O cristianismo está morrendo na Europa? Parece que sim, com os bancos de igreja se esvaziando, congregações envelhecendo e uma forte queda no número de seminaristas. Enquanto isso, o islamismo parece estar seguindo adiante, levando a um dilúvio de livros apocalípticos sobre a “Eurábia”.

São livros com títulos como “While Europe Slept” (Enquanto a Europa dormia). No entanto, Philip Jenkins, em seu novo livro, “Continent: Christianity, Islam, and Europe’s Religious Crisis” (Continente: cristianismo, islamismo e a crise religiosa européia), aconselha o otimismo.

Como historiador acadêmico americano com um claro compromisso católico cristão, Jenkins forma parte de uma voz pequena mas importante dentro da alta academia americana -que por sua vez informa fileiras conservadoras centristas muito maiores no cenário intelectual americano.

O otimismo de Jenkins baseia-se na idéia que os cristãos que restam na Europa estão se transformando em uma “minoria criativa”, cujo compromisso espiritual é mais forte do que as gerações anteriores. Como evidência, ele cita a popularidade crescente de templos europeus de peregrinação religiosa, como Santiago de Compostela. Muitos peregrinos são pessoas mais jovens, como os que compuseram as fileiras crescentes do cristianismo evangélico europeu.

Jenkins mostra que os evangélicos, carismáticos e pentecostais europeus são o dobro do tamanho dos muçulmanos europeus e têm taxa de crescimento similar. Também há o impulso fornecido pelos imigrantes afro-caribenhos, filipinos, latino-americanos e outros cristãos, que trazem um novo espírito vibrante à religião. Apesar de a maioria branca estar apenas marginalmente envolvida, esses movimentos podem ajudar a evangelizar os ex-cristãos europeus, muitos dos quais ainda professam crenças sobrenaturais e “acreditam sem pertencer (a uma religião)”. Em suma, apesar do futuro europeu possivelmente ser cada vez mais não branco, o futuro do cristianismo será luminoso.

Além disso, a taxa de natalidade dos muçulmanos convergirá com as dos não muçulmanos, e veremos uma assimilação, similar ao que aconteceu nos EUA com os imigrantes católicos europeus no início do século 20 ou os imigrantes hispânicos no século 21. Só o que é preciso é respeito ao islamismo e um conceito novo, mais inclusivo e inspirador de identidade nacional. A estratégia menos produtiva é insistir, como os holandeses e franceses parecem estar fazendo, na conformidade a um ethos de individualismo secular, que se estende à aprovação forçada da homossexualidade e da liberdade artística.

Aqui, a Europa pode aproveitar uma página do livro dos EUA, diz Jenkins, onde as questões morais e de religião não foram excluídas do diálogo público e a identidade nacional é definida por símbolos trans-étnicos, como a bandeira e a constituição. Como resultado, os muçulmanos americanos sentem-se mais confortáveis do que seus equivalentes europeus e nunca se comportaram mal.

Por outro lado, a acomodação deve se dar nos dois sentidos: os imigrantes devem ser estimulados a se integrarem, e o Estado não deve legitimar seções conservadoras estreitas da comunidade muçulmana. As elites européias também seriam sábias em ouvir seus eleitores e educadamente rejeitar o ingresso turco e marroquino na UE; o peso demográfico desses países e suas diferenças culturais alterariam dramaticamente o ethos e a natureza da Europa.

Se a Europa tomar esse caminho, poderá incubar uma nova forma de islamismo flexível e liberal, alega Jenkins, e ainda assim reter seu centro doutrinal. Esse islamismo europeu poderia ser exportado de volta e modernizar os países natais do islamismo. Por sua vez, o islamismo pode ajudar a aprofundar a consciência cristã esquecida de sua própria herança e revitalizar o cristianismo “pálido” das igrejas tradicionais. Os europeus também podem aprender com os muçulmanos a se afastarem de sua “idolatria” do Estado nação e redescobrir valores cristãos que “antecedem e sobrevivem aos Estados”.

Apesar de ser um livro sobre a Europa, “God’s Continent” (continente de Deus) é quase tão interessante pelo que revela sobre a autoconsciência dos EUA em uma era de conflito cultural.

Nas últimas três décadas, os EUA vivenciaram uma mudança mais rápida em sua composição étnica do que em qualquer período desde a virada do século 20. Os hispânicos, que eram uma minoria minúscula, de 1 a 2% em 1960, agora formam 14% da população. Esse fluxo foi nutrido principalmente por imigrantes ilegais que atravessaram a fronteira do Sul dos EUA. Junto com os asiáticos, essa corrente reduziu a população branca americana de 90% para 70% em quatro décadas e vai empurrar para abaixo de 50% até 2050.

Períodos anteriores de ráida mudança étnica levaram a uma afirmativa grupal da maioria, mas, desta vez, a migração ocorreu durante um período de liberalismo multicultural sem precedentes, com atitudes “politicamente corretas” em questões de raça e imigração.

Parece que, proibidos de canalizar seu conservadorismo em uma direção etno-nacionalista, os pensadores conservadores americanos voltaram-se cada vez mais para temas morais e religiosos. A guerra ao terror serviu como uma cola em uma nação etnicamente descentralizada. Apesar de ter trazido dor e perda, o confronto com o islamismo político revigorou o sentido americano de missão universal, que parecia mais precário no final da Guerra Fria. Os temores de mudança étnica foram mantidos sob controle por um esforço otimista “missionário” de exportar o credo liberal democrata americano.

Na realidade, os EUA estão tão presos em um conflito cultural quanto a Europa, e sua maioria preocupa-se profundamente com a perda de sua cultura anglo-protestante e de sua predominância étnica européia. Os muçulmanos europeus são mais difíceis de integrar porque vêm de regiões mais pobres e não podem ter o status de “brancos” dos muçulmanos americanos, que alcançam uma hierarquia social definida por classes inferiores negras e hispânicas.

Jenkins faz alguns argumentos válidos: as elites americanas tentaram fazer a europeização sem seu público e nem sempre admitiram as exigências das massas. Por outro lado, o mesmo poderia ser dito para uma elite americana que favorece a globalização, cortes na previdência social e imigração em massa, apesar dos desejos da maioria americana de uma sociedade mais estável e protegida de estilo europeu.

Apesar de existirem impulsos religiosos entre os europeus, há pouco apetite para um papel público mais do que simbólico da religião. No curto prazo, é menos provável que o crescimento do islamismo renove o cristianismo, como argumenta Jenkins, do que revigore o nacionalismo secular que poderá -como na França e na Holanda- empurrar a religião mais firmemente para a esfera privada. A renovação do cristianismo na Europa está longe de garantida, mas, se acontecer, será definida mais pela demografia do que pelo despertar espiritual de uma comunidade dedicada.

Fonte: Prospect Magazine

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