Edir Macedo e Lula na inauguração da Record News em 2007
Edir Macedo e Lula na inauguração da Record News em 2007

O bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, gravou um vídeo nesta quinta-feira (3) falando em perdoar e não ter mágoa por causa da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como presidente.

Macedo afirmou que orou pela vitória de Jair Bolsonaro (PL), mas disse que a vontade de Deus foi feita nas eleições.

“Nós oramos, eu orei: ‘eu quero que o Bolsonaro ganhe, mas seja feita a sua vontade acima de tudo’. Deus fez a vontade dele. Eu pedi pra ele fazer a vontade dele e ele fez. Graças a Deus”, disse ele.

Nesta quinta, ele disse que estava em uma reunião, quando uma mulher, em prantos, gritou em oração: “Eu perdoo você, Lula”.

O bispo falou que teve uma reflexão sobre a oração da mulher e sobre o perdão. Macedo afirmou que acredita que muitos cristãos estão magoados com Lula por causa dos supostos casos de corrupção, mas que é necessário perdoar.

“A escolha foi da maioria, que votou. Nós não podemos ficar com mágoa, porque é isso que o diabo quer. O diabo quer acabar com a sua fé, acabar com seu relacionamento com Deus por causa de Lula ou dos políticos. Não dá, bola para frente.”

“O perdão é uma atitude pensada, raciocinada. Porque se você esperar sentir no coração vontade de perdoar, você não vai perdoar nunca. O coração é indomável”, afirmou.

Edir Macedo declarou apoio à reeleição de Jair Bolsonaro ainda no primeiro turno das eleições, porém, nos bastidores do poder evangélico, a adesão da Universal à candidatura vencedora, fosse a que fosse, era favas contadas. Macedo se alinhou a todos os presidentes desde Fernando Collor, em 1989.

Publicamente, a igreja se posicionou ferozmente contra Lula e a esquerda em geral. A Folha Universal, jornal da casa, produziu editoriais em série nesse sentido. O texto publicado no domingo seguinte ao 7 de Setembro bolsonarista dizia que a esquerda podia “chorar copiosamente” à vontade, porque “as “manifestações cívicas” galvanizadas pelo presidente deixaram claro que “o líder supremo da esquerda no Brasil não terá vida fácil”.

Edir Macedo e Lula

Macedo tem um histórico de vaivéns com Lula. Em 1989, incentivou a demonização do petista, então candidato de primeira viagem.

Três anos depois, o líder evangélico em ascensão foi preso, acusado de práticas como charlatanismo. Lula foi um dos raros políticos a visitá-lo na prisão. “Se não tomarmos cuidado, daqui a pouco a polícia está na sua casa, prendendo sem critério”, disse à época.

A Universal retomou a hostilidade com ele nas campanhas seguintes, vencidas pelo tucano FHC.

Os dois se reconciliaram quando o PT entrou no Palácio do Planalto, em 2002. O então vice de Lula, José Alencar, era do PL, partido que concentrava nomes da Universal, e depois migrou para o PRB (atual Republicanos), arquitetado pela igreja em 2003.

Em 2018, Macedo a princípio optou por endossar Geraldo Alckmin. Declarou voto em Bolsonaro de última hora, quando ficou claro que o ex-governador paulista, hoje vice de Lula, não tinha chances naquele pleito.

A opção por perdoar Lula é vista como fisiológica por pares evangélicos. Após o triunfo lulista, vários pastores bolsonaristas baixaram o tom e lembraram que a Bíblia manda orar pela autoridade constituída, mas a sinalização de Macedo subiu alguns degraus nessa benevolência com o homem que até ontem era defenestrado por praticamente todas as lideranças de expressão nacional do país.

Presidente da bancada evangélica, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) diz que Macedo “só esqueceu de uma parte da Bíblia”.

“Você só pode perdoar quem reconhece o pecado e pede perdão. Ele já quer perdoar o cara que nem reconheceu que pecou?”

Sóstenes pertence à igreja do pastor Silas Malafaia, que tem lá seus atritos com Macedo. Em 2020, Malafaia acusou a Universal de fazer um “jogo estratégico nojento” ao respaldar Kassio Nunes Marques para o Supremo Tribunal Federal.

Evangélicos, na época, defendiam a nomeação de um dos seus para a cadeira, desejo atendido com a chegada de André Mendonça à corte.

Fonte: G1 e Folha de S. Paulo

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