.
Este é o caso de maior repercussão em um país onde não houve grandes investigações de abusos sexuais de crianças pelo clero por parte dos juízes, da imprensa e da hierarquia eclesiástica.
Depois a condenação, o arcebispo da Paraíba decretou que os sacerdotes não podem ficar a sós com menores e adultos vulneráveis na casa ou no automóvel paroquial sem a presença de seus pais ou responsáveis.
O caso veio à luz depois do vazamento de uma carta de 2014 que detalhava suspeitas à própria Igreja Católica, que foi retomada pela imprensa.
O Vaticano quer que o Brasil seja um banco de provas. Em setembro, anunciou que o Brasil seria, junto com a Zâmbia e as Filipinas, cenário de um projeto-piloto para dar voz às vítimas dos pedófilos da Igreja.
O cardeal Sergio da Rocha, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que a representa na reunião em Roma, disse ao EL PAÍS que estão “em diálogo com a Pontifícia Comissão para definir melhor os meios a serem adotados”, em resposta a perguntas enviadas por escrito. O cardeal afirma que o assunto será definido em breve, depois do encontro em Roma, e acrescenta que a CNBB “constituiu uma Comissão para tratar da proteção dos menores na Igreja do Brasil e assessorar os bispos e dioceses”.
Além disso, a CNBB elaborou um texto, explica Rocha, intitulado Cuidado Pastoral das Vítimas de Abuso Sexual, que a Congregação para a Doutrina da Fé aprovou no fim de 2018 e que, segundo ele, “será publicado em breve”.
O cardeal Rocha afirma que irá a Roma para “manifestar a comunhão e apoio ao Papa Francisco na sua luta pela superação do problema dos abusos, a disposição da Conferência Episcopal em acolher as orientações da Santa Sé e de redobrar os esforços para a superação e prevenção dos abusos, bem como para o diálogo e a assistência às vítimas.”
Fonte: El País