Reis homossexuais, mães lésbicas e pingüins gays – esses são os protagonistas de um novo tipo de livro escolar para crianças britânicas. Projeto piloto tem como objetivo gerar tolerância sexual entre os pequenos, mas seus pais não estão gostando.

Era uma vez um príncipe que estava procurando sua futura rainha. Ele foi apresentado a uma princesa, duas princesas… e se apaixonou por outro príncipe. Eles se casaram em uma linda cerimônia e viveram juntos felizes para sempre. Parece uma comédia gay underground? Não é – o texto em questão é de um livro escolar.

Os alunos no Reino Unido aprendem sobre a diversidade sexual e estruturas familiares alternativas desde muito cedo. Um esquema piloto patrocinado pelo Estado em 14 escolas elementares – freqüentadas por crianças de quatro a 11 anos – está gerando problemas por sua mensagem sexual liberal.

Pais conservadores e grupos religiosos temem que histórias como essa, dos dois príncipes apaixonados, possam corromper moralmente as crianças e promover a homossexualidade. “Não me incomodo com o que adultos fazem em consenso mútuo, mas não tenho certeza que isso deva ser imposto às crianças”, diz Andy Hebberd, fundador do grupo Organização de Pais.

Os responsáveis pelo projeto, chamado “No Outsiders”, dizem que os livros corrompem tanto a moral quanto Cinderela – o amor, não o sexo, está no coração da questão. As crianças não têm problema com isso, mas seus pais sim, diz Mark Jennett, responsável pelo treinamento dos professores. “O problema não vem das crianças, mas da ansiedade dos adultos.”

Além de “King & King” (rei e rei), haverá outros livros com pais de mesmo sexo. “Tango Makes Three” (Tango faz três) apresenta um filhote de pingüim com dois pais, enquanto “Spacegirl Pukes” é um livro de fotografias sobre duas mães que enviaram sua filha em uma viagem espacial. Os textos constam da lista recomendada para as crianças nas escolas.

“A coisa mais importante nesses livros é refletir a realidade das crianças. Sou formada em literatura infantil e sei como é poderosa para formular os valores sociais e promover o desenvolvimento emocional”, disse a diretora do projeto, Elizabeth Atkinson, ao “The Observer” no domingo (11/3).

Ela acrescentou que livros escolares tradicionais – que não incluem relacionamentos homossexuais – “silenciam uma mensagem social” e podem levar as crianças a serem alvos de provocação na escola mais tarde, se forem homossexuais ou assim consideradas.

Se tiver sucesso, o esquema será estendido por todo o país. Ele conta com um patrocínio de 600.000 libras (em torno de R$ 2,4 milhões) do Conselho de Pesquisa Social e Econômica do governo e tem o apoio do Sindicato Nacional de Professores e Conselho Geral de Ensino.

Enquanto Jennett chama o “No Outsiders” de “vanguarda”, Simon Calvert, do Instituto Cristão, acredita que a maioria dos pais ficaria “abismada” com os personagens gays. Ao promover ativamente a homossexualidade nas escolas, o “No Outsiders” está voltando a uma antiga batalha legal, disse ao Observer.

O parágrafo em questão é a seção 28, uma emenda do Ato de Governo Local de 1988 que proibiu as escolas e autoridades locais de “promoverem a homossexualidade” ou sua aceitação como “relacionamento familiar pretendido”. O parágrafo foi publicado em resposta a uma publicação escolar chamada “Jenny Lives with Eric and Martin” (Jenny mora com Eric e Martin), que gerou um debate raivoso quando foi publicado, há vinte anos.

Mas os tempos mudaram, e o governo liberal de Tony Blair tem sido muito mais tolerante com a homossexualidade que seus predecessores. A seção 28 foi revogada em 2003 e o casamento homossexual legalizado em 2005. O projeto “No Outsiders” é a primeira tentativa em grande escala de colocar livros sexualmente tolerantes de volta à lista de leitura recomendada às crianças.

Fonte: Der Spiegel

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