“Dom Flávio Cappio pisou na bola e se desmoralizou por si próprio com sua greve de fome”. Foi esta a declaração que o Arcebispo Dom Aldo Pagotto deu em relação ao religioso baiano, que ontem encerrou uma greve de fome em protesto contra a transposição do Rio São Francisco.

“O que eu gostei mesmo foi do pronunciamento do presidente Lula, ao afirmar que a obra não paralisaria em função da chantagem de um bispo, dando tranqüilidade de que a transposição é tecnicamente perfeita e segura”, disse Dom Aldo, que na Paraíba preside o Comitê pela Transposição do Rio São Francisco.

“Tenho muita pena do bispo. E fiquei pasmo e triste com a posição e com a nota da CNBB, que ficou solidária com Dom Flávio Cappio”, declarou o arcebispo.

Dom Aldo disse também que chegou a discutir o assunto com representantes do Vaticano no Brasil, mas que o que o bispo baiano não obedeceu as determinações superiores.

“Eu cheguei a falar com o Núncio Apostólico do Vaticano no Brasil, Dom Lorenzo Baldisseri, sobre essa postura do bispo. E o Vaticano chegou a se manifestar, mas este bispo parece que não obedece ao Vaticano, mas a outros propósitos. É uma pena, porque a igreja não pode pisar na bola”, finalizou Dom Aldo.

Bispo deixa hospital e volta à cidade de Barra

O bispo de Barra, na Bahia, d. Luiz Flávio Cappio, deixou o hospital Hospital Memorial de Petrolina na madrugada deste sábado. Ele saiu do local acompanhado de um cunhado e uma irmã por volta de 4h. As infomrações são de que ele se dirige direto para a cidade de Barra.

O bispo foi internado após 24 dias de greve de fome em protesto contra o projeto de transposição das águas do rio São Francisco. Ele passou mal ao ser informado de decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que derrubou a liminar que suspendia as obras de transposição. Na quinta-feira, o médico anunciou o fim do protesto.

Ontem, o médico do religioso, Klaus Finkam, disse que os resultados dos exames laboratoriais de d. Cappio são normais. Ele estava sendo hidratado e se alimentou com um pedaço de mamão e uma sopa de legumes. À noite, o médico liberou uma torta de legumes para a janta do bispo.

Segundo Finkam, em casos de abstinência alimentar longas, a recuperação é feita gradualmente, com a introdução de alimentos sólidos. Em sua maioria, as pessoas levam um terço do período que ficaram de jejum para se recuperar. No caso do bispo, a recuperação total deve ocorre entre 7 e 8 dias.

STF foi submisso e Estado de Direito corre risco, diz bispo

Menos de 24 horas após encerrar um jejum de quase 23 dias contra o projeto de transposição de águas do rio São Francisco, o bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, 61, fez ontem duras críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao STF (Supremo Tribunal Federal). Disse que a atitude do presidente durante seu jejum foi “muito insensível” e que o STF foi “subserviente” ao Executivo ao liberar as obras.

Anteontem, Lula disse que o Estado acabaria se cedesse à greve de fome do bispo contra o projeto, orçado em mais de R$ 5 bilhões e considerado prioridade do governo. Na quarta-feira, o STF negou recurso solicitando a paralisação das obras e cassou liminar que havia suspendido o projeto. No mesmo dia, o bispo desmaiou após saber da decisão e foi internado.

“A decisão tomada pelo STF é claramente subserviente porque, embora seja leigo nas causas jurídicas, as pessoas que entendem do assunto diziam que os processos eram claríssimos, não tinha como [o STF] não olhar e dar um parecer favorável para que esta luta tivesse um reforço do Judiciário para ser levada adiante.”

Internado em um hospital de Petrolina (PE) para se recuperar dos problemas causados pela falta de alimentação, o bispo respondeu a perguntas feitas pela Folha no final da manhã de ontem, por intermédio de um sobrinho dele, que gravou as respostas.

Dom Luiz classificou o resultado do julgamento do STF como “desanimador e decepcionante”, e sugeriu que o governo domina os outros Poderes. “Isso me deixa muito preocupado porque quando um governo tem o domínio do Legislativo na mão direita e do Judiciário na mão esquerda isso coloca em xeque o Estado de Direito. Será que estamos vivendo uma nova ditadura?”, questionou.

D. Luiz disse que encerrou o jejum após ser persuadido por seu médico, familiares e assessores. Afirmou ter sido convencido de que seu recado contra o projeto estava dado.

O religioso, que já havia entrado em greve de fome pelo mesmo motivo em 2005, descartou repetir a estratégia. Disse também não acreditar mais na Justiça para paralisar as obras. “Já foi confirmado que as vias jurídicas no Brasil, infelizmente, são inócuas.”

Sobre a campanha contra a transposição, o bispo disse que irá haver um “novo esquema de combate”. “A luta continua, essa foi apenas uma etapa. Novas frentes de luta estão sendo pensadas e vão surgir.”

Ele afirmou que não teve medo de morrer durante o jejum -“Depois de tanto tempo, a gente fica espiritualmente forte e nem mesmo a morte causa medo”- e negou que o fim do protesto represente uma vitória do governo. “Nesta luta não estamos procurando derrotados ou vitoriosos.”

O ministro do STF Marco Aurélio Mello defendeu ontem os colegas que votaram contra a suspensão das obras de transposição. “Cada qual se manifestou de acordo com o seu convencimento.” Ele lamentou o resultado do julgamento, mas negou que o tribunal tenha sido “subserviente” ao governo. As obras foram liberadas por 6 votos contra 3. Ele deu um dos votos favoráveis à paralisação.

“A prova [de que não há subserviência] está no recebimento da denúncia criminal do mensalão, atingindo vários petistas”, declarou Marco Aurélio Mello.

A Folha procurou ouvir a presidente do STF, ministra Ellen Gracie, mas ela não respondeu.

Fonte: Paraíba Online, Folha Online e Terra

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