Religiosos defendem revisão de programa e criticam negociação de cargos no governo. Instituição enviou carta a Lula cobrando escolha criteriosa de ministros; “Estamos com receio dessas negociações”, diz d. Geraldo Majella, presidente da CNBB.

A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) fez ontem duras críticas ao programa Bolsa Família. A avaliação da entidade é que o programa “leva ao vício e à acomodação” da população pobre.

A CNBB também reclamou das negociações conduzidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva com os partidos aliados para montar o ministério.

Carro-chefe da campanha de reeleição de Lula, o Bolsa Família foi criado para unificar diferentes programas (Bolsa Escola, Vale-Gás, Bolsa Alimentação) e atende hoje 11,1 milhões de famílias, segundo o governo.

Para o presidente da Comissão Pastoral para o Serviço da Caridade, Justiça e Paz, dom Aldo Pagotto, arcebispo de João Pessoa (PB), o Bolsa Família precisa ser revisto.

“A nossa sugestão seria rever profundamente. Precisamos de escolas técnicas, cursos profissionalizantes, inserção no mundo do trabalho, gerar oportunidades de estudos. Como está sendo levado adiante vicia”, afirmou dom Aldo.

“É só uma ajuda pessoal e familiar. É verdade que 11 milhões de famílias recebem no Nordeste e no Norte, mas isso levou a uma acomodação, a um empanzinamento. Não se busca mais, parece que não há visão de crescimento, desenvolvimento e inserção”, disse.

Na avaliação de d. Aldo, a política social da gestão petista tem desencadeado o que chamou de “favelização rural” devido à escassez de crédito e assistência técnica. “O povo também vai desistindo de plantar”, disse ele, defendendo que o presidente “ouça mais o povo”.

Apesar das críticas, d. Aldo disse que a idéia “não é combater a pessoa do presidente, mas questionar o modo e a metodologia como o programa está sendo organizado”.

Os bispos se mostraram ainda “preocupados” com as articulações do presidente Lula com partidos políticos para formar a nova equipe de governo. Logo após a eleição, a CNBB enviou uma carta ao presidente cobrando uma escolha criteriosa do ministério.

“Acho duro quando ouço essa palavra: em troca de apoio se oferece um emprego no ministério ou nos serviços públicos. Acho isso muito duvidoso. Parte dos partidos deveria ter coragem e desprendimento para participar sem querer nenhuma parte como se tivesse dividindo o preço”, diz o presidente da CNBB, d. Geraldo Majella.

“Estamos com receio dessas negociações com partidos políticos, de barganhas, é a reprodução de um esquema já viciado. Fica o gosto de decepção e amargura em nossa boca”, disse. Sobre as eleições, o presidente da CNBB afirmou que foi feito um julgamento nas urnas, refletido pela renovação de parte do Congresso. “A corrupção é o mal que deve ser atacado, porque pode levar à destruição da própria democracia.”

As declarações foram feitas após encerramento da quarta Semana Social Brasileira, em Brasília -cujo tema foi “Mutirão por um novo Brasil”.

O coordenador da Semana Social, d. Demétrio Valentini, disse que a assembléia quer propor um “plebiscito pedagógico”, em setembro, para avaliar as perdas com a privatização da Vale do Rio Doce no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), segundo ele, vendida por “bagatela”.

Fonte: Folha de São Paulo

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