Nascido em 18 de junho em uma família cristã, o pequeno Ilya Eyvazov, de três meses, ainda não tem um nome reconhecido oficialmente.

As autoridades da cidade de Aliabad se recusaram, a princípio, a fornecer uma certidão de nascimento quando o pai do bebê, Novruz Eyvazov, tentou registrar seu filho no dia 21 de junho.

“Impossível”, os funcionários da administração da cidade disseram a Novruz Eyvazov quando eles viram que o nome do filho dele era a forma russa de “Elias”. Segundo Novruz, os funcionários disseram isso porque aquele é um nome cristão. Novruz é membro de uma igreja batista e tem mais quatro filhos.

Novruz disse à agência de notícias Compass não ter se surpreendido com a recusa, pois ele teve o mesmo problema com seus últimos dois filhos. O cristão afirmou: “Deus sabe o que Ele quer e vamos confiar nele para tudo.”

O pai de Ilya disse ter voltado à administração da cidade quase todos os dias do mês seguinte. Porém, ele só conseguiu receber uma certidão de nascimento na qual o campo do nome de seu filho está em branco.

Hassan Hassanov, que trabalhou como chefe administrativo de Aliabad em agosto, disse ao Compass, por telefone, que nunca tinha ouvido falar do assunto.

Mas Aybeniz Kalashova, funcionária do cartório regional de Zaqatala, disse que os batistas em Aliabad enfrentam dificuldades para usar nomes não-azeris porque se acredita que eles tenham parte em uma conspiração que quer entregar Zaqatala à Geórgia, país vizinho.

Aybeniz disse ter uma carta com assinaturas de 3 mil moradores de Aliabad, enviada ao presidente do país e ao Conselho Europeu. Os moradores reclamam que os batistas querem tornar georgianos os moradores de Aliabad.

Segundo ela, a carta diz: “Eles [os batistas] querem mudar nossos nomes, nos tornar georgianos, e então afirmam que essa área é parte do sul da Geórgia”. Aybeniz quis saber então por que eles se tornaram cristãos e começaram a servir um país estrangeiro.

No Azerbaidjão, onde 96% da população é muçulmana, o cristianismo é considerado por muitos como uma religião estrangeira, e a conversão para fora do islamismo é geralmente vista como uma traição à nação.

A maioria dos moradores de Aliabad pertence à minoria étnica georgiana ingilo, que se converteu ao islamismo há vários séculos.

Aybeniz afirmou que o governo jamais recusaria aos pais o direito de dar ao seu filho um nome particular, embora ele possa “sugerir” um nome diferente, devido à ameaça georgiana.

Quando foi indagada sobre a situação de Ilya Eyvazov, Aybeniz disse: “Parece que foi feita alguma declaração formal sobre isso, mas os documentos dessa criança provavelmente foram dados à administração em Aliabad”.

Ela prometeu entrar em contato com o administrador de Aliabad, Hassan Hassanov, para ratificar o problema.

Quando o Compass informou Hassan dos comentários de Aybeniz (sobre os batistas quererem entregar Aliabad à Geórgia), ele disse: “Não há nenhum problema assim aqui”.

Tradição familiar

Os batistas em Aliabad relataram contínuas dificuldades em dar aos seus filhos nomes cristãos.

Embora o pequeno Ilya Eyvazov não esteja ciente das lutas em torno de sua identidade, ele está seguindo os passos dos dois irmãos mais velhos, Moisei (Moisés) e Luka (Lucas), que também não receberam do município suas certidões de nascimento.

Moisei Eyvazov, agora com oito anos, nasceu logo depois da conversão de seus pais em 1997. Conforme Novruz, demorou três meses para conseguir a certidão de nascimento de Moisei porque o nome da criança não era azeri.

A família batista enfrentou uma luta maior para obter a certidão de nascimento de Luka Eyvazov, agora com três anos. Por 18 meses, os Eyvazovs levaram seu caso a funcionários municipais, regionais e nacionais. Eles só conseguiram uma solução depois de a agência de notícias Forum 18 ter relatado o problema deles.

É impossível um azeri receber tratamento médico, ir à escola ou viajar para o exterior sem sua certidão de nascimento. Ainda não está claro que problemas práticos Ilya Eyvazov irá enfrentar se sua carteira de identidade não tiver nenhum nome.

Mehman Soltanov, do Ministério da Justiça, prometeu resolver o problema quando o Compass falou com ele sobre a situação de Ilya Eyvazov. Mehman ajudou a dar a certidão de nascimento para Luka Eyvazov. Ele se mostrou cético em relação aos motivos dos Eyvazovs darem aos seus filhos nomes estrangeiros. Ele continuou as especulações, feitas inicialmente ao Forum 18, de que a família cristã estaria sendo forçada por “alguma seita religiosa” para escolher esses nomes.

Zaur Balayev, pastor da primeira igreja batista de Aliabad, formada em 1993, disse conhecer pelo menos cinco famílias de sua congregação que sofreram oposição quando quiseram dar aos seus filhos nomes cristãos.

Outro pastor batista, Hamid Shabanov, disse que seu filho e sua nora deram ao seu primogênito o nome de Davud porque as autoridades rejeitaram o nome Sansão. Por fim, o casal conseguiu chamar de Sansão seu segundo filho, enquanto estavam na República da Moldávia.

Mas, Hamid reconheceu que as tentativas de restringir o uso de nomes estrangeiros são aleatórias e irracionais. Ele contou como as autoridades não deixaram um família de sua congregação dar à sua filha o nome de Rebeca, mas eles aprovaram depois o nome Irina, embora esse também não fosse um nome azeri.

‘Ninguém reconhece os batistas’

As três congregações batistas em Aliabad, uma cidade de 10 mil habitantes, relataram outras formas de opressão.

O pastor Hamid disse que os membros de sua congregação são constantemente chamados à delegacia para responder perguntas sobre suas atividades religiosas. Hamid diz que eles não podem impedi-los de cultuar, mas fazem tudo o que podem para assustar as pessoas interessadas em participar de suas reuniões. Hamid contou que os novos convertidos recebem ordens de voltar ao islamismo, caso contrário seus parentes perdem seus empregos.

O pastor Zaur disse que os funcionários públicos da região tentaram frustrar um projeto sócio-econômico que ele iniciou. Seu desejo de construir um cyber café foi vetado neste ano em decorrência de uma queixa do governo, dizendo que ele não havia seguido seus planos originais de construção. O objetivo do cyber café era gerar empregos e melhorar a educação naquela cidade pobre.

“Acredito que isso seja porque eu sou cristão”, Zaur disse, enquanto mostrava ao Compass seu prédio meio construído. Sem a renda que ele esperava obter com o cyber café, Zaur está incerto sobre como ele sustentará sua esposa e sua filha enquanto tenta pagar o empréstimo usado para financiar o projeto.

Zaur e Hamid tentaram registrar suas congregações diversas vezes nos últimos 13 anos – da última vez em 2004 –, mas, os registros foram negados em todas as vezes. A terceira congregação batista da cidade se recusa a fazer o registro.

Hamid comentou que, sempre que tenta o registro, é informado de que faltam documentos. Depois disso, outros departamentos envolvidos no processo são informados a não conceder os documentos dos quais precisam.

A funcionária Aybeniz, do cartório de Zaqatala, comentou que ninguém reconhece os batistas. Ela diz que “eles são muçulmanos que se converteram ao cristianismo e receberam ajuda de estrangeiros. Eles não se casam e nem se relacionam com pessoas de fora de seu grupo”.

A Igreja azeri de fora da capital, Baku, tem encontrado dificuldades para se registrar, algo que, na teoria, a ajudaria e realizar reuniões com uma interferência mínima do governo.

Fonte: Portas Abertas

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