Lá fora, fundamentalistas islâmicos protestavam contra as charges do jornal dinamarquês que zombavam do islã. Lá dentro, um jovem de cabelo preto esticado para trás e com um terno branco reluzente foi declarado o mais quente astro pop do Afeganistão.

Em meio a uma inundação de luzes e confetes, Rafi Nabzada, um tadjique de 19 anos, venceu a terceira série de “Afghan Star”, o programa de televisão que é o equivalente local de “Ídolos”, superando outros 2 mil candidatos ao prêmio principal de US$ 5 mil e um contrato recorde.

O programa, apresentando números patrióticos que pediam a união nacional e canções de amor adocicadas com frases como “Oh, meu querido, quando você será meu convidado?”, tomou conta do país, mas os conservadores clérigos dizem que é imoral.

Os conservadores islâmicos pediram a proibição do programa, objetando-se especialmente às apresentações das mulheres. Um oficial do Ministério da Cultura e Informação disse que a Tolo TV, o canal responsável por “Afghan Star”, produz programas “nojentos”.

Mais de 300 mil pessoas votaram através de mensagens de texto em seu candidato favorito, aumentando a receita do patrocinador do programa, a companhia de telefone celular Roshan.

Enquanto nenhum dos juízes do painel é tão brutal em seu veredicto quanto Simon Cowell, o irritado produtor de discos britânico que aparece nas versões inglesa e americana do programa, o dr. Monesa Hassan às vezes mete a bota, gritando e rindo de uma apresentação especialmente ruim.

Mas, diferentemente de seus primos ocidentais, o programa tem um considerável impacto social e político local, seja inflamando as tensões étnicas ou defendendo a igualdade de gêneros.

Lima Sahar, que ficou em terceiro lugar, tem de usar uma burqa que envolve todo o corpo quando sai de casa na extremamente conservadora província sulina de Kandahar. Uma mulher de Herat recebeu ameaças de morte depois que seu lenço de cabeça escorregou no meio da apresentação, mostrando seu cabelo, e ela foi eliminada, provocando demonstrações de raiva na província oriental que faz fronteira com o Irã e alegações de que a votação foi manipulada.

O magnata da mídia Saad Mohseni, um afegão-australiano que está por trás da Tolo TV e de “Afghan Star”, diz que o programa está ajudando a mudar o país para melhor. “A geração jovem parece muito menos afetada por essas divisões étnicas, e está decidindo por si só em quem votar, pois muitas vezes parece discordar das opiniões dos juízes.”

Fonte: Financial Times

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