A coincidência neste fim de semana da celebração do fim do Ramadã com o nono aniversário do 11 de setembro elevou a pressão sobre a comunidade muçulmana de Nova York.

O avivamento das críticas em direção à essa parcela da população pelo projeto de construir um centro islâmico perto do marco zero de Manhattan colocou os muçulmanos, nove anos depois dos ataques de 11 de setembro, em uma complicada situação e obrigou aos seus a pedirem calma.

“A crise que vivem os americanos muçulmanos exige uma resposta exemplar, visível e construtiva, que demonstre nossa adesão aos valores e ética islâmicas”, dizia nesta semana em carta à comunidade o diretor do conselho de relações americano-islâmicas (Cair), Nihad Awad.

Awad reconhece os “momentos difíceis” que vive a comunidade por causa da coincidência da polêmica despertada pelo centro islâmico perto do marco zero com o fim do Ramadã, o aniversário de 11 de setembro e os inúmeros exemplos de uma nova “onda antiislâmica” nos Estados Unidos.

O mês de jejum muçulmano, que varia a cada ano conforme o calendário lunar, termina com o “Eid ul-Fitr”, uma das maiores festividades do Islã que inclusive é festejada para Nações Unidas e que costuma prolongar-se por vários dias, especialmente no último fim de semana.

Nos EUA essa celebração – que às vezes varia entre países – irá ocorrer nesta sexta-feira e as comemorações dividirão espaço com os atos de lembrança ao 11 de setembro, no sábado, uma coincidência delicada que faz muitos olharem com lupa nos dias atuais para a comunidade muçulmana.

Entre os gestos mais provocantes aos que terão de enfrentar os muçulmanos, destaque para a convocação do pastor de uma pequena comunidade evangélica da Flórida de queimar centenas de cópias do Corão no próximo sábado.

Embora a iniciativa seja vista por líderes políticos e religiosos de todo o mundo como descabida e inaceitável, ocorreram pedidos à comunidade muçulmana, especialmente à de Nova York, que mantenha a calma e contenha suas celebrações do “Eid ul-Fitr” durante o fim de semana.

A comunidade muçulmana recebeu inclusive o apoio explícito de inúmeros membros da comunidade judaica, especialmente numerosa na Grande Maçã e que, precisamente, nesta semana festeja o “Rosh Hashaná” e Ano Novo Judaico.

Esta importante celebração ocorreu na quarta-feira e marcou o início dos dez dias do arrependimento judeu, responsáveis pelo fechamento das portas de muitos comércios até sábado.

“No passado, a queima do Talmude era prelúdio ou acompanhamento do assassinato de judeus. Hoje de novo o ódio e a violência são a única inspiração dos que prometem queimar o Corão no mesmo dia em que os americanos e o mundo inteiro lembram a tragédia de 11 de setembro”, lamenta em seu site o conselho judeu de assuntos urbanos.

Muitos analistas – entre eles Steven Cohen, sociólogo e professor no Hebrew Union College, o principal seminário do Judaísmo Reformista – coincidem em que os judeus são outra das minorias religiosas que mais são alvos de controvérsia.

“Este debate afeta os dois dos maiores compromissos que têm os judeus americanos: proteger a democracia e os direitos das minorias, porque os faz sentir mais seguros, e proteger a Israel, porque também faz sentir-se mais seguros”, escreveu recentemente Cohen no “The New York Times”.

De qualquer maneira, cada vez são mais as vozes que apelam à liberdade religiosa e a tolerância para apoiar a construção de duas maçãs no marco zero da chamada Casa Córdoba, um centro comunitário islâmico que contará com uma mesquita, além de oratórios judeus e cristãos.

A essas vozes uniu-se nesta semana a do governador de Nova York, David Paterson, quem se esforça por apaziguar os ânimos por estes dias, marcados pelas celebrações religiosas e a incômoda coincidência com o aniversário da morte de quase 2,8 mil pessoas na cidade.

“Devemos reconhecer nossas falhas e fazer o melhor para regulá-las, abraçar nossas diferenças e tratar de honrá-las”, reivindicava Paterson em sua felicitação oficial à comunidade judaica.

[b]Fonte: EFE[/b]

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