Os atletas, em sua maioria, evangélicos, conversam entre si sobre suas opções, porém não se reúnem na concentração para estudar a Bíblia e fazer orações

Uma montanha de 1.692 metros de altura e formato semelhante ao de uma mão apontando o indicador para o céu é parte das belezas naturais que rodeiam a Seleção Brasileira na Granja Comary. Desde que teve seu pico conquistado, em 1912, e se tornou símbolo do montanhismo brasileiro, o Dedo de Deus, como ela é chamada, atrai turistas de todos os cantos e já foi cenário até de celebrações religiosas.

A primeira missa realizada em seu cume foi em 1945, ano em que um padre escalou o monte e rezou para outras 22 pessoas, em agradecimento ao término da Segunda Guerra Mundial. Dez anos depois, o motivo foi o bom êxito do Congresso Eucarístico Internacional, no Rio de Janeiro. Em 2012, no aniversário de 100 anos da primeira incursão, estava programado um culto ecumênico, a ser realizado por um frei e um pastor, mas o evento foi cancelado devido a um temporal que caiu nos dias anteriores e vitimou famílias teresopolitanas.

“O prefeito entendeu que não era momento de comemoração. Embora a data tenha grande importância histórica não só para Teresópolis, mas para todo o montanhismo brasileiro, optou-se pela suspensão”, explicou, na ocasião, a secretaria de cultura de Teresópolis, cidade de onde se tem a melhor vista do Dedo de Deus, embora ele esteja localizado entre os limites territoriais da vizinha Guapimirim.

É por conta de Teresópolis também que a montanha tem sido mais fotografada e filmada desde o fim de maio, quando a Seleção Brasileira voltou a utilizar seu centro de treinamento na cidade, a agora reformada Granja Comary, para se preparar para a Copa do Mundo. O time nacional não treinava no local desde 2009, dois anos antes do desastre natural que deixou mais de 900 mortos em toda a região serrana do Rio. Como na preparação para o título de 2002, os jogadores da equipe chefiada por Luiz Felipe Scolari, novamente ladeada pelo Dedo de Deus, apoiam-se na religiosidade para se preparar bem durante a busca pelo hexacampeonato. “Não só para pedir, mas agradecer. Pedimos principalmente que nada aconteça com ninguém”, diz o zagueiro Henrique, católico. “Respeitando a opção de cada um, acho que a religião é importante para nós.”

Os atletas são, em sua maioria, evangélicos. O também zagueiro David Luiz, por exemplo, é frequentador da Hillsong Church, igreja pentecostal criada originalmente em Sidney (Austrália) e que está espalhada por outras cidades do mundo todo, como Londres, onde ele atuava pelo Chelsea até o final do primeiro semestre. Os atletas conversam entre si sobre suas opções, porém não se reúnem na concentração para estudar a Bíblia e fazer orações, como faziam Edmílson, Kaká e Lúcio na campanha de 12 anos atrás.

Evitar polêmicas religiosas é até um esforço da comissão técnica atual, coordenada por Carlos Alberto Parreira, que era o treinador do time na Copa de 2006, edição na qual teria havido um racha por esse motivo. De um lado, estaria uma ala religiosa. Do outro, jogadores que bebiam e fumavam e, na opinião dos demais, não tinham comprometimento com a forma física e consequentemente com a busca pelo título. Depois da eliminação nas quartas de final, o capitão Lúcio negou as desavenças e disse que os encontros entre os evangélicos, realizados nas folgas, não dividiram o time.

Uma das medidas tomadas pela Confederação Brasileira de Futebol para garantir o bom ambiente interno foi não aceitar a presença de líderes religiosos na Granja Comary. Mas não há proibição específica de expressão de fé individual. Tanto que Felipão, católico praticante e que costuma convidar padres para seus locais de trabalho, levou uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, santa padroeira do Brasil, ao reduto da Seleção, que fica sob o Dedo de Deus.

[b]Fonte: Terra[/b]

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