O Conselho sueco de Ética Comercial contra Sexismo na Propaganda (ERK) desatou uma guerra verbal sobre o tratamento das mulheres na publicidade ao acusar a companhia aérea irlandesa Ryanair de promover propaganda sexista.

A popular Ryanair, conhecida pelos vôos regionais de baixas tarifas na Europa, chegou a ridicularizar os “comentários estúpidos” feitos por uma política feminista sueca, que sugeriu um boicote contra a empresa após a recusa da companhia em se retratar.

A companhia aérea foi criticada num relatório do Conselho de Ética em virtude de uma campanha comercial realizada na Suécia no ano passado, com a meta de promover vôos baratos no período de volta às aulas.

Na campanha, os anúncios e outdoors da Ryanair mostravam uma mulher de minissaia e mini blusa posando como uma estudante ao lado de um quadro-negro com o texto: “As ofertas mais quentes da volta às aulas”.

Na visão do Conselho de Ética sueco, a mulher vestida no pequeno uniforme escolar “é usada para atrair a atenção de uma forma sexual, que é ofensiva às mulheres em geral”.

Direito de tirar a roupa

O Conselho, um órgão independente criado em 1988, divulgou uma recriminação pública contra a Ryanair.

A companhia aérea recusou-se a fornecer a explicação solicitada pelo órgão e decidiu partir para a ofensiva, defendendo “o direito das garotas suecas de tirarem suas roupas se elas quiserem”.

Em tom irônico, a empresa acusou o Conselho de Ética sueco de estar “fora de sintonia com a geração Britney Spears”, e questionou se a agência estaria de fato refletindo a visão da maioria dos suecos.

“Temos certeza de que os sem-graça do ERK não falam pela maioria dos notoriamente liberais suecos”, disse a Ryanair em um comunicado, acrescentando não ter recebido reclamações sobre as campanhas realizadas na Grã-Bretanha e Irlanda, que usaram a mesma imagem do comercial sueco.

“Os anúncios simplesmente refletem a maneira como muitas jovens gostam de se vestir. Esperamos que os integrantes do ERK relaxem um pouco”, completou a nota”.

Boicote

Diante da evidente recusa da Ryanair em se desculpar pela campanha, a política feminista sueca Birgitta Ohlsson decidiu sair em campo para pedir um boicote dos consumidores à companhia aérea.

“É meu dever apontar e envergonhar empresas como esta”, disse Birgitta. “A Ryanair está se apoiando em valores ultrapassados e anacrônicos, e se orgulha disso. Há muitas outras empresas aéreas de baixo custo para escolher”, acrescentou ela.

Em resposta, a empresa divulgou nota oficial ridicularizando os “comentários estúpidos” feitos por “Birgitta Chata Ohlsson”.

O porta-voz da companhia aérea, Stephen McNamara, anunciou no comunicado que vai “celebrar o sexy comercial sueco” com uma promoção especial de um milhão de bilhetes aéreos de baixíssimo custo, aproveitando a onda de interesse gerada pela controvérsia em torno dos anúncios.

“Estamos certos de que ‘Birgitta Chata’ vai ser inundada pela enxurrada de pessoas sensatas e liberais que apóiam a determinação da Ryanair de defender os direitos de garotas e rapazes de tirarem suas roupas – se eles quiserem”, afirmou o porta-voz no comunicado, acrescentando em seguida:

“Vamos também mandar passagens gratuitas para ‘Birgitta Chata’ para que ela possa fazer uma boa pausa, relaxar e parar de pedir boicotes tolos”.

Sexismo

A troca de farpas gerou um intenso debate esta semana em blogs e websites da Suécia.

Grande parte dos comentários critica os comerciais da Ryanair, e um deles chega a dizer que a campanha “é um sinal da postura da empresa em relacão a seus funcionários e clientes”.

Outros não chegam a classificar os anúncios como sexistas, mas destacam que são comerciais “de mau gosto”.

Líder do ranking dos países com maiores índices de igualdade entre os sexos, a Suécia tem notória aversão a propagandas que reforçam estereótipos sexuais e outdoors com mulheres (ou homens) seminus não costumam fazer parte da paisagem urbana sueca.

Em janeiro deste ano, um relatório governamental sugeriu a criação de uma lei banindo qualquer propaganda de teor sexista a partir de janeiro de 2009.

“Não pode e não deve caber apenas à indústria da propaganda a responsabilidade de preservar os valores democráticos de nossa sociedade”, defendeu a relatora da proposta, Eva-Maria Svensson.

No relatório, a propaganda sexista é definida como qualquer mensagem distribuída com fins comerciais que possa ser “ofensiva tanto às mulheres como aos homens”.

Fonte: BBC Brasil

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