Você pode ter errado muito e tomado consciência de tudo como culpa, e, por isso, senti-se culpado até quando nada faz de errado.
Ou, quem sabe, você é a apenas um neurótico, oprimido por elevadas demandas pessoais de perfeição, de acerto e correção, e, assim, todas as vezes que alguém reclama algo de sua pessoa, havendo ou não razão para tal, você se sente culpado pela tristeza e frustração que possuíram o coração do outro, e, assim, se culpa e sofre.
Ou ainda pode ser que você sofra de um narcisismo de justiça-própria, e, por tal razão psicológica, sinta-se culpado sempre que você não seja visto com beleza pelo olhar de outros.
Assim é o vício da culpa; posto que desse modo ele opera esteja ou seja a pessoa culpada ou não de qualquer coisa.
A culpa, porém, existe também, e, sobretudo, de modo objetivo; e, na maioria das vezes, os verdadeiros culpados desenvolvem mecanismos de dormência e auto-engano a fim de adiarem, se possível até a véspera da morte, a reflexão sobre o que fizeram e fazem.
Em geral os culpados conseguem ir levando a existência sem muitos sentimentos de culpa, pelo menos nenhum que os perturbe e os faça mudar.
Entretanto, os viciados em culpa pessoal, sejam os neuróticos, os hipersensíveis ou os narcisistas éticos, em geral sentem culpa até que do que culpa não têm. E, assim, vão adoecendo de dor culpada, e, depois de um tempo, mergulhando em depressão, ou adoecendo na incapacidade de ter alegria, ou ainda vão desenvolvendo mecanismos de excessivas explicações, ou, então, vão se cansando, e, por fim, desistindo do verdadeiro bem, posto que o “falso bem” somente nos empurra para longe do verdadeiro bem.
Muita gente, entretanto, julga que o sentirem-se culpados é uma virtude, sem saberem que é um grande mal, isso quando nenhuma culpa está presente.
Num mundo caído e para o homem caído, o sentir-se culpado quando se peca é uma das maiores dádivas do Deus de Graça. Sim! Pois, culpados e sem culpa seríamos diabos encarnados. A culpa, porém, é uma dádiva da redenção, e, sem ela, não há processo de salvação para aquele que peca, pois, na ausência dela, eternizasse o pecado como parte do nosso ser finalizado.
Assim, pecar e esconder-se é ainda sinal de saúde nos doentes que somos nós!
Do mesmo modo a culpa é sinal de saúde no ambiente da Queda quando ela segue o pecado sinceramente; e conduz o homem ao desejo de vestir-se, mesmo que apenas depois ele descubra que somente Deus tem o poder de vestir os culpados, não pelo encobrimento da culpa, mas sim pela sua inteira remoção.
Cabe ao homem perdoado buscar viver com a seriedade e consciência de quem conhece o pecado e a culpa, e os leva a sério, ao mesmo tempo em que dele se requer que ande sem culpa, ainda que sem levezas irresponsáveis e levianas.
O perdão alivia o coração de todo peso de culpa, mas não se impõe sem as gravidades da consciência!
Assim, perdão é leve e doce, ao mesmo tempo em que é grave e denso.
Digo isto apenas para concluir afirmando que homem que anda sob o signo do perdão perscruta sempre a sua consciência em cada coisa, sentimento ou ato, porém, mesmo quando busca a conciliação com alguém a quem não ofendeu, o faz pela paz, mas não pela culpa. Afinal, não é bom confessar culpa da qual não nos acusa o coração exposto à Palavra e ao Espírito de Deus.
Sim! Pois, o vício da culpa é a dor de um “pobre diabo” em nós, mas, mesmo sendo “pobre”, é ainda um diabo em nós.
Pense nisso!
Caio