Apocalípse sob o manto dos pássaros de minha casa

Deste mundinho protegido do qual vejo, escrevo e saio apenas pra visitar a miséria humana, por vezes, como hoje, até parece que tudo é puro e simples alarme; e que “a Terra vai bem, obrigado”; e que não paira qualquer ameaça sob o Planeta; e que todas as calamidades políticas, sociais, econômicas, religiosas e culturais, nem estão aí, nem estão acontecendo; e que ninguém está sendo morto como se mata uma barata; e que a maldade humana é esporádica; e que os interesses econômicos e políticos não podem, sob hipótese alguma, ser maiores e mais essenciais que a vida; e que homens inteligentes devem com certeza saber o obvio; e que até os mais egoístas deveriam ser “bons e melhores” até por malandragem; e que não é verdade que estamos a apenas décadas curtas de uma hecatombe; e que não é fato que o Apocalipse saiu das páginas da Bíblia, como numa projeção de efeitos especiais, com seus cavalos, cavaleiros, selos, vozes, trovoes, juízos, cálices de ira, e a garantia do espírito suicida da humanidade, até o fim; ou, pior: sua capacidade de entregar a privacidade total à tirania que se fará a coisa mais lógica desta vida; pois, ou se a aceitará, ou se morrerá como mosquitos da Dengue quando passa o Fumacê.

Sim! Aqui de meu quintal, com dezenas de passarinhos livres, encantados, cantadores, irrequietamente vivos, multicoloridos, pequenos, grandes, comuns e raros; dividindo espaço em paz; e confiando que darei a cada dia mais e mais comidinha boa — enquanto as flores abrem, lindas e mágicas; e as frutas do verão começam a dar vez às flores da primavera! Sim! Daqui, hoje, parece tudo brincadeira de mal-gosto e gosto-mau!

Mas, infelizmente, o que hoje ainda me protege como geografia e espaço, em algum tempo já não me protegerá; pois, o que hoje é sintoma, amanhã será uma infecção generalizada; uma febre universal; e cuja temperatura os termômetros de nossos corpos medirão sem equivoco algum, tanto para o gelado, como para o insuportavelmente quente… E nossos olhos verão a Morte, a qual visitará a todos os continentes da Terra como surto súbito.

Quem tem ouvidos para ouvir, ouça; quem tem olhos para ver, veja; e quem crê no Evangelho, nele creia ainda mais.

Nele, que Vem,

Caio

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